SESI Lab debate o futuro do financiamento cultural em seminário de pesquisa

Evento destacou a importância de reconhecer a cultura como direito e discutir políticas estruturantes para garantir a sustentabilidade dos museus brasileiros

Nesta terça-feira (21), o SESI Lab recebeu a terceira edição do Seminário de Pesquisa, encontro anual e gratuito que reuniu especialistas, empresas, gestores e representantes do setor cultural para debater práticas e desafios dos museus brasileiros. 

Com o tema O impacto de parcerias e patrocínios nos museus, o evento trouxe à tona reflexões sobre modelos e formatos de financiamento para o setor, destacando a importância de consolidar a cultura como direito e pilar estratégico do desenvolvimento nacional. 

Reconhecer a cultura como direito é o primeiro passo 

A presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Fernanda Castro, abriu sua palestra enfatizando que buscar orçamento para o setor cultural é também reforçar a cultura como direito fundamental. Segundo ela, a consolidação e o fortalecimento dos investimentos culturais devem ser compreendidos como uma política de Estado. 

“A cultura move a economia, é parte significativa do PIB. A economia criativa é um grande motor econômico”, defendeu Fernanda. Ela explicou ainda que as políticas culturais precisam ser entendidas como investimento e que se faz necessária a criação de um Fundo Nacional de Cultura que tenha uma fonte de recursos que não seja contingenciável.  

Museus, pontuou a presidente do Ibram, são instituições sem fins lucrativos que atuam na educação, na ciência, na tecnologia e na inovação, devendo ser vistos como equipamentos essenciais para o desenvolvimento social e democrático. 

Exemplos internacionais também inspiraram as discussões, como o caso do Reino Unido, onde o Fundo do Patrimônio da Loteria Nacional (The National Lottery Heritage Fund) destina parte da arrecadação da loteria para projetos culturais e de preservação do patrimônio, o que mostra uma possibilidade de modelo de financiamento.

Lei Rouanet: recurso essencial para a cultura brasileira 

Entre os temas centrais do encontro, destacou-se a importância das leis de incentivo, especialmente a Lei Rouanet, para a sustentabilidade dos museus. A geração de receitas próprias em geral é insuficiente para cobrir as despesas das instituições que enfrentam carência de recursos humanos, materiais e dependência de captação externa. Neste cenário, as políticas públicas de incentivo à cultura atuam como atores essenciais no financiamento. 

Dados do Ministério da Cultura mostram que em 2025, até julho, 4.144 projetos culturais foram contemplados pela lei e R$ 862,6 milhões de recursos captados em renúncia fiscal. De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Lei Rouanet traz um retorno de 59% a mais do que o valor captado em projetos culturais. Isso significa que para cada R$ 1 investido em projetos culturais por meio da Lei Rouanet, R$ 1,59 retornou para a economia brasileira. 

“A Lei Rouanet não é filantropia, é uma política pública essencial de fomento à cultura”, ressaltou Paulo César Garcez Marins, diretor do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP). 

Cooperações e parcerias como solução 

Durante o seminário, a mesa “Gestão, Parcerias e Patrocínios” destacou que a sustentabilidade dos museus depende cada vez mais da cooperação entre instituições e da construção de alianças estratégicas. A ideia é fortalecer uma atuação em rede, em que diferentes agentes - públicos, privados e da sociedade civil - compartilham responsabilidades, recursos e conhecimento. 

Para Gabriela Moulin, representante do Instituto Tomie Ohtake, a sobrevivência dos museus e centros culturais passa pela capacidade de trabalhar coletivamente. “Aprendemos a reivindicar políticas públicas mais atuantes, mas agora é hora de exercitar nossa capacidade de fazer mais juntos”, afirmou. 

A cooperação foi apresentada como uma alternativa concreta diante da escassez de recursos públicos e da dificuldade de captação privada, criando soluções conjuntas para problemas diversos - da manutenção e obtenção de acervos à realização de exposições itinerantes e programas educativos.  

Ricardo Piquet, diretor-geral do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), defendeu o modelo de gestão compartilhada: “É preciso buscar todas as forças, públicas e privadas, para manter a cultura brasileira viva. Os museus precisam de recursos vindos de órgãos públicos e também ter receita própria por meio de parcerias e projetos”, afirma.  

Além da colaboração entre museus, os debatedores defenderam que as parcerias entre o setor público e privado precisam ser vistas como instrumentos de política cultural e não apenas como patrocínios pontuais. 

A mesa também ressaltou a importância de instituições de grande porte atuarem como polos de apoio técnico e formativo para museus menores, promovendo uma rede solidária e descentralizada de fomento cultural. Essa lógica, expressa na ideia de que “o grande ajuda o pequeno”, propõe um novo paradigma de sustentabilidade: fazer da cooperação o motor da permanência e da inovação cultural no Brasil.

Responsabilidade social 

Na parte da tarde, o público acompanhou uma mesa-redonda sobre investimento e responsabilidade social que reuniu representantes de empresas e do poder público. O diretor de Fomento Indireto do Ministério da Cultura, Odecir Costa, ressaltou que cultura e investimento social andam juntos. “A cultura deve ser reconhecida como um dos objetivos específicos do desenvolvimento sustentável no Brasil”, afirmou. 

“O investimento das empresas tem aumentado, refletindo uma tendência crescente. Algumas empresas optam por desenvolver programas de impacto próprios, demonstrando comprometimento ainda mais direto com as práticas sustentáveis. O fenômeno da conscientização por parte das próprias empresas contribui positivamente nas comunidades em que estão inseridas para ampliar os valores proporcionados à sociedade”, disse Costa. 

Catarina Lutero, gerente de Investimento Social da Fundação ArcelorMittal, apresentou as ações da empresa líder na produção de aço no Brasil. Segundo ela, o objetivo é gerar impacto social positivo e duradouro em comunidades de todo o Brasil, contribuindo para reduzir as desigualdades e criando oportunidades que transformam realidades. O foco é em educação STEAM, esportes de base e valorização da cultura regional e da economia criativa. 

Pela Cielo, quem apresentou as ações foi Daniel Poli, gerente de Sustentabilidade, Diversidade e Impacto Social. O propósito da companhia é simplificar e impulsionar oportunidades para todas as pessoas, potencializando negócios sustentáveis e inclusivos. 

Mediadora da mesa, a gerente de Desenvolvimento Institucional do SESI Lab, Cândida Oliveira, frisou a importância da perenidade dos incentivos aos museus. Também ressaltou o trabalho de longo prazo para ampliar o rol de empresas que fazem uso dos incentivos fiscais para apoiar projetos culturais. 

Curadoria das ações 

Representantes de três importantes museus nacionais fecharam a programação do seminário para debater como a curadoria de ações pode ser feita com parceiros e patrocinadores. 

Gabriela Aidar, da Pinacoteca de São Paulo, apresentou as ações educativas do museu paulista e seus princípios norteadores. A Pinacoteca conta com financiamento direto do governo estadual e patrocínio por meio de leis de incentivos fiscais federais, estaduais e municipais. Em relação às empresas que doam para o museu, Aidar apontou como vantagens a participação de instâncias da sociedade civil nas atividades do museu e a necessidade da instituição se abrir a processos de aprendizagem institucional. Os desafios incluem o enfraquecimento das políticas públicas de cultura e equalizar a colaboração e interferência de parceiros e patrocinadores nos processos curatoriais e educacionais. 

A gerente de Conteúdo do Museu do Amanhã (RJ), Camila Oliveira, explicou que o museu é municipal e gerido por uma Organização Social (OS), com operação sem repasse direto e modelo de sustentabilidade multicanal. Com mais de 8 milhões de visitantes desde 2015, o espaço realiza uma série de ações para atrair público, incluindo dias de gratuidade patrocinados por empresas e atividades voltadas para estudantes, vizinhos e pessoas que não costumam frequentar museus. 

Por Inhotim falou o gerente de Educação, João Paulo Andrade. Localizado em Brumadinho (MG), o museu foi inaugurado em 2006 para abrigar a coleção do seu criador, Bernardo Paz, mas passou por uma transformação recente, quando, em 2022, todo seu acervo foi transferido para o Instituto Inhotim. Isso propiciou a criação do projeto Inhotim de Todos e para Todos, que tem como objetivo fortalecer a vocação pública da instituição, seu caráter de museu vivo e seu colecionismo ativo. 

A coordenadora de Ações Educativas do SESI Lab, Luciana Conrado Martins, encerrou o 3º Seminário de Pesquisa enaltecendo o diálogo construtivo entre museus e patrocinadores. “É sempre um desafio manter a longevidade das ações dos museus e instituições culturais e garantir que sejam perenes. Isso exige processos trabalhosos e complexos, e a manutenção, a longo prazo e de forma consistente, desses processos e de seus resultados sociais, é um valor que podemos agregar aos parceiros”, disse. 

Confira mais fotos do seminário

21/10/25 Seminário de Pesquisa SESI Lab

 

 

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