Escolas públicas, ONGs e equipes de garagem marcam presença em torneios de robótica

Em uma temporada totalmente on-line, técnicos e estudantes de 50 times são exemplos de dedicação aos torneios. Oito foram finalistas do Festival SESI de Robótica.

Equipe de garagem Osíris, de Curitiba (PR), ficou em 3º lugar na categoria Design do Robô

A temporada 2020/2021 dos torneios nacionais de robótica acabou, mas ficam as valiosas lições de um grupo que, movido pela paixão em tecnologia e educação, supera as dificuldades e, a cada ano que passa, surpreende mais com o bom desempenho. São as equipes de garagem, de Organizações não Governamentais (ONGs) e escolas públicas.

Na etapa regional do FIRST LEGO League Challenge (FLL) – modalidade para alunos de 9 a 17 anos com robôs feitos de peças de lego –, das 424 equipes inscritas, 41 eram de escolas públicas e oito de ONGs ou de garagem. Dessas, classificaram-se para o torneio nacional, dois times de escolas públicas, um de ONG e quatro de garagem.

Já na modalidade dos robôs maiores, de até 19kg, o FIRST Tech Challenge (FTC), das 35 equipes inscritas no Festival SESI de Robótica, uma é de escola pública: a Sanja Storm, da EE Prof. Alceu Maynard Araújo, em São José dos Campos (SP). O colégio já tem uma equipe na FIRST Robotics Competition (FRC), competição internacional de robôs gigantes, que chegam a 54 kg, mas essa foi a estreia no FTC. 

Encontro de gerações

Apesar da ligação com a escola, o projeto é aberto a jovens de toda a região, o que dificultou ainda mais os encontros da equipe, formada por sete integrantes. “O treinamento para fazer o robô, a elaboração do projeto, foi tudo virtual. Só na hora de montar que nos encontramos. Como era nossa estreia, tivemos que aprender as novas regras, correr atrás dos componentes, fabricar chassi. Os alunos projetaram e fabricaram o robô com apoio de patrocinadores, para corte da chapa e dobraduras, por exemplo”, conta o técnico Ricardo Akio Iamamoto.

Aos 62 anos, sendo 34 dedicados à Embraer, onde exerceu a função de engenheiro aeronáutico, Iamamoto virou voluntário do projeto há seis anos com um empurrãozinho da esposa, coordenadora pedagógica do colégio. 

Ricardo Iamamoto (à direita) é técnico voluntário do projeto de robótica da EE Prof. Alceu Maynard Araújo, em São José dos Campos (SP)

Desde então, a troca de experiências com a nova geração tem sido um aprendizado constante. Segundo o engenheiro aposentado, práticas e termos tão distantes da sala de aula, como cronograma de projeto, acompanhamento e análise de risco acabam despertando o interesse e entrando para a rotina dos estudantes.


“A gente aprende a conversar com eles. A idade pega um pouquinho, mas conseguimos instigá-los. Eles fazem uma pergunta, eu devolvo com outra, ajudo eles a pensar, a buscar soluções. Trazemos um pouco do trabalho na indústria, o processo de desenvolvimento de um produto, como tomar uma decisão. Cada um tem uma ideia e acha que é melhor, então como canalizar isso?”, reflete Iamamoto.


A missão de democratizar a robótica 

Apesar das diferenças em relação aos técnicos mais experientes, Igor dos Anjos da Silva Santos, 17 anos, teve o mesmo desafio: engajar e garantir a união dos estudantes sem as aulas presenciais. Ex-aluno do SESI em Candeias (BA), ele foi técnico destaque na competição regional da Bahia do FLL, à frente da Black Gold, equipe de garagem formada por seis integrantes, em sua maioria, colegas da Escola Estadual Ouro Negro.

“Estudei no SESI entre 2015 e 2017, lá tive meu primeiro contato com a robótica. A professora de português tinha conversado com a minha mãe que eu era muito ansioso e precisava de uma atividade para usar a criatividade”, lembra. De anjo a competidor e técnico, já são seis anos dedicados aos torneios.


“Fui para a escola pública no ensino médio e vi a necessidade de ter a robótica ali. Os alunos também precisam ter esse aprendizado. Fundamos a equipe com intuito de democratizar a robótica entre as escolas públicas do município”, explica o mais jovem técnico do FLL, Igor dos Anjos.


O SESI apadrinhou o time, doando a mesa da arena e o tapete das missões, além de maletas LEGO. O grupo também conseguiu apoio da Secretaria Estadual de Educação, que concedeu notebooks para os alunos. E a prefeitura disponibilizou a biblioteca municipal para a gravação dos vídeos submetidos à organização do torneio. Todo o esforço valeu a pena e a equipe ficou em segundo lugar no regional, classificando-se para o nacional.

Apoio para conseguir os equipamentos

Outro time que conquistou o segundo lugar no regional - neste caso, do Rio Grande do Sul (RS) - contando com a paixão de ex-competidores foi a Lobóticos. No início da temporada, três ex-alunos da Escola Municipal Heitor Villa Lobos, em Porto Alegre, que hoje estudam no 1º ano do ensino médio no Instituto Federal da Restinga (IFRS) entraram em contato com a técnica Cristiane Pelisolli Cabral, animados para competir.

O colégio tem certa tradição nos torneios, mas, neste ano, havia a dificuldade de fechar equipe. Com o incentivo dos veteranos, eles conseguiram se inscrever com três representantes do IFRS e quatro do colégio municipal. O tapete, onde o robô cumpre suas missões, também foi cedido pelo SESI. Eles contam que tiveram apenas quatro dias para montar o robô - período em que o estado saiu da bandeira preta.

Para começar e manter uma equipe nas competições, sejam elas regionais, nacionais ou internacionais, os competidores buscam diferentes formas de apoio, incluindo patrocínio de empresas e incentivos dos governos municipais e estaduais. Técnico e fundador da Doctors Machines, do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli, em Curitiba (PR), o professor de matemática Thadeu Angelo Miqueletto lembra que, no início, em 2016, eles esbarraram num problema comum aos iniciantes, o investimento.


“Mas a vontade de colocar o projeto em prática foi maior, então surgiu a ideia de montar rifa com ajuda da comunidade e pedir ajuda financeira de uma empresa particular da região, a Mili. Assim nasceu a Doctors Machines. Tudo que conquistamos foi com a ajuda da comunidade e da direção escolar”, orgulha-se o técnico Thadeu Miqueletto.


A equipe compete desde a temporada 2016/2017 e, neste ano, contou com a participação de nove integrantes. Eles também ocuparam o pódio – 2º lugar – no regional do Paraná.

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