Inovação depende de melhor formação do trabalhador, diz economista da OCDE

Priscilla Fialho, palestrante do Seminário Pelo Futuro do Trabalho, destacou urgência de capacitar força de trabalho e o alinhamento cada vez maior entre a educação profissional e as demandas do setor produtivo.

Priscilla Fialho reitera papel da educação para a modernização do país

O Brasil enfrenta grandes desafios para atravessar a transformação nos processos produtivos e se preparar para o futuro do trabalho. Segundo Priscila Fialho, economista para mercado de trabalho da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), além de dotar os trabalhadores com as competências necessárias para que se engajem num processo contínuo de aprendizado, o alinhamento cada vez maior da educação profissional às demandas das empresas será essencial para manter a indústria brasileira competitiva no cenário internacional.

“A falta de competências é um obstáculo, primeiro, à inovação, porque há mais resistências à modernização e para que o trabalhador esteja continuamente em formação”, afirmou a economista, que participou do painel As transformações no sistema produtivo e o futuro do trabalho, o primeiro do Seminário Pelo Futuro do Trabalho, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com as seis principais centrais sindicais do país – CUT, Força Sindical, UGT, CSB, Nova Central (NCST) e CTB.

Durante o evento, o diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi, também defendeu que a qualificação de pessoas é o maior desafio do Brasil neste momento de quarta revolução industrial. “O grande desafio, pela velocidade das mudanças técnicas e tecnológicas, é qualificar e requalificar pessoas. Essa é uma agenda de Estado”, afirmou, durante o painel O trabalhador do futuro e sua formação

São sociedades que conseguiram se modernizar não só no padrão tecnológico, mas sobretudo no padrão institucional. Não adianta destruir o progresso, as forças produtivas, que ele vai avançar e nos atropelar”, disse Lucchesi.

Segundo Lucchesi, o fato de países incorporarem novas tecnologias, como robôs, não significa a redução de empregos. A Coreia do Sul, citou ele, possui 631 robôs a cada 10 mil habitantes, e baixos índices de desemprego, enquanto no Brasil 12% da população estão desempregados, e o país possui apenas 10 robôs por 10 mil habitantes. Ele citou ainda os exemplos de Cingapura, Japão, Alemanha, Suécia, Estados Unidos e Dinamarca, que possuem entre 200 e 480 robôs por 10 mil habitantes. 

FOCO NA EDUCAÇÃO - Participaram também do painel sobre formação do trabalhador o economista José Claudio Linhares Pires, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e os presidentes da Força Sindical, Miguel Torres, e da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah. “A amplitude das mudanças vem impactando todas as profissões, colocando a todos desafios de difícil mensuração. Não há outra via que não seja o investimento pesado em um sistema de educação sólido e gratuito”, afirmou Torres. “As inovações e tecnologias poderão ser, no futuro, aliadas e não algozes”, complementou. 

Torres, da Força Sindical, defendeu investimentos em educação

Presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre reforçou, durante o seminário, a importância da preparação da força de trabalho em meio às discussões sobre a abertura da economia brasileira. Segundo ele, tem sido defendido por empresas e trabalhadores que esse processo seja gradual e que ocorra de forma planejada. “É preciso oferecer formação e desenvolvimento profissional de forma contínua, colar o ensino formal na educação técnica, porque quem domina o conhecimento tem vantagem”, afirmou.

POLÍTICA INDUSTRIAL – O gerente-executivo de Política Industrial da CNI, João Emílio Gonçalves, reforçou a importância de que o Brasil tenha uma agenda estruturada para a melhoria do ambiente de negócios, como estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento e medidas para que o país faça frente aos desafios da Indústria 4.0.

“A política industrial contemporânea é focada na mudança na estrutura da produção e no aumento da produtividade, pela agregação de tecnologia a produtos e processos. É isso que vai gerar oportunidades para o trabalhador do futuro. Por isso discutimos que não adianta ter apenas um investimento muito grande no trabalhador do futuro se, lá na frente, não tivermos uma indústria do futuro também”, afirmou. O presidente da CTB, Adilson Araújo, também participou do painel.

Política industrial deve habilitar o país a enfrentar os desafios da Indústria 4,0, diz Gonçalves, da CNI

No encerramento do evento, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) fez uma exposição sobre a reforma sindical e defendeu uma política industrial que contribua para fortalecimento do setor produtivo. Defendeu, ainda, a ampliação da oferta de educação profissional como forma de capacitar o trabalhador.

Segundo ele, há uma disfunção no sistema educacional, que orienta todos os estudantes para o ensino superior, sendo que apenas 18% dos jovens chegam à universidade. “Nós orientamos todo o nosso ensino formal médio para vagas que não existem e que muitos não querem por motivos diversos. Além disso, o mercado de trabalho não precisa só de gente com curso superior”, discursou.

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