O Festival SESI de Robótica aconteceu no último fim de semana de maio, mas segue rendendo boas histórias. Naquele sábado de competições, no dia 28, uma aluna de apenas 13 anos, a robotiquer mais nova na modalidade F1 in Schools, conquistou um feito impressionante! Maria Luiza Quijada bateu o recorde nacional de tempo de reação, fazendo 65 milésimos de segundo pela Scuderia Powershot, superando a marca anterior do aluno Geovane, da SevenSpeed (BA), de 128 milésimos de segundo.
Malu, como é carinhosamente chamada pela família e pelos colegas, é de Valinhos (SP), estuda no SESI Unidade Valinhos e esses últimos dias de maio ficarão gravados em sua memória para sempre!
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A trajetória dela na robótica começou cedo, já quando ela tinha 2 anos, e o amor pela prática foi crescendo ao longo dos anos. Em outubro de 2021, seus professores Diogo e Andressa sugeriram que ela se inscrevesse para competir na FIRST Lego League (FLL), ela foi aceita na seleção e entrou para fazer a parte de programação da equipe Aurobots.
“Desde então passei a amar ainda mais a robótica e decidi que queria fazer parte cada vez mais desse mundo e das competições”, contou Malu.
A oportunidade de competir no Festival surgiu após a saída de uma das integrantes da Scuderia Powershot, uma equipe de F1 in Schools, categoria na qual ela não tinha experiência. “Os professores me chamaram e me convidaram para fazer parte da equipe. Eu fiquei muito feliz, porque já queria fazer parte do F1 in Schools. Aceitei na hora e já assumi a função de marketing. Desde os primeiros dias, já sem perceber, tinha me apaixonado pela F1”, relatou a aluna.
Queimando a largada
Malu começou no marketing da scuderia, mas depois de alguns treinos foi escolhida para ser piloto. Apesar de nunca ter feito teste de disparo, com o disparador e na pista da competição, ela se destacou entre os demais integrantes da equipe nos testes de tempo de reação em um aplicativo para este tipo de habilidade. Seu primeiro contato com o disparador e com a pista foi somente na semana do torneio.
A primeira experiência valendo, na corrida da manhã daquele sábado, Malu fez um tempo bom, mas devido a um problema técnico o carrinho parou no meio da pista. Ela achou que tinha sido algo que ela fez errado, ficou nervosa e, no segundo disparo, ela acabou queimando a largada. Mais tarde, no entanto, as coisas aconteceram melhor que o esperado.
“É parte de um processo, embora o tempo de reação da Maria seja único, o fato de ter isso no Brasil chama atenção para o projeto aqui no país. Mostra que o projeto está vivo, que as pessoas estão ligadas, que os alunos estão participando e para nós é um orgulho enorme saber que a gente está no topo de tempo de reação, tem um recorde tropical, verde e amarelo, na Fórmula 1. Quem sabe isso estimula outros alunos também a participarem do projeto e a arriscar ser piloto. Eu acho que agora mais gente quer “brincar” de ser piloto porque a brincadeira agora é bater o tempo da Maria, ela é a campeã a ser batida. Isso é muito legal, muito orgulho para nós e é motivo de muita felicidade”, conta Waldemar Battaglia, representante da F1 in Schools Brasil.
O segredo do sucesso
“Na segunda rodada dos disparos, que foi por volta das 17h30, eu comecei a me concentrar e me fechar no meu mundo, como se não houvesse mais ninguém em volta, só eu e o carrinho”, explicou a pilota.
“Quando as luzes se apagaram, apertei o botão e fiquei esperando para ver o tempo no placar. Foi quando gritaram ‘foi recorde! Recorde nacional!” Eu olhei em choque, não tinha percebido o que tinha acontecido, minha ficha não tinha caído. Então, eu me virei e o restante da equipe estava em pé e comemorando.”
“Quando a minha ficha caiu senti uma sensação de surpresa, mas ao mesmo tempo uma felicidade imensa por ter conseguido esse feito e conseguir atingir muito mais que a expectativa de todos. Foi muita emoção, choro, abraços, risos… uma emoção que eu nunca tinha sentido na vida. Já era um sonho estar ali competindo, mas conseguir o recorde em nossa primeira competição, sendo mais jovem no torneio, foi muito além do que podíamos imaginar”, lembrou a recordista.
“Foi um momento mágico, que todo mundo parou, aplaudiu, algumas colegas dela de equipe começaram a chorar e foi muito marcante para todo mundo, principalmente para a Maria, isso que é a parte mais legal”, lembrou Waldemar.
“Puxou do pai”
Rebeca é mãe de Malu e da sua irmã gêmea, Ana Beatriz. Ela esbanja orgulho das filhas que estão brilhando na robótica e diz que a rapidez da Malu foi herdada do pai, João Luiz, que também estaria muito orgulhoso, segundo ela. “Ele morreu há um ano e meio. Descobriu um câncer no pulmão com apenas 41 anos e faleceu com 44. A robótica tem ajudado elas a superar tudo que passamos”, relatou Rebeca.
“Eu acho importante destacar que a robótica não ajuda só na parte do desenvolvimento técnico, mas ajuda demais no emocional, como o SESI chama, as soft skils”, ressalta a mãe. “Depois que elas entraram para as equipes de robótica, logo após o retorno presencial, a vida delas mudou. Elas se sentiram motivadas, focadas nos estudos e nas pesquisas. Formaram um novo ciclo de amizade com os companheiros de equipe, além da melhora no desenvolvimento escolar. Elas sempre foram ótimas alunas, mas a robótica ofereceu melhora em vários aspectos no aprendizado em sala de aula também.”
Bia, como é chamada na família, faz parte da Aurobots e ela contou que “estava meio depressiva até por ficar tanto tempo em casa na pandemia”. “Tudo mudou e eu estou conseguindo superar tudo. Sou muito mais feliz hoje e já vejo outras possibilidades para minha formação que antes eu não pensava.”
“Eu sofri muito com a morte do meu pai e por ficar em casa sem meus amigos na pandemia”, desabafou Malu. “Quando voltamos para o presencial, logo entramos pra equipe de robótica e eu fiquei muito feliz. A robótica está me ajudando a superar minhas dificuldades, lidar com os desafios e estar sempre aprendendo algo novo.”
Futuro na robótica
Apesar das primeiras experiências da Malu com a robótica terem sido com a FLL, a estudante revelou que pretende continuar na F1 in Schools e que vai participar da Olimpíada Brasileira de Robótica deste ano. “Existe uma possibilidade de eu integrar uma equipe para o projeto de construção de um foguete”, adiantou Maria.