Personalidades elogiam atuação do SESI e do SENAI

Empresários, parlamentares e atletas destacam o papel das instituições no desenvolvimento industrial, na qualificação profissional, na arte, no esporte e na inovação

Fundamentais para preparar profissionais para o futuro, garantir a segurança e a saúde no ambiente de trabalho, promover o esporte, apoiar a cultura e desenvolver a inovação, sobretudo como plataforma de apoio para pequenos e médios negócios. Assim são o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Social da Indústria (SESI) segundo lideranças empresariais, parlamentares, atletas e personalidades de grande influência no país.

Todos se mostram contrários ao possível corte no orçamento do Sistema S, anunciado pela equipe de economia do novo governo nesta semana. Confira os depoimentos.

Cláudio de Moura e Castro, especialista em Educação

"Ao longo de quinze anos, como técnico de agências internacionais, coube-me visitar muitas dezenas de escolas profissionais, em  vários continentes.  Uma conclusão ficou clara e não discrepa da de meus colegas de então: o SENAI está muitos furos acima das escolas de todos os países em desenvolvimento que visitei. Ombreia-se facilmente com as do Primeiro Mundo. Pena que nossas escolas públicas estejam longe deste desempenho superlativo.

O SESI foi originalmente desenhado para um Brasil em que filhos de operários careciam de assistência em praticamente tudo, cabendo a ele muitas funções nessa linha. O país mudou, permitindo uma transformação nas suas atividades  - ainda incompleta.  Está progressivamente assumindo o papel de grande laboratório pedagógico do Brasil. A se materializarem meus sonhos, poderá gerar novos modelos de ensino, valiosos para a rede pública."

Cláudia Costin, coordenadora do Centro de Excelência e Inovação de Políticas Educacionais (Ceipe) da Fundação Getúlio Vargas 

"O SENAI tem  um papel extremamente importante para o Brasil. Criado na época do Getúlio Vargas, ele virou um centro interessante de qualificação dos trabalhadores, reconhecido no mundo todo, citado como referência na Organização Internacional do Trabalho (OIT), porque no desenho instrucional dos cursos os eventuais futuros empregadores têm um papel. Não é um curso técnico desvinculado às necessidades de desenvolvimento do país. O aprendizado acumulado pelo SENAI poderia ser repassado com grandes vantagens para secretarias de educação estaduais para que pudessemos ter um ensino médio com a mesma qualidade que o SENAI conseguiu construir. Há exemplos internacionais, como as escolas secundárias Meisters, da Coreia do Sul, em que o setor privado, a indústria, inclusive a de ponta, participou não só do desenho instrucional de cursos de ensino médio, mas mesmo da gestão desses cursos, numa parceria público-privada que gerou altíssima empregabilidade em setores interessantes para os jovens. O SENAI é um exemplo e seria uma pena perder todo esse aprendizado acumulado pelo SENAI. Quando fui diretora global de Educação do Banco Mundial, pude trazer ao Brasil cinco países africanos  que trabalham com ensino técnico para dialogar com o SENAI e ver como o SENAI funciona por ocasião da WorldSkills, em São Paulo, em 2015, no qual o Brasil ganhou diversos prêmios."

Ingo Ploger, membro do Conselho da Melhoramentos e presidente internacional do Conselho Empresarial para a América Latina (Ceal)

"O SESI e o SENAI se mostraram, nos últimos anos, instituições fundamentais na área de educação profissional e também na incorporação de plataformas de inovações para as indústrias brasileiras. Quem mais se beneficia com isso são as indústrias de médio e pequeno porte, cuja contribuição no processo de inovação brasileiro é de relevância estratégica para a competitividade da indústria brasileira", avalia. 

Victor Teles, gerente-executivo da Festo Didactic no Brasil

"O papel do SESI e do SENAI é fundamental para a preparação de mão de obra especializada e diferenciada para a indústria. Além desse ponto, essencial para o aumento da produtividade e, consequentemente, da competitividade da indústria brasileira no mercado nacional e internacional, devemos considerar o impacto social em estudantes, que, em grande maioria, vêm das classes C e D. Em inúmeros casos, é a oportunidade da vida dessas crianças e adolescentes, que encontram no SESI e no SENAI um nível de ensino que suas famílias jamais poderiam arcar. Algo que não é de amplo conhecimento da população brasileira é o protagonismo do nosso país da competição mundial de profissões, o WorldSkills, onde jovens preparados pelo SENAI representam nosso país em mais de 45 modalidades e figuram entre as primeiras colocações na maioria delas. Tal feito já nos rendeu algumas vezes os primeiros lugares no quadro geral de ocupações, à frente de países de primeiro mundo e reconhecidos como exemplares em educação, como Alemanha, Japão, Estados Unidos, entre outros.“

Armando Monteiro Neto, senador (PTB/PE) 

“O Sistema S, como toda construção institucional, está sujeito a aperfeiçoamentos, a correções. Num país cuja marca é a instabilidade e a descontinuidade dos programas, o grande mérito é ter se criado um modelo de financiamento extremamente engenhoso, um modelo de autotributação que permitiu que, durante décadas, as atividades do sistema pudessem ser continuadas sem a instabilidade que marca os programas governamentais no Brasil. O que se busca, como tudo, é um aperfeiçoamento, que deve se dar num marco sereno, civilizado, de uma discussão bem informada.”

Joanna Maranhão, atleta olímpica 

“Fui atleta do SESI, que patrocinava a equipe da qual eu fazia parte, e fiquei nela até minha primeira Olimpíada, quando representei o SESI de Pernambuco. Isso foi muito importante para mim. Lembro-me que foi meu primeiro salário. Foi a primeira vez que tive condições de comprar meu primeiro maiô de competição, investir em minha carreira e fazer viagens internacionais. O SESI sempre esteve presente em minha vida, principalmente quando eu saí da base para me tornar profissional. O apoio do SESI foi crucial para isso. A sigla S é, mais do que nunca, uma resistência para a gente. São locais que você tem acesso a esporte, à cultura e à arte de qualidade, acessível para a maioria da população. É a democratização do que é direito de cada cidadão e deveria ser promovido pelo Estado. Desejo vida longa ao SESI e ao SENAI.”

Cristovam Buarque, senador (PPS-DF)

“O Sistema S tem um serviço prestado a este país. São décadas na formação de trabalhadores. A gente esquece que a continuidade é mais importante até que o dinheiro. O Sistema S tem que ser analisado com rigor para não deixar vazamentos nem ineficiências. Mas não se pode ser tratado com desprezo e muito menos com essa ameaça de corte de verbas. A proposta deve ser melhorar a eficiência, e aí, sim, se reduzem os gastos.”

Romero Jucá, senador (MDB-RR)

“O Sistema S é muito importante para o Brasil, mas principalmente para os estados menos ricos, onde faz uma diferença um centro de capacitação, de treinamento, de formação de pessoas, como na Paraíba, em Pernambuco, em Roraima. O Sistema S precisa ser preservado. Parar as ações do Sistema S prejudica a economia brasileira, a sociedade brasileira e os trabalhadores brasileiros."

Jorge Viana, senador (PT-AC)

“Tem de ser levado em conta o que nós temos que fazer para que aquilo de essencial do Sistema S, aquilo que ajudou a formar o Brasil, se mantenha. Óbvio que tudo no país está sendo colocado em xeque, mas essa coisa de destruir, de tirar, não dá certo. Acho que toda e qualquer ação sobre o Sistema S tem que levar em conta como é que se faz para melhorar. Nós estamos tendo uma mudança radical com as novas tecnologias. Atividades vão desaparecer e, junto com elas, profissões; nós precisamos modernizar, trazer o modelo para o século XXI, não desaparecer com ele.”

Ivanildo Vasconcelos, triatleta paralímpico  

“Devo 95% do meu sucesso profissional ao SESI. Comecei minha parceria com a instituição pela natação e depois ingressei em uma escola do SESI. É inegável a qualidade de ensino, infraestrutura e equipamentos oferecidos pela instituição. Tenho orgulho de falar para pessoas que fui apoiado e que faço parte do SESI. Recebi suporte não só no esporte, mas na vida. Fazer parte desse sistema é maravilhoso, pois está sempre em constante inovação. Vou levar o SESI comigo para o resto da vida.”

Renato Janine, ex-ministro de Educação

“O papel do SESI é importante na educação, com nível elevado de qualidade, e isso não pode ser destruído sumariamente. Como tudo, é preciso mudanças para melhor, mas não para destruí-lo.”

José Pastore, professor da Universidade de São Paulo (USP) 

“Uma das coisas que o Brasil mais precisa no momento é melhorar a produtividade do trabalho. Com isso, os salários sobem, geram mais empregos, as empresas competem melhor, vendem mais, os preços caem e a competitividade do país aumenta. Enfim, produtividade não é tudo para o crescimento, mas é quase tudo. E o que entra na produtividade? Muitos fatores e um dos principais é a qualidade do trabalho. A qualidade do profissional é fundamental para evitar o retrabalho, o desperdício, para fazer tudo com a maior eficiência possível. Esse tem sido o trabalho realizado pelas escolas do SESI e do SENAI. Tenho 50 anos de experiência, visitando essas escolas. Nunca vi uma escola dessas pichada, desleixada, com greve, com trabalhos por fazer. Ao contrário, os professores estão sempre lecionando e usando equipamentos dos mais avançados para poder atualizar o aluno de acordo com as novas tecnologias. O Brasil tem um grande capital na formação das pessoas e na melhoria do capital humano que são as escolas do SESI e do SENAI.”
 

Naercio Menezes, professor de economia do Insper

“O desempenho das escolas da rede SESI é muito bom, superando, inclusive, o desempenho médio das escolas privadas no quinto ano do ensino fundamental, mesmo levando em conta a escolaridade da mãe e outros fatores, como as condições socioeconômicas dos alunos. Essas escolas podem servir de modelo à rede pública, principalmente no  quinto ano do ensino fundamental. Seria importante para a sociedade se o SESI conseguisse transferir a tecnologia de gestão aplicada nas escolas que são bem-sucedidas para a rede pública, que atende muito mais alunos em todo o país. O que mais precisamos no Brasil é melhorar o aprendizado dos nossos alunos. Então, se pudermos aprender com as experiências exitosas e utilizá-las nas escolas públicas será muito importante e positivo.”

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