Há vagas com bons salários para profissões técnicas, mas faltam trabalhadores qualificados

Segundo a pesquisa Escassez de Talentos 2015, o Brasil é o quarto país com maior dificuldade para preencher vagas de trabalho

Mesmo com a redução do número de empregos no Brasil nos últimos anos, ainda há uma grande demanda por profissionais qualificados. Segundo a pesquisa Escassez de Talentos 2015, feita pela empresa multinacional de seleção e recrutamento ManpowerGroup, o Brasil é o quarto país com maior dificuldade para preencher vagas de trabalho e os profissionais mais difíceis de encontrar são os de nível técnico.

Desde 2005, a ManpowerGroup realiza a pesquisa em 42 países com o intuito de mensurar a dificuldade de empresas em encontrar profissionais capacitados. Mesmo com o fechamento de vagas no mercado de trabalho por causa da crise econômica no Brasil, 61% das empresas relataram ter dificuldades para preencher as oportunidades abertas em 2015. O país só ficou atrás do Japão (83%), Peru (68%) e Hong Kong (65%). A média mundial foi de 38%.

Segundo pesquisa de multinacional de seleção ManpowerGroup, os profissionais mais difíceis de encontrar são os de nível técnico

Muitas das profissões técnicas têm média salarial maior do que ocupações de nível superior no país, segundo os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), de 2015. É o caso do técnico em mineração, que recebe, em média, R$ 7,3 mil. Edson Maia, supervisor de produção da Vallourec, conglomerado francês do setor de siderurgia, afirma que está no cargo graças ao curso feito no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). “O curso no SENAI me ajudou a conquistar uma posição melhor na empresa”, diz.

Outros exemplos de ocupações com altos salários são o de supervisores de manutenção eletromecânica; técnicos de produção de indústria química, petroquímica, refino de petróleo, gás e afins; supervisores de extração mineral; e técnico de apoio de pesquisa e desenvolvimento. Trabalhadores nessas funções recebem, em média, mais de R$ 5,6 mil, enquanto a média do salário de enfermeiros, nutricionistas e jornalistas não passa de R$ 4,6 mil. No entanto, mesmo com bons salários, faltam profissionais qualificados para ocupar as vagas.

A pesquisa Mapa do Trabalho Industrial 2017-2020, produzida pelo SENAI, mostra que o Brasil terá de qualificar 13 milhões de trabalhadores nos próximos quatro anos para atender a demanda da indústria. Construção (3,8 milhões), Meio Ambiente e Produção (2,4 milhões) e Metalmecânica (1,7 milhão) são as áreas que mais vão contratar profissionais qualificados. A Olimpíada do Conhecimento, realizada a cada dois anos pelo SENAI e pelo SESI, e finalizada neste domingo (13), em Brasília, tem como um de seus objetivos sensibilizar a população brasileira para a importância da educação profissional.

FOCO NO ENSINO SUPERIOR - Segundo o gerente-executivo de Educação Profissional e Tecnológica do SENAI, Felipe Morgado, a falta de profissionais de nível técnico no mercado ocorre porque o sistema educacional brasileiro está orientado apenas para o ensino superior. “O desconhecimento do jovem sobre o que é a educação profissional é um dos maiores motivos para essa falta de gente capacitada”, afirma.

No Brasil, apenas 11,1% dos estudantes fazem cursos profissionais junto com o ensino médio. Esse número não chega nem perto de outros países como Áustria (75,3%), Finlândia (70,1%) e Alemanha (48,3%). Segundo Morgado, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) foi um importante passo do governo para estimular o desenvolvimento e a ampliação dos cursos técnicos e de qualificação profissional no Brasil.

“Durante o curso técnico, o estudante aprende a teoria alinhada com a prática. Dentro do ambiente escolar, ele participa de situações reais do trabalho em empresas e indústrias; e já se depara com situações e resoluções de problemas do cotidiano da profissão”, explica Felipe Morgado. Entre 2008 e 2015, a quantidade de matrículas em cursos técnicos no Brasil cresceu 106,5%, passando de 928 mil para mais de 1,9 milhão ao ano.

IMPORTÂNCIA DO SENAI - Em 74 anos de história, o SENAI já capacitou mais de 68 milhões de pessoas. Só em 2015, foram 260 mil matrículas apenas em cursos técnicos, que têm carga horária média de 1.200 horas (1 ano e 6 meses). Os cursos técnicos mais procurados foram os de Segurança no Trabalho, Edificações, Mecânica e Eletrotécnica. O SENAI possui mais de mil unidades fixas e móveis e está presente em todos os estados e no Distrito Federal.

Formado em mecânica de automóveis pelo SENAI em 1989, o coordenador de treinamento da Volkswagen de Belo Horizonte, Keyller Cantini, diz que utiliza até hoje o que aprendeu no SENAI. “Aprendi muito sobre conceitos de moral e comprometimento”, afirma. Ele também fala sobre a qualidade do ensino da instituição. “Nas entrevistas que faço, quando um candidato fala que estudou no SENAI, ele ganha um ponto a mais” destaca Keyller.

Segundo a Pesquisa de Acompanhamento de Egressos do SENAI, feita em 2015, 94% das empresas dizem preferir contratar técnicos formados pelo SENAI. Para Felipe Morgado, este é o resultado da proximidade da instituição com o setor produtivo. “Nós estudamos qual o perfil profissional que a indústria vai necessitar nos próximos cinco anos e desenvolvemos nossos cursos com base nisso. Por isso, nosso aluno sai mais qualificado e bem preparado para desenvolver um bom trabalho dentro das empresas”, explica.

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