O presidente da Federação das Indústrias do estado de Rondônia (FIERO), Marcelo Thomé de Almeida, defende a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para a região amazônica que dialogue com o bioma, com propostas que harmonizem a ciência, o desenvolvimento econômico e a proteção das riquezas naturais num processo responsável. “A região quer se preparar para o futuro, enquanto ainda lida com entraves de dois séculos atrás. É preciso ampliar o diálogo e convergir os interesses, dos planos e projetos de governo, academia, setor produtivo, instituições de funding da sociedade civil organizada para a consolidação de novas propostas e soluções adequadas para o desenvolvimento local. Este é o caminho para gerar riquezas e melhorar a qualidade de vida de mais de 24 milhões de pessoas que lá vivem”, afirmou Almeida ao abrir o primeiro painel de mais um debate do Fórum Mundial Amazônia+21, nesta quarta-feira (26), em Brasília, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A iniciativa pretende promover um diálogo permanente em torno de perspectivas e soluções para o desenvolvimento sustentável da região. O primeiro painel discutiu as Alternativas de funding para negócios e projetos de alto impacto na Amazônia e contou com a presença de Alexis Bastos, representante do Centro de Estudos da Cultura e do Meio Ambiente da Amazônia - Rioterra; Eugênio Pantoja, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam); Victor Salviati, da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Júlia Ambrosano, representante do Climante Bonds Initiative e Gabriel Azevedo, chefe da Divisão de Assuntos Ambientais, Sociais e de Governança do BID.
Transformar a imagem de que a Amazônia não é um destino de negócios e investimentos sustentáveis foi um ponto crucial da primeira discussão. Há anos, segundo os especialistas, o Brasil construiu uma imagem de proteção associada ao isolamento e isso não contribuiu para o desenvolvimento (sobretudo humano) de uma região que abriga milhões de brasileiros, muitos deles vivendo sem infraestrutura, como saneamento e energia elétrica. Para isso, é fundamental inserir o Brasil no conexto da bioeconomia, com títulos verdes, azuis, sociais, com garantias jurídicas, com transparência, que darão aos investidores internacionais a confiabilidade de dedicar recursos para o fomento da Amazônia, não apenas no Brasil mas em toda a América Latina e Caribe.
De acordo com Gabriel Azevedo (BID), o Brasil tem potencial imenso, mas sua participação nos bolsões de recursos é mínima, e os investimentos estão indo para os Estados Unidos, o Canadá, a Europa, a China. “Nosso mercado precisa de previsibilidade, regras claras, satisfação aos investidores que confiam o investimento em iniciativas que precisam corresponde às expectativas; nós ainda não conseguimos inspirar essa confiança, como país e região e mudaremos isso com governança, relação entre setores público, privado, terceiro setor, visão estratégica de longo prazo”.
Não se pode esquecer que é preciso desenvolver modelos de negócios que se adequem à dinâmica social e antropológica da região, como lembrou Salviati. A Fundação Amazônia Sustentável, por meio de projetos de bioecomia, aumentou a renda local em 202% nos últimos 10 anos, enquanto o desmatamento caiu 76%.
Cooperação internacional
As discussões no segundo painel focaram em cooperação internacional em maior escala e mecanismos de fomento. Nesse sentido, os debatedores apontaram inúmeros desafios e oportunidades relacionados ao investimento na região, como a necessidade de conectividade e logística (algo crítico especialmente durante o pico da pandemia de Covid-19), de energias limpas, de qualificação profissional e do reposicionamento de imagem do Brasil que, embora esteja empreendendo mecanismos e políticas de desenvolvimento e proteção dos biomas, também lida com inseguranças internacionais sobre a sua capacidade de conter os desmatamentos na Amazônia, algo que trava e afasta o investimento internacional.
O painel contou com a presença de Igor Calvet, presidente Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI); Ignacio Ibáñez, Embaixador da União Europeia; Morgan Doyle representante do BID no Brasil e Petrônio Cançado, diretor de crédito e garantia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Segundo bancos de fomento, como o BID e o BNDES, para deslanchar a bioeconomia, será preciso enfrentar as barreiras de regulamentação; engajar os negócios em torno de certificações de qualidade, sustentabilidade, que sejam críveis e aceitáveis para os mercados internacionais. Os projetos precisarão ser viáveis, criativos, inovadores e este é o caminho para o crédito e, consequentemente, o desenvolvimento sustentável da região.
Petrônio Cançado (BNDES) citou ainda o “risco de imagem” que alguns investidores temem ao operar na região. Há receio de interpretações equivocadas, de que podem estar mal intencionadas e isso trava os investimentos e o apoio aos projetos. Nesse sentido, é consenso entre investidores que a comunicação será essencial.
No dia 23 de setembro, o Fórum Mundial Amazônia+21 discutirá agronegócios e infraestrutura para o desenvolvimento da Amazônia, dando continuidade ao fórum permanente que acontecerá em novembro deste ano. A iniciativa é da FIERO, com apoio da CNI, da Agência de Desenvolvimento de Porto Velho, da Prefeitura Municipal de Porto Velho e da Superintendência Estadual de Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura de Rondônia.