Fim do acordo marítimo com Chile beneficia economia brasileira, diz CNI

Medida em vigor desde a década de 1970 penaliza o comércio bilateral ao limitar a competição na oferta de navios. Intenção do acordo era estimular indústra naval, mas estudo da CNI mostra que nenhuma das embarcações que opera na rota foi construída em um dos dois países

O Acordo de Transporte Marítimo Brasil-Chile e seus 42 anos de entrave à competitividade brasileira e chilena devem ter um fim nesta terça-feira (25), durante reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex) do governo federal. Esta é a expectativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e das mais de 3,6 mil empresas exportadoras e quase 1,2 mil importadores nacionais, prejudicados diariamente pelo acordo.

Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que o frete cobrado das empresas na rota Brasil-Chile Chile-Brasil é 45% mais caro devido ao monopólio que o tratado de exclusividade entre os dois países criou na rota. O próprio governo, por meio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), calcula que o preço final dos produtos é, em média, 4,92% superior. “Não há nenhuma justificativa econômica para se manter esse acordo em vigor”, diz o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.

Além de ser prejudicial ao comércio, a CNI explica que o acordo não cumpriu seu único objetivo que era de estimular a indústria naval dos países. Levantamento da indústria, a partir de navios que operam na frota, mostra que nenhuma das embarcações foi construída no Brasil ou no Chile. Foram construídos em estaleiros na China, Coreia do Sul, Japão, Croácia e Filipinas. 

O acordo prevê que só empresas de bandeira brasileira ou chilena podem operar na frota. Mas o comércio está restrito a duas empresas e, pelo menos outros seis armadores com interesses em transportar mercadorias entre dois países, estão proibidos de operar. Do ponto de vista brasileiro, o acordo é ainda mais nocivo, já que, nos últimos anos, a participação da bandeira nacional no comércio só ocorreu em 15% dos casos, ficando 85% do tráfego em mãos da bandeira chilena.

ACORDO BRASIL-CHILE – Nas décadas de 1960 e 1970, os países assinavam esses acordos baseados na reserva de carga para armadores domésticos, para promover e ampliar as marinhas mercantes nacionais. No entanto, as profundas transformações no mercado de navegação decorrentes do processo de conteinerização, concentração e fusão de empresas, levaram a grande maioria dos países – inclusive o Brasil – a abandonar ou flexibilizar o uso desse tipo de instrumento. 

“A manutenção do acordo baseado em políticas ultrapassadas vem gerando crescente insatisfação dos usuários, que são obrigados a conviver com valores elevados de frete, baixa frequência e conectividade das rotas e pouca flexibilidade da oferta para atender a cargas com diferentes características”, diz Abijaodi. 

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