Cinco anos após a Rio+20, a indústria brasileira reafirma o compromisso com o desenvolvimento sustentável. Representantes do setor estão reunidos na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, nesta quarta-feira (4), para a sexta edição do CNI Sustentabilidade. O intuito é fazer um balanço dos avanços da indústria nos últimos anos em relação a aspectos de sustentabilidade social, ambiental e econômica.
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Desenvolvimento sustentável, Educação STEAM, Eficiência energética e Telemedicina
De acordo com a diretora de Relações Institucionais da CNI, Mônica Messenberg, a indústria está comprometida com o desenvolvimento sustentável. “No entanto, a transição para um novo modelo de produção deve ser apoiado por políticas públicas amplas de apoio às empresas. Entre as medidas propostas estão estímulos a investimentos em inovação e em tecnologias sustentáveis e incentivos e desoneração tributária para empresas que usem recursos naturais de maneira mais eficiente”, destaca.
No evento, foram apresentados 14 estudos setoriais que trazem experiências empresariais que contribuem para o avanço da agenda do desenvolvimento sustentável no país. A adesão cada vez maior do setor industrial aos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), é destaque nas publicações. A própria CNI é representante do setor na Comissão Nacional dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, instituída pela Presidência da República.
As iniciativas apresentadas vão da promoção do emprego e renda e da educação a ações de inovação e conservação do meio ambiente. Entre as experiências de destaque, está a criação pela Associação Brasileira da Indústria de Eletroeletrônicos (Abinee) no ano passado de um sistema coletivo de logística reversa para equipamentos eletroeletrônicos. A Green Eletron surgiu para dar maior eficiência e reduzir custos das empresas por meio do compartilhamento de infraestrutura de gerenciamento de resíduos eletroeletrônicos para atender à legislação. A iniciativa contribui para o ODS 12, que trata de produção e consumo responsáveis.
Outra iniciativa é a plataforma educativa Educação para o Desenvolvimento Sustentável de Comunidades Litorâneas, da Repsol Sinopec Brasil. A iniciativa, que atende ao ODS 4, que visa assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade para todos, oferece qualificação profissional a comunidades litorâneas do Rio de Janeiro e São Paulo. Os cursos são ministrados em uma unidade móvel equipada com computadores e kits multimídia que atendem 25 alunos por turma. Nas aulas são oferecidas palestras nas áreas de saúde e meio ambiente e cursos voltados para a comunidade pesqueira, como gestão de resíduos do mar, processamento de pescados, manutenção preventiva de motores, radioamador, pescador profissional e marinheiro auxiliar de convés e outras atividades relacionadas à atividade da pesca. Desde que foi criada, em julho de 2009, a Plataforma Educativa beneficiou 12 mil pessoas de 18 cidades.
Para incentivar a reciclagem e a reutilização de materiais, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) criou o projeto Retalho Fashion, para organizar a coleta, triagem e venda de resíduos têxteis no município de São Paulo. Além disso, a iniciativa busca criar condições socialmente justas de trabalho. Com isso, atende ao ODS 8, que visa o emprego digno e o crescimento econômico, e o ODS 12, de produção e consumo responsáveis.
ENERGIA – Já a Siemens traz soluções para eletrificação dos transportes, redes inteligentes de distribuição de energia, digitalização da indústria e da área de saúde, que contribuem o ODS 7, que prevê energia acessível e limpa. As turbinas para geração de energia a partir de biomassa e eólica ajudaram os clientes da empresa a reduzir 3 milhões de toneladas de carbono por ano. Internamente, a companhia também investe em tecnologias para reduzir as emissões. Em 2016, as operações da Siemens no Brasil reduziram 32% das emissões frente 2014.
Um projeto de mapeamento costeiro dos municípios baianos de Canavieiras, Una e Belmonte para verificar o grau de sensibilidade de cada tipo de contorno da costa a potenciais derrames de óleos foi realizado pela Queiroz Galvão Exploração e Produção. O material, que inovou ao inserir variáveis temporais, como variações de correntes, ventos dos rios, conforme as estações do ano e as horas de maré, foi disponibilizado para as comunidades locais como ferramental importante para a conservação local. A iniciativa atende a metas do ODS 9, de indústria, inovação e infraestrutura.
AVANÇOS E DESAFIOS – No Documento Nacional do Setor Industrial, a CNI destaca que, durante os últimos cinco anos, em que o país teve de enfrentar situações críticas como a escassez hídrica, constatou-se que o desafio da indústria vai além da necessidade de se adequar a uma legislação cada vez mais restritiva, mas também se preparar para a escassez e aumento dos preços dos recursos naturais utilizados como insumo. Os dois aspectos afetam o desempenho das empresas e um mercado global cada vez mais competitivo. Para ter uma ideia, a crise hídrica na Região Sudeste contribuiu para o fechamento de mais de 3 mil empregos em empresas localizadas na Bacia Piracicaba-Capivari-Jundiaí, de acordo com dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
A CNI ressalta ainda o papel central do Estado como um dos importantes indutores econômico da mudança. Prover ambiente um institucional capaz de permitir que as iniciativas do setor privado voltadas à sustentabilidade tenham viabilidade econômica é essencial. Além disso, na visão da entidade, para o avanço da agenda de sustentabilidade, é preciso ainda que seja implementado o ajuste fiscal para atração de investimentos, sobretudo, para prover a infraestrutura necessária ao desenvolvimento e à superação de gargalos sociais, como saneamento.
Entre os avanços na legislação nos últimos 5 anos está a publicação do novo Código Florestal, a ratificação do Acordo de Paris, que estabelece metas para redução das emissões de gases de efeito estufa, e a revisão do marco legal de acesso aos recursos genéticos da biodiversidade, que incentiva pesquisas e inovações de materiais da biodiversidade brasileira. Houve ainda muitos debates sobre a regulamentação do licenciamento ambiental, cujo projeto de lei está em tramitação no Congresso Nacional.
No estudo, destaca-se que a efetiva transição para padrões mais sustentáveis na produção indústria só ocorrerá quando as ações resultarem em agregação de valor para as empresas. Para isso, foram enumerados fatores regulatórios, mercadológicos e institucionais para que haja um efetivo engajamento da indústria com a sustentabilidade.
Imperativos para o engajamento da indústria com a sustentabilidade | |
Fator | Descrição |
Oportunidade de novos negócios | O rumo ao desenvolvimento sustentável demanda uma nova gama de produtos e serviços voltados à redução de emissões de poluentes, ao cumprimento de padrões e normas ambientais, ao tratamento de efluentes, à geração de energia limpa, ao aproveitamento de resíduos, entre outras tantas oportunidades. De forma concomitante, há geração de valor para empresas e para a sociedade, sendo o desempenho empresarial a chave para soluções que proporcionem ganhos de escala. |
Ganhos de competitividade e maior eficiência produtiva | A compreensão do papel desempenhado pelo capital natural nos negócios permite economizar recursos de produção, como água e energia, ou ainda aproveitar resíduos como insumos, poupando recursos e reduzindo custos. Permite ainda minimizar riscos de fornecimento, economizar na compra de insumos e ter preferência em financiamentos e acesso a tecnologias. |
Agregação de valor à marca | As indústrias que alinham a estratégia de negócios com as prioridades do desenvolvimento sustentável serão as mais prováveis de obter de seu público-alvo e das demais partes interessadas a “licença de operação” mercadológica, o que assegura a elas diferencial competitivo. Em contrapartida, indústrias que dão atenção aos aspectos referidos estarão mais expostas aos riscos relacionados à credibilidade da marca e à exposição a críticas da mídia, das organizações ambientalistas e do público em geral, capazes de afetar seu posicionamento de mercado. |
Redução dos riscos (resiliência) | A regulamentação crescente relacionada aos aspectos ambientais e climáticos tem onerado – e, por vezes, inviabilizado – empreendimentos e operações. Antecipar diretrizes, regulamentos e normas sobre exigências e condicionantes ambientais permite que as empresas reduzam o risco regulatório e, consequentemente, os custos associados. Na mesma linha, a compreensão das limitações de oferta de recursos naturais para o processo de produção permite desenhar estratégias relativas ao risco da diminuição de disponibilidade e aumento de preços desses insumos. Em ambas as situações – riscos regulatórios ou físicos – a incorporação de tais elementos na estratégia de negócios tende a ser um diferencial para as empresas mais atentas ao tema. |
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