Já pensou como roupas são tingidas?

De 400 plantas tintoriais e plasma em vez de água: podcast debate inovação e sustentabilidade no tingimento de tecidos

Você já pensou em como roupas são tingidas? Quanto de água é usado? Se os processos mudam de acordo com os tecidos ou com a cor? Qual a origem dos corantes? Há milênios os humanos usam plantas, minerais e matéria-prima animal para extrair pigmentos. Se por um lado, a necessidade de uma produção mais sustentável tem impulsionado o uso de corantes naturais, por outro também tem motivado pesquisadores nos processos de inovação.

O Já Pensou, produção da Agência de Notícias da Indústria, conversou com a Maibe Maroccolo, fundadora do Ateliê Mattricaria e com o Raphael Bergamini, pesquisador do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos, sobre o assunto. [Assista o vídeo logo mais]

Formada em moda, a Maibe deixou a indústria têxtil para se dedicar à pesquisa de formas sustentáveis de produção nessa área. Depois de um mestrado em desenvolvimento sustentável pela University of Arts London, ela fundou o ateliê e já catalogou cerca de 400 plantas tintoriais.

A afinidade com as cores começou na infância, vendo a cor da beterraba cortada na cozinha ou a mãe usando casca de cebola em uma misturinha para acobrear o cabelo no Sol.  “A minha avó tinha um jardim medicinal, que ela sempre chamou de farmacinha, então a gente cresceu com esse contato com as plantas, principalmente em formato de chá”, conta.

Cada planta requer processos particulares, desde a forma como a extração do pigmento é feita até a alquimia dos elementos. Do barbatimão, por exemplo, dá pra extrair pigmento tanto do tronco quanto das folhas. Já pigmentos com mais tanino - encontrados na casca de romã e na casca de cajueiro - reagem menos ao tempo e à exposição à luz e podem ser misturados com outros de menor solidez. 

“Quando eu entro em contato com alguma espécie que eu não conheço eu trago para o atelier, a gente faz uma extração dela tanto fresca quanto desidratada, faz o teste em tingimento têxtil em diferentes fibras - porque às vezes um corante vai te dar uma cor diferente quando você tinge no algodão ou numa seda. De uma tricoline para um linho você tem nuances diferentes, então a gente acaba fazendo testes em pequenos retalhos de tecido para ver o potencial”, explica Maibe.

O resultado depende ainda de vários outros fatores. Se o tingimento é feito com aproveitamento da água da chuva, que é mais alcalina, a cor pode ficar mais vibrante. Uma planta cultivada no Cerrado vai ser diferente da mesma espécie que cresceu no Rio Grande do Sul, por exemplo. “O PH daquele solo, o manejo, o que foi utilizado durante a vida dessa planta, também impacta”, explica a pesquisadora. 

Como é feito o tingimento têxtil na indústria?

A criação do primeiro corante sintético, em 1856, pelo químico William Henry Perkin, foi o pontapé para a multiplicação do número de cores. No século XVII, havia entre 80 a 120 cores catalogadas. Esse número saltou para duas mil no início do século XX, após a Revolução Industrial e está em 10 mil atualmente.

De lá pra cá, foram muitas as inovações na indústria têxtil. Um dos principais avanços é na redução do uso de água. A relação de banho já foi entre 20 a 40 litros de água para cada quilo de tecido. “Hoje em dia essa relação de banho diminuiu drasticamente. A gente consegue fazer tingimentos um para quatro, um para dois”, conta Raphael Bergamini, do ISI em Biossintéticos.

Neste podcast você vai encontrar:

  • 00:00 - ABERTURA
  • 00:58 - A pesquisa das plantas tintoriais
  • 02:00 - Como faz para tingir uma roupa?
  • 03:16 - Tingimento com tecidos sintéticos
  • 04:28 - Cores mais difíceis de trabalhar
  • 06:01 - Descoberta de novos corantes
  • 10:34 - Consumo e produção sustentável e uso de água
  • 13:40 - Plasma no tingimento de tecidos
  • 15:35 - O futuro do tingimento de roupas
  • 18:30 - ENCERRAMENTO

Para saber mais sobre os Institutos SENAI de Inovação, acesse a série especial Um Mundo de Possibilidades, com cinco episódios sobre a rede de pesquisa aplicada, transformação digital, saúde, bioeconomia e descarbonização.

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