Congresso da ABPI discute relação entre jornalismo e direito autoral

XXXIII Congresso da Associação Brasileira de Propriedade Intelectual reuniu especialistas do direito e jornalistas no Rio de Janeiro

Jeff Bezos, dono do Amazon, comprou o jornal Washington Post por US$250 milhões. Já o New York Times conseguiu um lucro de US$20 milhões no último trimestre e aumentou em 35% seu volume de assinantes. Em tempos de crise nos modelos de negócio da imprensa, como garantir a sobrevivência dos veículos e resolver a equação que envolve o jornalismo online,  os leitores que almejam a gratuidade e a questão dos direitos autorais? Para tentar responder essa pergunta, o XXXIII Congresso da ABPI – Associação Brasileira de Propriedade Intelectual reuniu especialistas do direito e jornalistas no último dia do evento, que acontece hoje (20) no Rio de Janeiro.

Para Roberto Feith, jornalista experiente que atualmente é vice-presidente do SNEL - Sindicato Nacional dos Editores de Livros, o proprietário da Amazon não fez um mau negócio: “Ele comprou uma marca forte, 400 mil assinantes, credibilidade, talento jornalístico, uma estrutura de distribuição de conteúdo que pode crescer on-line”. Segundo o comunicador, por trás de cada característica citada, está por trás a noção de que informação jornalística de qualidade continua tendo valor. “Esse comprador acredita na longevidade do direito autoral on-line”, defendeu Roberto.

Enquanto o debate sobre o jornalismo on-line sempre se insere numa discussão mais ampla, sobre a liberdade de acesso à informação na internet, para Roberto Feith o verdadeiro conflito é entre os produtores de conteúdo e as empresas digitais que querem distribui-lo de graça. “Distribuir informação de graça virou o melhor lugar do planeta. Google e outros buscadores reúnem informações de vários veículos, ganham com elas e não pagam nada por isso”, afirmou o jornalista.

Roberto acredita que se as empresas não forem capazes de remunerar sua equipe, o conteúdo de qualidade vai acabar. “Informação vale e custa. E a internet só é tão boa quanto aquilo que oferece”, concluiu.

Um novo modelo de negócio?
Para Fernando Rodrigues, jornalista da Folha de S. Paulo,  “sempre houve uma certa pirataria” no jornalismo, mas como a chegada da internet isso tomou uma proporção catastrófica. O colunista falou sobre os processos de copyright que a Folha já enfrentou e ganhou na justiça contra outros jornais, políticos, a EBC – Empresa Brasil de Comunicação e até o jornalista Ricardo Noblat, autor do Blog do Noblat.

Atualmente, a Folha de S. Paulo adota a prática do paywall como modelo de negócio, em que o leitor pode acessar gratuitamente o conteúdo do site do jornal até o 10º clique, depois é convidado a se cadastrar e posteriormente a assinar o conteúdo. “Nossa audiência não caiu um ano após a implementação do paywall e as pesquisas apontam que muita gente está disposta a pagar com conteúdo no futuro. Assim vamos poder garantir a sustentação da produção do conteúdo jornalístico de qualidade”, afirmou Fernando Rodrigues.

Helder Galvão, presidente da comissão de direitos autorais da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, lamenta que a propriedade intelectual esteja “sempre em estado de sítio”, a exemplo da críticas que o tema sofreu durante as manifestações que aconteceram recentemente no Brasil. “A desregulamentação só favorece a relação assimétrica entre contratante e contratado”, disse o advogado.

O Congresso Internacional de Propriedade Intelectual da ABPI  é o maior evento sobre propriedade intelectual da América Latina. Confira a cobertura das plenárias e debates da 33ª edição no site da entidade e no canal de propriedade intelectual da CNI.

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