O 39º Encontro Econômico Brasil-Alemanha, realizado em Belo Horizonte (MG), nesta segunda-feira (13), teve questões climáticas, transformação digital e desafios geopolíticos como temas centrais dos painéis realizados com representantes do setor industrial brasileiro e alemão, do governo e de empresas.
A partir de experiências compartilhadas tanto do lado alemão quanto do brasileiro, os participantes discutiram os desafios impostos pelas mudanças e pela desorganização das cadeias globais de suprimentos e destacaram a importância da implementação de políticas públicas adequadas que viabilizem ações concretas para o avanço em relação às agendas.
Sustentabilidade e Descarbonização Industrial
A posição privilegiada do Brasil em relação ao avanço de práticas sustentáveis foi um dos destaques no painel, considerado de extrema importância para que os países discutam a cooperação estratégica. De um lado, o cenário brasileiro é promissor no que diz respeito às energias limpas e à bioeconomia, e há diversas oportunidades para que o território brasileiro forneça serviços e produtos sustentáveis que auxiliem na descarbonização da economia alemã. De outro, a Alemanha já desenvolve e investe em tecnologia de inovação para a descarbonização.
O painel contou com a participação da diretora global de Relações Corporativas da Suzano, Mariana Lisbôa; do gerente executivo de Mudanças Climáticas da Vale, Rodrigo Lauria; do presidente da Henkel na América Latina, André Barón; e da diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade da BASF para América do Sul, Cristiana Xavier.
Transição energética
Diversos fatores que impulsionam a transformação, como as tecnologias aprimoradas, os custos de energia renovável e a pressão social em direção à sustentabilidade, foram destaque nas discussões. A transição energética também busca reduzir emissões de gás de efeito estufa, por meio de várias formas de descarbonização, e à medida que os custos continuam caindo e as energias eólicas e solar se tornam comuns, o setor de energia renovável segue crescendo e se tornando uma possibilidade atraente de investimento.
Na relação Brasil-Alemanha, foi destacado o leque de oportunidades de cooperação empresarial que se abre a partir da aproximação das economias, uma vez que poucos países têm uma matriz energética tão limpa quanto o Brasil. Além disso, destacou-se que como meio de armazenar e transportar energia renovável, o hidrogênio verde é considerado uma tecnologia chave na transição para energia renovável.
Participaram do painel o CEO e presidente da BSBIOS, Erasmo Carlos Battistella; a vice-presidente de Estratégia, M&A e Sustentabilidade da Raízen, Paula Kovarsky; o diretor -executivo da Unigel, Luiz Fustaino; o presidente da Waelzholz, Ing. Hans-Toni Junius; o diretor de Relações Governamentais da Siemens Energy América Latina, Henrique Paiva; e o CEO da Thyssenkrupp Brasil, Paulo Alvarenga.
Digitalização
Um pensamento em comum entre os integrantes do painel é que a transformação digital está passando muito rápido, principalmente em decorrência de acontecimentos de grande impacto nos últimos anos, como o conflito na Ucrânia e a pandemia de Covid-19. Diante da mudança e do impacto no cenário profissional a partir do avanço da Inteligência Artificial, onde alguns profissionais deixarão de existir e novas profissões serão criadas, o destaque foi para a necessidade de se trabalhar tanto pela tecnologia como pela capacitação.
É preciso preparar os jovens para que desenvolvam habilidades digitais e estejam aptos para as profissões do futuro, assim como é necessário investir na capacitação dos profissionais que já atuam no mercado. As medidas, contudo, precisam de cooperação das empresas e do governo.
As discussões do painel contaram com a participação da representante da SAP SE, Sabine Bendiek; do gerente-executivo de Transformação Digital e Inovação da Tupy e diretor da ABII, Daniel Moraes; do diretor de Produtos da TOTVS, Eduardo Pires; e do CEO Brazil da Siemens, Pablo Roberto Fava.
Desafios geopolíticos
Após as discussões dos desafios provocados pelas mudanças climáticas, pela revolução digital e pela reorganização das cadeias de suprimento, representantes das indústrias brasileira e alemã e do interesse econômico da América Latina debateram sobre o grande impacto das alterações geopolíticas na economia global, e a conclusão é que a revitalização do setor industrial é essencial para dar respostas a essas questões.
Os impactos e as mudanças acentuadas pela pandemia e pelo conflito na Ucrânia voltaram a ser pauta, uma vez que o cenário se tornou ainda mais complexo e exige que os empresários passem a considerar as tensões geopolíticas em suas estratégias de reposicionamento. Considerando que a maior incorporação de aspectos geopolíticos nas decisões econômicas pode levar a uma mudança na dinâmica dos mercados domésticos, o momento atual apresenta oportunidades para diversificar os mercados e as cadeias globais de suprimentos.
Uma das participantes do painel, a diretora de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Lytha Spíndola, destacou o grande desafio de negociação entre os países atualmente, diante de tantas mudanças ao longo dos últimos anos, e reforçou a importância de diálogos como esse para fortalecer as relações e promover benefícios para os dois lados.
“Com o cenário atual desafiador, países tentam ampliar a cooperação, e é isso que estamos fazendo aqui hoje, porque temos muitos interesses e potenciais em comum. Assim vamos evoluindo, até haver uma definição mais clara da questão geopolítica que chegou e que afeta a todos, sem previsão de término. Precisamos considerar tantas vertentes, como clima, carbono, meio ambiente, tecnologia, inovação, competitividade, e o Brasil tem vantagens competitivas para entrar nesse cenário e aumentar sua exposição ao exterior”, afirmou a diretora.
Além da representante da CNI, o debate contou com a participação do presidente da Associação dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite; do membro do Conselho Executivo da BDI, Wolfgang Niedermark; e do presidente da Iniciativa Econômica para América Latina (LAI), Ingo Kramer.