As galerias do SESI Lab receberam, na última semana de outubro, centenas de mentes curiosas com um propósito: descobrir como tornar o processo de aprendizagem mais envolvente e participativo.
Essa foi a questão norteadora da segunda edição do Festival de Invenção e Criatividade (FIC) do museu. Os visitantes participaram de oficinas e rodas de conversa e conheceram trabalhos inovadores desenvolvidos em todo o país.
O evento é uma iniciativa da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC), que realizou em Brasília a 5ª Conferência Brasileira de Aprendizagem Criativa (CBAC).
Para responder à pergunta central do festival, ninguém melhor que o próprio criador do conceito de aprendizagem criativa. Mitchel Resnick é professor titular de pesquisa em aprendizagem do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ele esteve no Brasil para a CBAC e aproveitou para conhecer o SESI Lab. Autor de Jardim de Infância para a Vida Toda: Por uma Aprendizagem Criativa, Mão na Massa e Relevante para Todos, obra seminal do campo, Resnick ficou impressionado com o que viu:
A metodologia de Resnick baseia-se principalmente no construcionismo de Seymour Papert (1928-2016), também do MIT, que se inspirou nas ideias de Piaget, Paulo Freire, Montessori e outros pensadores. A aprendizagem criativa centra-se nos chamados “4 Ps”: projetos, paixão, pares e pensar brincando. A RBAC celebrou o lançamento de uma nova edição do livro Mindstorms: Crianças, Computadores e Poderosas Ideias, de Papert.
A casa da mão na massa
O SESI Lab já recebeu mais de 150 mil alunos em visitas escolares em quase três anos de funcionamento. Para o FIC, o museu disponibilizou 10 ônibus para o transporte de alunos, por meio de recursos da Lei de Incentivo à Cultura. Cerca de 400 estudantes puderam curtir o evento, tanto no turno da manhã quanto à tarde.
“Desde a criação do SESI Lab, temos essa ideia de ser um laboratório de ciência para incentivar a criatividade e a criação: não só falar de temas e fenômenos científicos, mas unir isso a um interesse em design, arte, tecnologia e como essas áreas podem andar juntas”, avalia Carolina Vilas Boas, coordenadora de Ações Culturais e Exposições do SESI Lab. “O FIC tem tudo a ver com o SESI Lab. É uma felicidade poder trazer esse movimento para cá e fomentar que essas ideias cresçam cada vez mais.”
Janine Schultz, diretora executiva da RBAC, explicou que essa abordagem educativa incentiva os estudantes a pensar fora da caixa. “Nesse processo, eles aprendem e desenvolvem conhecimentos e habilidades essenciais para o mundo de hoje, não só aqueles conhecimentos das disciplinas duras, vamos dizer assim, mas tudo aquilo que envolve pensar fora da caixa, resolver problemas que são tão essenciais para a vida nas sociedades atuais”, diz.
O que rolou no FIC
Felipe Ferraz, Henrique Holdan e João Vitor Battiferro, alunos da Escola Lourenço Castanho, em São Paulo, apresentaram projeto desenvolvido com o professor André Lozano para detectar e prevenir deslizamentos de terra em áreas de encosta. Utilizando recursos de inteligência artificial, os sensores conseguem detectar movimentos que indicam perigo de deslizamento e emitem alerta aos moradores da região.
No andar de cima, a equipe do MetaMaker, do Distrito Federal, promoveu a oficina Meta-circuitos: jornada inclusiva, baseada na aprendizagem maker, ou seja, mão na massa. Os participantes aprenderam a criar circuitos elétricos em um kit que pode ser levado para qualquer lugar. Fernando Hiacovvith, da equipe da startup, é considerado o primeiro instrutor de robótica cego do Brasil e um ávido incentivador da cultura maker. Ele destacou a parceria com o SESI Lab, que tem um Espaço Maker aberto à comunidade com equipamentos modernos e reformado recentemente.
As atividades ao longo do dia foram variadas. Teve de scape room e algoritmos a uma oficina de narrativa com bonecos. Os visitantes também puderam criar instrumentos musicais com materiais do dia a dia, como canos de PVC, e ir até o mundo da Lua para aprender matemática de uma forma divertida.
Inteligência artificial a serviço da criatividade
O Túnel do SESI Lab foi palco de uma roda de conversa que abordou o uso de inteligência artificial na educação. Participaram do evento Mitchel Resnick, professor titular de pesquisa em aprendizagem do Massachusetts Institute of Technology (MIT); Natalie Lao, diretora executiva da App Inventor Foundation; Fabiana Lorenzi, articuladora nacional da RBAC; e José Scodiero, diretor da Fundação Micro:bit para a América Latina.
Resnick criou o Scratch no MIT Media Lab. A plataforma gratuita de programação é utilizada por crianças do mundo todo e permite criar histórias, jogos e animações por meio de blocos coloridos que se encaixam, sem precisar escrever códigos, estimulando o pensamento lógico, a criatividade e o trabalho colaborativo.
O especialista apontou preocupações e oportunidades para o uso de IA na sala de aula. Entre as preocupações está reduzir as oportunidades para que as crianças sejam protagonistas e tenham controle sobre suas atividades, além de dificultar conexões humanas. Para Resnick, a IA pode apoiar projetos e a paixão das crianças, para que elas pensem brincando.
“A IA coloca muito do controle na máquina e a criança perde essa sensação. Elas precisam compartilhar suas próprias ideias, pois há prazer no processo criativo. Preocupa como IA entra na educação reforçando abordagens educacionais tradicionais num momento em que mudanças significativas são necessárias”, afirmou Resnick.
Já Natalie Lao participou da elaboração do marco referencial de competências em IA para estudantes, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). O documento busca “articular conhecimentos, habilidades e atitudes que estudantes da educação básica devem adquirir para compreender e se envolver ativamente com a IA de uma maneira segura e significativa na educação”, explicou a especialista.
O documento descreve 12 competências que abrangem três níveis: compreender, aplicar e criar. Elas são focadas em quatro dimensões:
- Mentalidade centrada no ser humano
- Ética da IA
- Técnicas e aplicações de IA
- Design de sistema de IA
A Conferência Brasileira de Aprendizagem Criativa é uma realização da RBAC em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI), por meio da Gerência de Formação em Educação; o SESI Lab; a Casa Thomas Jefferson; o Instituto Catalisador; o MIT Media Lab; a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul; e conta com o apoio do Ministério da Educação.
“Acreditamos que a aprendizagem criativa é um caminho essencial para aproximar a educação das realidades e dos interesses dos estudantes, estimulando a experimentação, a colaboração e a resolução de problemas. Estar na 5ª Conferência Brasileira de Aprendizagem Criativa reforça o compromisso do SESI em apoiar educadores e escolas na construção de práticas inovadoras e inclusivas, que ajudam a formar jovens preparados para transformar a sociedade”, afirmou o diretor superintendente do SESI, Paulo Mól.






