Cooperação, confiança e qualidade de dados são pilares para melhorar gestão da saúde

Especialistas e executivos brasileiros e estrangeiros discutiram alternativas para melhorar sistema de saúde suplementar em seminário do SESI

Para Lindsay Martin, diretora do Institute for Healthcare Improvement (IHI), o compartilhamento de dados se faz a partir de maior confiança entre todos os integrantes da cadeia de saúde

Cooperação e confiança entre todos envolvidos no sistema de saúde e integração e qualidade de dados são pilares fundamentais para melhorar a gestão do sistema de saúde suplementar no Brasil, que atende a quase um quarto da população brasileira. Essa foram os principais pontos apontados pelos especialistas e executivos brasileiros e estrangeiros que participaram dos debates do II Seminário Internacional SESI de Saúde Suplementar, promovido pelo Serviço Social da Indústria (SESI) ontem (24), em São Paulo.

De acordo com o diretor superintendente do SESI, Rafael Lucchesi, a saúde impacta diretamente na produtividade e competitividade do país. “Por isso SESI, é parceiro das empresas na discussão de melhorias no sistema de saúde para gerar um ciclo virtuoso de desenvolvimento”, destacou. Segundo ele, a qualidade da gestão se faz com informação. “É impossível pilotar um grande avião sem base de informação. Isso é desastroso”, afirmou.

Conforme o diretor de Operações do SESI, Paulo Mól, o desafio da saúde é mundial e tem impacto direto sobre a eficiência e a competitividade. “É uma questão que envolve trabalhadores motivados e produtivos e melhora os resultados das empresas.”

DADOS - Para o especialista Edilberto Amorim, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), há o desafio de integração e tratamento correto de dados para entender as necessidades dos pacientes e como melhorar a prestação de serviços de saúde. “É preciso contar com ferramentas que permitam limpar dados para que sejam analisados corretamente. Sem uma estrutura para analisar dados de forma precisa, pode-se piorar a situação das pessoas e do sistema como um todo”, alertou.

Outra vantagem da disponibilização de dados, segundo Amorim, é permitir que as pessoas gerenciem melhor a própria saúde e promover a coordenação da saúde dos indivíduos de maneira mais personalizada. Ele também defendeu o prontuário eletrônico.  “Com toda essa base de informação, conseguimos melhorar os serviços aos beneficiários e identificar quantidade significativa de procedimentos desnecessários que podem ser eliminados para reduzir custos.”

Integração e transparência de dados contribui para economias, afirma Luiz Perez

CONFIANÇA – De acordo com Lindsay Martin, diretora do Institute for Healthcare Improvement (IHI), o compartilhamento de dados se faz a partir de maior confiança entre todos os integrantes da cadeia de saúde – prestadores de serviços, operadoras, empresas e beneficiários. Segundo ela, a condução do processo de mudança do sistema de saúde suplementar precisa contar com os funcionários. “Os planos e operadoras também precisam ter acesso a essas informações para que mudemos efetivamente a forma de negociar.”

A especialista Kate Hilton, do ReThink Health, acredita que o processo de transformação do sistema é complexo e envolve um novo modelo de liderança, menos hierarquizada, mas de rede, para permitir conexão dos diversos interesses e ver as resistências, comuns em processos de mudanças, como oportunidades. “Temos de saber envolver e trabalhar em um modelo de co-produção”, comentou. 

Uma referência nesse processo de transformação ocorreu em Porto Rico, com 3 milhões de habitantes, que contou com a participação de Luis Perez, da Faro, empresa que tem o foco de construir sistema de saúde baseado em valor. Segundo ele, a trajetória de sucesso foi construída com muito esforço e falhas. “Mas aprendemos muito”, relatou.

Lá, Perez testou modelos inovadores com foco em prevenção, gestão de casos complexos e de alto custo, como diabetes do tipo 2 e artrite reumatoide. As melhorias foram baseadas em gestão integrada de saúde e mudança para pagamento por linha de cuidado. Ele revelou que em um momento do processo ficou frustrado. “É sempre melhor começar pequeno, com pilotos.”

Foram muitos meses de trabalho para criar confiança, sobretudo, com operadoras de planos de saúde. “O componente psicológico humano é mais difícil que a parte técnica. Precisamos ter certeza que operadora não pensassem que estávamos contra elas”, relatou. “Integração e transparência de dados contribui para economias. Ter isso é difícil, mas exequível. Há resistência de operadoras e hospitais compartilhar informações.”

MUDANÇA – De acordo com Rogério Scarabel, diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o órgão regulador está atento aos desafios da saúde suplementar no Brasil e destacou a importância de mudança dos prestadores de saúde para que se transformem em gestores do cuidado da saúde, com foco em prevenção de doenças. “É fundamental ainda a atuação dos contratantes e dos beneficiários nosso debates para melhoria do sistema”, acrescentou.

Segundo Karla Baeta, representante do Ministério da Saúde, o envolvimento cada vez maior das empresas nesse processo é fundamental para promover espaços de trabalho mais saudáveis e seguros. “Trabalho deve ser sinônimo de saúde”, declarou. “Pensar a saúde na sua integralidade perpassa por promoção, prevenção e entender a qualidade de vida no trabalho.”

Empresas como a P&G, Ambev, Abbvie, Novartis já estão atentas a esse cenário e focadas em melhorar constantemente sua gestão de saúde. Executivos destacaram ações de envolvimento de funcionários nesse processo de mudança e o uso de dados para investimentos mais efetivos em promoção da saúde e prevenção de doenças. “Gestão de saúde é questão de coerência. Se queremos fazer o bem fora, precisamos cuidar a partir de dentro, dos trabalhadores”, disse a presidente da P&G Brasil, Juliana Azevedo.

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