Há um ano, em agosto de 2020, a nova temporada do torneio de robótica representava um grande ponto de interrogação para seus organizadores. Naquele momento, acreditava-se que o fim da pandemia de Covid-19 estava próximo e que talvez fosse possível retornar aos tradicionais eventos presenciais repletos de abraços, muita diversão e troca de conhecimento.
Meses depois, a vacina não veio e os números da pandemia pioraram. O Serviço Social da Indústria (SESI) decidiu, então, que a temporada 2020/2021 dos torneios FIRST LEGO League Challenge (FLL), FIRST Tech Challenge (FTC) e F1 in Schools no Brasil seria realizada remotamente pela primeira vez em nove anos.
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A plataforma da FIRST, entidade estadunidense responsável por duas das três disputas do Festival SESI, só foi liberada para testes entre dezembro e janeiro. “Todos nós, da organização, suboperadores e competidores, aprendemos juntos como mexer na ferramenta”, conta Luciana Baroni, especialista do SESI e coordenadora da disputa FTC.
Outro fator importante com o qual os organizadores tiveram de lidar foi a falta de motivação das equipes. Afinal, a interação sempre foi a principal marca da robótica. O estado que estreou o formato remoto foi Santa Catarina, que tentou manter a experiência da vivência no online. "Usamos a estratégia de fazer um 'programa de TV' com desafios e interações ao vivo no chat e alguns conteúdos gravados com depoimento de ex-competidores, técnicos e juízes, mas não foi fácil", conta Estela de Sá, do SESI/SC.
O Festival SESI de Robótica reuniu mais de 800 competidores divididos em 138 equipes nas três disputas, além de 125 juízes voluntários.
Um evento remoto dessa magnitude exige paciência devido aos bugs em algumas ferramentas, instabilidade de internet de muitos competidores e também vídeos em baixa qualidade, o que causou algumas frustrações.
“Em um determinado momento, houve queda de energia em toda uma cidade do interior de São Paulo que “tirou do ar” duas equipes que participavam do F1 in Schools de lá. Conseguimos realocá-las no fim do dia e deu tudo certo”, relata Jane Nóbrega, analista do SESI e coordenadora do F1 in Schools.
173 horas de vídeos na FLL
Na FIRST LEGO League, estudantes de 9 a 16 anos têm que desenvolver um projeto inovador, projetar e programar um robô feito de Lego e, ainda, participar de rounds com execução de tarefas pelo robô. Esse momento, presencial, é um dos mais emocionantes, porque as equipes ficam ali, uma ao lado da outra, vibrando, torcendo a favor – ou contra – com direito a gritos de guerra, muita expectativa e lágrimas. Levar essa experiência para o mundo virtual foi um desafio.
Para garantir as mesmas oportunidades a todas as equipes, os rounds com os robô passaram pela chamada dupla checagem: a organização definia uma hora em que as equipes deveriam realizar os quatro rounds a que tinham direito e, dentro do intervalo estipulado, tinham que usar dois celulares: um para gravar e enviar o vídeo com explicação das tarefas para a plataforma da disputa e outro para realizar uma transmissão ao vivo daquele round.
As equipes de FLL também tiveram que gravar vídeos apresentando o projeto de pesquisa. Assim, considerando as etapas regionais e o nacional, os juízes receberam mais de 173 horas de vídeos enviados pelas equipes.
“Ficamos muito felizes porque conseguimos adotar um formato que possibilitou a realização do festival e, com ele, seguir incentivando o ensino da robótica no Brasil, que tanto amplia o interesse dos nossos jovens por áreas como ciências, matemática e tecnologia”, destaca o diretor de Operações do SESI, Paulo Mól.
Em toda a temporada da FLL, mais de 450 juízes voluntários participaram. “Eles dedicaram dias para analisar, de suas casas, sentados em frente ao computador, o desempenho das equipes”, conta Marcos Sousa, também do Departamento Nacional do SESI e coordenador da FLL. Como agradecimento, o SESI ofereceu um voucher com refeição cortesia para os avaliadores, que tiveram que trabalhar inclusive no “dia dos namorados”. Recebemos feedbacks bastante positivos dessa iniciativa, inclusive de alguns casais de juízes que ‘celebraram’ juntos o dia 12 de junho”, conta Marcos.
Na FIRST Tech Challenge, em que jovens de 14 a 18 anos participam, 35 times competiram. “Foi um grande aprendizado. Dificilmente vamos fazer um torneio presencial como era antes, pois vimos que é necessário incrementar muitas das coisas que funcionaram no remoto, como as transmissões ao vivo e as narrações dos rounds ou jogos, no caso do FTC. As próximas edições serão híbridas”, antecipa Luciana Baroni.
F1 in Schools
Na categoria mais veloz do festival, além da gravação de vídeos e reuniões por videochamadas com juízes, uma das grandes novidades foi a automatização da largada dos carrinhos projetados pelos estudantes. Se na versão presencial cada equipe era responsável por acionar seu disparo na pista de corrida, em tempos de pandemia, o SESI adquiriu a mesma pista utilizada em um mundial de F1 realizado semanas antes na Inglaterra, na qual o disparo é automático. Assim, todas as equipes tiveram de enviar os carrinhos para Brasília.
Outra inovação desta edição foram as mentorias feitas com cada uma das 31 equipes participantes da competição. “Foi uma das formas que encontramos de tirar dúvidas e também de tentar engajar os alunos”, explica Jane Nóbrega, responsável por essa categoria.
Os vencedores foram anunciados em 26 de junho de 2021 em uma cerimônia realizada na sede do SESI Nacional, em Brasília (DF), e acompanhada virtualmente por mais de 20 mil pessoas ao vivo. O que fica são as lições para fazermos, em 2022, uma edição presencial ainda melhor que a dos anos anteriores, afirmam, em uníssono, os organizadores desta temporada.