Gritos de guerra em 22 idiomas, mas com uma mesma intenção: robótica! O Festival Internacional SESI de Robótica começou nesta sexta-feira (5) e vai até domingo (7). No Píer Mauá, 990 jovens de 38 países vibram em clima de muita animação, com um espaço cercado de robôs, cultura e tecnologia. No evento, há duas categorias: First LEGO League Challenge (FLL), com robôs LEGO semiautônomos, e First Robotic Competition (FRC), com robôs de porte industrial de até 55kg e 1,5 metro de altura.
No primeiro dia, os estudantes montara pits - estandes que as equipes decoram com seus projetos e cores da equipe -, se prepararam para as avaliações de sala e as partidas de treino. No FRC, rolou inspeção dos robôs para conferir as exigências do manual e continuar os ajustes dos pits, que começaram ontem (4).
Muito além dos robôs, a robótica é ação social!
O estudante Matheus Aires Amorim, 18 anos, designer CAD da equipe Infinity (GO), entrou na robótica com 15 anos, na categoria FLL. Ao longo do processo, ele passou pela First Tech Competion (FTC) na equipe Geartech Canaã e, agora, toca novos desafios no FRC. Para ele, a passagem por cada categoria é quase uma graduação, em que os níveis de exigências vão sempre aumentando!
“O que mais muda no FRC, pra mim, são os projetos sociais. A gente precisa realmente se envolver com a comunidade e continuar com aquele projeto por meses, até anos. Nossa equipe, por exemplo, tá junto com a ONG Robótica sem Fronteiras, que leva a robótica para países e lugares com menos acesso”, contou Matheus.
Matheus está no último ano como competidor da equipe. O próximo passo é se tornar um mentor da equipe, assim como seu colega João Melo, 18 anos, que, além de cursar Análise de Desenvolvimento de Sistemas, é estagiário do SESI Canaã e mentor. “É ruim quando uma pessoa da equipe sai, porque cada um tem uma função e fica um déficit. Por isso, quero continuar ensinando os novos alunos que chagarem a usarem o CAD e a programar”, explicou o veterano Matheus.
Como visitar 37 países em três dias?
Diretamente de Israel, a equipe Infinite Rechargers, de Sakhnin, pequena cidade a 120 de Tel Aviv, capital do país, chegou com muita animação. A capitã, Yareen Abuyunis, 16 anos, contou que a equipe está junta há 4 anos e coleciona uma história com grandes conquista e prêmios. Ano passado, por exemplo, eles venceram o FIRST LEGO LEAGUE Open International Greece. Agora, no Brasil, para trazer um pouco do gostinho de Israel, o pit traz diversas referências ao país natal e também doces típicos de Israel para distribuir entre equipes e participantes do festival.
“A melhor parte é poder ter essa troca. Amo conhecer as equipes e um pouco de cada país. A gente descobre tanta coisa nova e consegue mostrar um pouco de Israel para eles. A robótica é algo que abre muitas portas nas nossas vidas, já conhecemos vários lugares diferentes. Estamos felizes em estar aqui e poder viver esse evento”, contou Yareen.
De longe, a melhor parte de qualquer internacional é poder visitar culturas diferentes em poucos dias de evento. As irmãs Julia e Beatriz Manso, de 13 e 15 anos, estreiam na equipe Lego Bros, do SESI de São Gonçalo do Sapucaí (MG).
“Tá sendo uma coisa surreal, estou muito animada de poder conversar com as equipes estrangeiras. O inglês não tem sido um problema e, além da cultura, na robótica falamos uma mesma língua. Por isso, conseguimos nos conectar tanto com as equipes.”, contou Julia.
Como fazer parte do mundo da robótica?
O que parece ser uma grande competição também cria laços inseparáveis. União e apoio são lemas dos torneios. Pensando nisso, a equipe Megazord, do SESI-SENAI Jundiá (SP), criou a “FIRST BRASIL”, uma rede no Discord para a troca entre as equipes brasileiras de robótica.
O que já existia no exterior, na categoria do FRC, para as equipes internacionais, agora também existe no Brasil, com equipes de FRC, FLL, FTC e F1 in Schools. A rede foi criada há duas semanas e já conta com 100 participantes. Ela é aberta a qualquer um, seja quem está começando uma equipe e precisa de ajuda, ou curiosos de plantão. Para acessar é supersimples, apenas clicar no link da First Brasil.
A mudança só começa com uma atitude!
A equipe TecRobot, de São Leopoldo (RS), tem o projeto Além das Engrenagens, que é uma parceria com empresas e entidades sociais da região do Vale dos Sinos, na grande Porto Alegre, e tem como objetivo principal estabelecer conexões. E isto já foi feito de muitas formas.
Com os valores da FIRST, os gaúchos desenvolvem campanhas e projetos que causam impacto social, propondo o ideal do trabalho coletivo e o engajamento da comunidade escolar para trabalhar conceitos relacionados a causas sociais, tecnológicas e ambientais.
A TecRobot já realizou campanha de arrecadação de roupas de frio, tampinhas, cobertores e embalagens, e de distribuição de brinquedos e livros para crianças, além de oficina para crianças e adolescentes de 10 a 15 anos.
"Como está no nome, a intenção é mostrar que a robótica vai muito além dos robôs, do maquinário. Nós queremos mostrar a questão social que está por trás e usar a robótica como um meio de impactar na vida das pessoas", comentou Livia Vantzing, aluna da equipe.
You go, girl! - Vai, garota!
Com menos de um ano de existência, a equipe de FLL Dikaion, de Piraquara (PR), desembarcou no primeiro torneio internacional. A equipe faz parte da Associação Beneficente Dikaion, uma ONG que dá suporte a crianças e adolescentes carentes. "A Dikaion surgiu depois de a gente ganhar o edital Estrogênias: Meninas Ciências, que era obrigatório ter só meninas na equipe", explicou a aluna Maria Eduarda Lima, de 13 anos.
Este detalhe é algo que marca bastante na equipe paranaense. Ela é composta apenas por meninas, de 11 a 16 anos, tendo homens apenas como mentores e técnicos. "Somos uma equipe nova e já estamos no internacional. É o nosso primeiro ano competindo. A gente está muito feliz", celebrou Eduarda, uma das lançadoras da equipe. "Espero gabaritar a mesa", revelou, sorridente.
Tente sair da robótica, tente...
A robótica é um universo apaixonante, por isso é comum que os alunos continuem nas equipes, depois de formados, como mentores ou técnicos. Contamos mais sobre isso em uma reportagem sobre ciclo da robótica. Mas, se você achava que isso era só no Brasil, está enganado. O técnico da GSG Robots, da Alemanha, é a prova viva que sair da robótica é quase impossível!
“Fazer parte da robótica foi a melhor decisão da minha vida, comecei como competidor e foi onde encontrei o que queria fazer. Hoje, sou estudante de Ciências da Computação por conta da robótica. Acredito que os garotos vão se encontrando em áreas que nem imaginavam. Na robótica, você vê que os alunos não aprendem por obrigação, mas porque amam o que estão fazendo e, principalmente, estão se divertindo.", Anton Geburek, 20 anos, técnico júnior da GSB Robots, Ludwigshaten am Rhein, Alemanha.