Se for escolhido presidente da República na próxima eleição, Ciro Gomes (PDT) quer estruturar estratégias nacionais de desenvolvimento. O pré-candidato afirmou que falta concepção estratégica de país desde a década de 1980. Segundo ele, o Brasil apostou no crescimento por meio do consumo, sem proposta sólida de desenvolvimento da produção. Ele participou do Diálogo da Indústria com os Candidatos à Presidência da República, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta quarta-feira (4), em Brasília.
Ele lembrou que os níveis de produtividade e de crescimento da economia estão estagnados há décadas e que o país não se preparou para o impacto que a tecnologia teve no modelo produtivo em todo o mundo.
O candidato, ex-governador do Ceará e ex-deputado federal, defendeu enfrentar dois temas que, para ele, são os maiores adversários do crescimento do país: a taxa de juros e o câmbio. Em relação a investimento e financiamento, ele defendeu o papel dos subsídios e o ajuste de condições adequadas para o financiamento público de grandes obras de infraestrutura.
Gomes reiterou que, se eleito, reabrirá a discussão sobre a modernização das leis trabalhistas. Quanto às reformas, o pedetista afirmou que os seis primeiros meses de governo são estratégicos para discutir temas de alta relevância nacional, como as reformas tributária e previdenciária.
Sobre a última, o candidato afirmou que não há como reformar o sistema atual e que proporá transição para novo regime, de capitalização e unificação de tetos para servidores públicos e da iniciativa privada. Entre as propostas no tema, está a realização de plebiscito ou referendo.
Confira os principais pontos da apresentação de Ciro Gomes aos empresários:
- Desenvolvimento
“Desde 1980, quando colapsou o velho modelo desenvolvimentista, o Brasil não percebeu o choque de produtividade que a tecnologia impôs ao mundo. Quando isso aconteceu, não tínhamos um ambiente democrático. Quando retomamos a democracia, continuamos a falhar na concepção estratégica de país. De lá para cá, o Brasil cresce 2% ao ano, em média. No ciclo mais generoso desde o Plano Real, expandimos o consumo e não cuidamos da produção.”
- Estratégia
“Estamos afundando estrategicamente como nação. Temos que devolver ao imaginário brasileiro a ideia de projeto nacional. Alguém consegue dizer qual é rumo do Brasil sob o ponto de vista de energia? Petróleo? Bioenergia? Construção Civil? Formação de médicos? É inadiável que temos de celebrar entre nós a ideia de um projeto nacional. E tomar o exemplo de quem fez o mesmo, sob o ponto de vista de indicadores socioeconômicos, num universo de 50 anos. A Coreia do Sul saiu do nada e hoje tem 3% do comércio mundial, enquanto nós somos menos de 1%.”
- Pacto social
“O Brasil precisa desse encontro. Não vamos sair do atoleiro sem esse amplo diálogo. O Brasil está proibido de crescer por fatores que o mercado, sozinho, não tem condição de resolver. Estado e iniciativa privada têm papel central. Precisamos associar governo forte com um empresariado forte”
- Reforma trabalhista
“Eu, sozinho, não tenho poder para revogar nada. Mas acho que precisamos voltar a diversos pontos. Meu compromisso com as centrais sindicais é botar essa bola de volta para o meio do campo.”
- Investimentos
Ao contrário do mito, não é o espontaneísmo individualista que gera alto nível de formação bruta de capital. São arranjos institucionais que a política faz ou deixa de fazer. Se faz bem feito ou mal feito. Na prática, é como se desenha o sistema previdenciário, o sistema tributário, como se organiza o mercado de capitais. Que tipo de perfil o capital tem? Quantos fundos de venture capital relevantes há no Brasil? Como imaginar que vamos inovar financiados por 52% de juro ao ano? Essa é a taxa de juros média, dados oficiais da Febraban.”
- Subsídio
“Vejo candidatos dizendo que subsídio é uma impertinência abusiva, que tem que ser revogado. Sabe o que isso quer dizer? Destruir o agronegócio em 12 meses. O subsídio ao crédito rural no Brasil custa R$ 160 bilhões públicos ao ano. Sabe o que isso quer dizer [em relação ao fim do subsídio]? Descapitalizaram o BNDES e desfizeram a TJLP, que criei quando era ministro da Fazenda”. Ciro Gomes afirmou que restaurará a TJLP, caso seja eleito.
- Financiamento
"Como financiar infraestrutura? Qual é o país do mundo que fez infraestrutura sem o Estado? Volto a dizer, não precisa ser o Estado diretamente. Há mil caminhos, como a concessão, mas é, no mínimo, necessário crédito compatível com esse tipo de atividade. Se eu invisto numa ferrovia ou numa rodovia, o prazo médio de amortização tem que ser diferente do crédito popular, que tem uma demanda exorbitante. É uma evidência que todos nós dominamos, mas na hora do debate geral do país, a gente parece abandonar a nossa observação empírica."
- Judiciário
"O Judiciário brasileiro precisa voltar para o seu quadrado, o Ministério Público precisa voltar para o seu quadrado. A quem servem presidências fracas? A quem servem democracias que o presidente da República nomeia um ministro para o Supremo e este anula a decisão? Precisamos restaurar força do poder político. Há inúmeros casos em que o Judiciário tem legislado no Brasil."
- Reforma da Previdência
"Todo mundo sabe que o modelo que está aí é irreformável. Nós, Argentina e Venezuela - e neste assunto, não são boas companhias - somos os únicos da América Latina que insistem no regime de repartição, que só funciona com demografias jovens e com alta formalidade do mercado de trabalho, tudo que não temos mais. Temos de botar outro sistema no lugar, o sistema de capitalização. Vou propor em detalhes um regime de transição."
- Confiança
"Confiança não é simpatia. Confiança é não mentir. As pessoas imaginarem que vai ter capitalismo sem consumo de massa… consumo de massa se afirma na renda do povo. A China acaba de passar o Brasil no custo da hora trabalhada. Não são os salários que encarecem a produção. São os juros e a manipulação do câmbio."
Marcos Savoi, delegado da FIEMG junto à CNI
“É um candidato de muita respeitabilidade, tendo se ancorado nos feitos anteriores dele como prefeito, governador do Ceará e ministro da Fazenda. Tem um passado de realizações. Não obstante, não acho que seja o melhor candidato para dentro da visão de liberalismo econômico e de liberdade de se empreender. Demonstra uma visão mais à esquerda do que foi colocado e critico sua rejeição à reforma trabalhista que, apesar de não ser a ideal, já apresenta bons resultados. Isso vai contra a indústria e os avanços necessários para se empreender no Brasil.”
Roberto Hollanda, presidente da Biosul (Associação dos Produtores de Bionergia do Mato Grosso do Sul)
"Entre todos os candidatos, é um dos mais eloquentes. Fala com bastante segurança e é envolvente. Mas, por mais que a gente fique envolvido pelo discurso, ficamos preocupados com sua posição de querer renovar o debate sobre a reforma trabalhista. Entendemos que foi uma conquista para o setor produtivo, para o trabalhador brasileiro e para a sociedade como um todo. Mas chamou atenção pelo lado positivo com falas sobre a necessidade de tornar os bancos mais competitivos, o que melhora o mercado financeiro como um todo."
Cíntia Ticianeli, presidente do Sindicanálcool e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (FIEMA)
"O candidato Ciro (Gomes) é sempre polêmico. Como economista, tem facilidade com os números e o quadro econômico do Brasil. Esses são pontos positivos. Ele trata bem quando fala de educação e da redução dos custos da máquina (pública). Mas quando ele não deixa o mercado funcionar, quando ele não dá liberdade para a prática de preços e quer uma intervenção muito grande, acredito que isso possa trazer muitas ineficiências para o modelo, para a economia e para o progresso que queremos para o Brasil."
DIÁLOGO DA INDÚSTRIA COM OS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA - Há duas décadas, a CNI apresenta à sociedade e aos candidatos à Presidência da República um conjunto de propostas para o crescimento econômico e social do Brasil. Neste ano, o setor industrial sabatina seis pré-candidatos ao Palácio do Planalto. Acompanhe a cobertura completa na Agência CNI de Notícias e no Flickr da CNI.