Líderes empresariais, gestores e especialistas em saúde e recursos humanos se reuniram em São Paulo, nesta terça-feira (23), para debater o futuro da saúde digital. O Conecta Saúde 2025 mostrou como a inovação, com o uso de dispositivos vestíveis, telemedicina e ferramentas digitais, vem transformando dados em informações estratégicas para oferecer soluções mais eficientes, personalizadas e seguras. O evento é uma realização do Movimento Empresarial pela Saúde (MES) - iniciativa do SESI em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Na abertura do encontro, o diretor superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI), Paulo Mol, reforçou a importância de colocar a saúde no centro do planejamento das ações corporativas. “Nós precisamos tratar a saúde como tema central dentro das empresas. Este é o início de um grande trabalho a partir do Movimento Empresarial pela Saúde, que traz luz para a saúde integral do trabalhador e propõe a troca de experiências para trabalharmos o tema dentro das empresas e do SESI”, disse.
O evento também chamou atenção para os desafios relacionados à saúde digital. Entre eles, a necessidade de ampliar a conectividade no país e fortalecer a cultura do autocuidado.
Pesquisa encomendada pelo SESI à Nexus e divulgada no encontro revelou que a segunda principal barreira para o uso das ferramentas digitais de saúde pela população é a dificuldade de acesso à internet. O item ficou atrás apenas da falta de confiança no atendimento online, identificado como o principal entrave.
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Confira os resultados da pesquisa:
“O que a população busca é conveniência, agilidade e facilidade de acesso. Esse é o grande valor das soluções digitais em saúde: permitir que mais pessoas sejam atendidas com qualidade”, destacou Emmanuel Lacerda, superintendente de Saúde e Segurança na Indústria.
Para o presidente do Conselho Nacional do SESI, Fausto Augusto Junior, a saúde digital vai além da tecnologia. “Quando falamos em saúde digital, não estamos tratando apenas de tecnologia, mas de linhas de cuidado, de saúde integral e de reconectar a visão da saúde como um todo”, destacou.
Expansão da telemedicina depende de confiança, cultura e educação
O painel “níveis e padrões de consumo da saúde digital da população brasileira” trouxe reflexões sobre conectividade, aceitação cultural e integração das soluções digitais ao SUS. Também apresentou exemplos práticos de tecnologias, como sistemas de interpretação automática de consultas, preenchimento de prontuários e dispositivos vestíveis.
Para Chao L. Wen, referência em telemedicina e inteligência artificial aplicada à medicina, a expansão da telemedicina no Brasil depende de confiança, cultura e educação da população. “A principal barreira no Brasil para consolidar a telessaúde é a educação. Precisamos de formação na graduação, entre os profissionais já atuantes e também para a população, no entendimento sobre a qualidade do atendimento no que chamamos de linhas figitais. Temos que moldar o diálogo e o pensamento para desenvolver a conscientização sobre essas linhas de cuidado estratégicas. Afinal, telemedicina e telessaúde não se resumem a teleatendimento”, afirmou.
Deise Garrido, professora da Faculdade de Odontologia da USP e diretora científica da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTMS), destacou a importância de ferramentas simples e acessíveis, como aplicativos de planos de saúde, e alertou para o uso equivocado do WhatsApp como canal de telemedicina.
Perspectiva internacional sobre o avanço e estigmas da tecnologia
O pesquisador sênior do Massachusetts Institute of Technology (MIT), George Westerman, apresentou uma visão internacional sobre a transformação digital em saúde. Em sua fala, desmistificou o uso da inteligência artificial, ressaltando que, embora complexa, a tecnologia pode ser altamente eficaz quando aplicada ao cuidado digital.
Ele ressaltou que o setor representa uma grande oportunidade de inovação, mas também um ecossistema desafiador, que exige maior integração entre organizações.
“Podemos ajudar os pacientes a compreender e melhorar sua saúde, mas é necessário não apenas pensar na tecnologia, e sim adaptar instituições e ecossistemas para compartilhar informações em tempo real. Assim, podemos apoiar indivíduos, organizações e a sociedade a terem vidas mais saudáveis”, explicou o pesquisador.
Ao final, Westerman elogiou a atuação do SESI. “O SESI é uma organização que admiro muito, pois promove a saúde digital de forma significativa. Participar deste evento é uma oportunidade de contribuir para o Brasil e para o mundo”, ressaltou.
Primeira edição destaca inovação digital e engajamento do público
Com alta adesão do público, que participou ativamente com perguntas e interações, o Conecta Saúde 2025 se consolidou em sua primeira edição como um espaço estratégico de debate, troca de experiências e construção de soluções para o fortalecimento da saúde no país.
“O evento mostra como as soluções digitais estão cada vez mais presentes na nossa vida e como é importante desenvolver uma cultura que as inclua no cuidado à saúde”, afirmou Vinícius Ventura, analista de benefícios Santista de Americana (SP).
O encerramento contou com a presença do maestro João Carlos Martins, da Bachiana Filarmônica (SP), que ao longo da carreira enfrentou severas limitações motoras em decorrência de doenças neurológicas e musculares, como a distonia focal. Sua trajetória evidencia como os avanços médicos e as tecnologias assistivas possibilitam a continuidade de atividades mesmo diante de adversidades, simbolizando de forma concreta o impacto da inovação aplicada à saúde.


