Uma das alternativas mais promissoras para o desenvolvimento sustentável no Brasil, principalmente na Amazônia, a bioeconomia foi tema de um dos painéis do 10º Congresso Internacional de Inovação da Indústria, nesta quarta-feira (27).
Ao aliar tecnologia e inovação, a bioeconomia oferece grandes oportunidades de renda para as empresas e para as populações locais. Embora já presente na produção de vacinas, produtos de higiene, biocombustíveis e até cosméticos, esse modo de produção ainda tem muito espaço para crescer. Isso porque o Brasil:
- é detentor de 20% da biodiversidade do planeta; são 42.730 espécies vegetais distribuídas na Amazônia, no Cerrado, na Mata Atlântica, na Caatinga, no Pantanal e no Pampa
- tem características climáticas e geográficas adequadas para agricultura;
- tem um enorme patrimônio genético; e
- guarda um vasto conhecimento dos povos indígenas e tradicionais;
Os motivos que tornam a bioeconomia um bom negócio para o Brasil foram destacados pelos integrantes do painel “Bioeconomia e ativos do Brasil para promover a ecoinovação” ao longo do debate, em suas falas.
Eles apontaram, em suas argumentações, como cada um dos tópicos pode colocar o país na liderança desse modelo de negócio e fazer frente à mudança do clima e a outros desafios relacionados ao meio ambiente, à economia, à transição energética, à segurança alimentar e à saúde.
Ismael Nobre, diretor executivo do Instituto Amazônia 4.0
“A gente tem um momento único levado por essa preocupação climática de transformar a riqueza biológica da Amazônia em riqueza econômica. O potencial que essa riqueza está na biodiversidade e também no conhecimento das comunidades ancestrais e tradicionais que vivem lá. Uma riqueza que nós mal começamos a medir, mas a gente já pode começar a explorar, no bom sentido, explorar gerando as riquezas bem distribuídas, diminuindo as assimetrias."
Para exemplificar como a bioeconomia pode ajudar a diminuir as assistentes sociais, Nobre deu o exemplo do cacau. Segundo ele, o Pará é o maior produtor brasileiro do fruto e é vendido como commodity por R$10 o quilo. Já o cacau transformado em chocolate tem o potencial de subir o valor do quilo para R$200.
Roseli Mello, diretora global de pesquisa e desenvolvimento, Natura
“Nossos biomas são um mar de oportunidades. Se a gente olhar para tudo que a natureza vem resolvendo de problemas ao longo desses anos, com certeza, vai encontrar soluções para os nossos problemas."
Mello deu um exemplo de como a Natura conseguiu aliar os conhecimentos tradicionais à exploração sustentável. Contou que a empresa queria capturar o aroma da flor do Pau-brasil viva, porque, de acordo com ela, o cheiro é bem diferente depois de extraído.
Com a ajuda das comunidades, a Natura observou que as abelhas visitavam mais essas flores durante a noite e, por uma técnica, conseguiu capturar o “aroma mais pujante dessa flor em um lugar vivo, aliando diferentes saberes, inclusive os saberes das abelhas."
Luciano Coutinho, professor da Unicamp
"A extraordinária disponibilidade de recursos biológicos que o Brasil tem, a configuração brasileira de todos seus biomas e da sua agricultura trazem oportunidades extraordinárias nas quais o Brasil pode exercer um protagonismo nessa etapa do desenvolvimento em que o planeta vai precisar reinventar todos os seus processos dentro da filosofia da circularidade do recurso. Então, essa é uma grande oportunidade."
Citada na fala de Coutinho, a agricultura é uma das áreas que já estão se beneficiando desse modo de produção, mas que pode obter ainda mais resultados positivos.
A cana-de-açúcar é um exemplo do potencial que os investimentos em ciência e tecnologia podem agregar à bioeconomia. Atualmente, essa cadeia produtiva resulta em sete produtos: açúcar, etanol, rum, cachaça, pellets (combustível sólido de granulado de resíduos de bagaço de cana), eletricidade e biogás.
Entretanto, com investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), seria possível desenvolver pelo menos outras onze categorias de produtos: bioplásticos, corantes, ácidos orgânicos, aminoácidos, lubrificantes, fármacos, enzimas, fragrâncias, cosméticos, detergentes e solventes.
Adriana Machado, fundadora do Instituto Briyah
“Vivemos um momento de grande complexidade. Então, se o planeta é um sistema complexo, vivo, dinâmico, adaptativo e nós também somos, por que não fazer o uso dessa inteligência para sair dessas crises [climáticas] e tornar essas crises realmente em oportunidades?”
Bruno Quick, diretor técnico, SEBRAE Nacional
“O planeta está doente, está desequilibrado. Os sintomas são cada vez mais visíveis. Ciclones, aqui no Sul para falar do mais perto e do mais grave, por exemplo. E a gente pode seguir numa trajetória de nos adaptarmos ao problema. Ou a gente pode se ver como parte da solução para o problema. E a bioeconomia é exatamente esse espaço, essa visão, essa abordagem, essa agenda de enfrentar o problema, corrigir o problema e equilibrar a sociedade."
Pablo Cadaval Santos, diretor de P&D industrial da Suzano
O diretor de P&D industrial da Suzano, Pablo Cadaval Santos, apontou dois desafios para o Brasil alavancar a bioeconomia. Segundo ele, o país precisa:
- unir esforços no país, associando o desenvolvimento de tecnologias às empresas e às comunidades tradicionais para potencializar a riqueza dos biomas; e
- tirar mais valor das florestas tanto para as comunidades que ali vivem, quanto para as empresas.
“Entregar soluções e não somente produtos. Só que, para fazer isso, é importante trabalhar em parceria. Trabalhar com os demais setores da indústria, trabalhar com universidades nesse ambiente de inovação que temos aqui. É um grande desafio e também é uma grande oportunidade de alavancar cada vez mais os bionegócios e integrar toda essa fonte ‘bio’ com esse grande mercado demandante de produtos sustentáveis.”