O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) seleciona projetos de inovação voltados ao setor automotivo para receber recursos do programa Rota 2030. As inscrições estão abertas, a partir desta segunda-feira (3), na plataforma do Edital de Inovação para Indústria. Empresas do segmento também podem candidatar-se a receber consultorias gratuitas em produtividade que utilizam técnicas de digitalização e de manufatura enxuta.
Por meio do Rota 2030, o governo federal isentou o imposto de importação de autopeças que não são produzidas no Brasil e, em troca, as indústrias depositam 2% do valor importado em um programa prioritário selecionado pelo governo federal. O SENAI habilitou-se a gerenciar o eixo de produtividade. Agora, a instituição seleciona projetos para o desenvolvimento de novos produtos, assim como empresas que serão beneficiadas com os recursos. A instituição também vai ofertar cursos de pós-graduação em Indústria 4.0 para funcionários das companhias que depositaram valores.
O diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, avalia que a agenda de inovação sempre foi decisiva nas estratégias de negócios da indústria automotiva e ganha ainda mais relevância diante da Revolução 4.0. “Estamos vivendo uma profunda transformação do padrão tecnológico em todas as atividades econômicas, inclusive na indústria automotiva. Há desafios no modelo de propulsão do automóvel, nos materiais, nas baterias, até no modelo de negócio. Tudo isso faz com que a agenda de inovação cresça em importância”, diz ele. “O SENAI se constitui hoje na maior infraestrutura de apoio à inovação na indústria, com domínio profundo das competências e das novas rotas tecnológicas para contribuir na solução dos desafios da indústria automotiva”, complementa.
Requisitos para participar do Rota 2030
Para submeter projetos de inovação, os interessados devem acessar a plataforma do Edital de Inovação na categoria Aliança Industrial. Nessa modalidade, as propostas devem ser apresentadas por um grupo de pelo menos três empresas e um dos 26 Institutos SENAI de Inovação. Podem ainda fazer parte do grupo startups, universidades e centros de pesquisas, Institutos SENAI de Tecnologia, entre outros.
Os projetos devem ter custo de R$ 2 milhões a R$ 8 milhões e podem abordar temas relevantes no eixo de produtividade para a indústria automotiva. O Edital de Inovação vai financiar 59,5% do valor total e o consórcio de empresas deve custear o restante, sendo que 20,5% serão recursos financeiros e 20%, econômicos.
Indústrias interessadas em lançar desafios a startups também podem submeter ideias na categoria Empreendedorismo Industrial, na qual grandes empresas apresentam temas para os quais desejam soluções inovadoras. As propostas de solução devem ter custo entre R$ 400 mil e R$ 600 mil, dos quais 59,5% serão cobertos pelo programa prioritário do SENAI; 35,5% serão custeados pela empresa-âncora e 5%, pelas startups selecionadas. Estão disponíveis R$ 24 milhões para as duas categorias.
As empresas que desejarem receber consultoria gratuita destinada a aumentar produtividade também devem se inscrever no site do Edital de Inovação. Serão investidos R$ 12 milhões no atendimento de empresas que se inscreverem no programa. O atendimento em manufatura enxuta (lean manufacturing) permite ganho de pelo menos 20% com medidas simples e de baixo custo destinadas a combater sete tipos de desperdício: superprodução, tempo de espera, transporte, excesso de processamento, inventário, movimento e defeitos.
Consultoria para indústria 4.0
É possível ainda receber consultoria para dar os primeiros passos na Indústria 4.0, a chamada digitalização. Os especialistas do SENAI instalam sensores, que captam dados dos equipamentos, e coletores, que os armazenam. Por meio de tablets e celulares, os gestores podem acompanhar, em tempo real, o desempenho da linha de produção e, com isso, ter maior controle de indicadores do processo, antecipando-se a eventuais problemas. Com essas técnicas, a empresa pode ter um aumento de pelo menos 10% em sua produtividade.
“O aumento da produtividade é o eixo de atuação de nosso programa prioritário, que atua em alianças do setor automotivo. Grandes companhias trabalham com empresas de autopeças, utilizando a infraestrutura de inovação, tecnologia e educação do SENAI”, explica o gerente-executivo de Inovação e Tecnologia da instituição, Marcelo Prim. “As técnicas incluídas no programa, já experimentadas, permitem um salto em produtividade para as empresas participantes”, reforça.
O SENAI também vai ofertar cursos de MBI (Master in Business Innovation) em Indústria 4.0 para funcionários das empresas depositantes no seu programa. A formação destina-se a profissionais com ensino superior que executam atividades de tomada de decisão e liderança de equipe. Os cursos terão atividades à distância e imersões em cidades de cinco estados. Funcionários dos fornecedores da cadeia automotiva também participarão de oficinas em três temas: otimização, digitalização e inovação.
O que é o Rota 2030
O programa Rota 2030 é parte da estratégia elaborada pelo governo federal para desenvolvimento do setor automotivo. O objetivo é ampliar, de forma progressiva, a inserção global da indústria automotiva brasileira por meio da exportação de veículos e autopeças até que o país esteja inteiramente inserido e no estado das artes da produção de veículos automotores no mundo.
A iniciativa possui três pilares: a fixação de requisitos para a comercialização de veículos novos produzidos no país ou na importação; a concessão de benefício tributário à empresa que realizar dispêndios em P&D no país; e o regime de autopeças não produzidas, que isenta do Imposto de Importação a compra de autopeças sem produção nacional equivalente.
As empresas beneficiárias do regime de autopeças devem escolher e aportar em um programa prioritário os recursos obrigatórios. A previsão é arrecadar R$ 1 bilhão em cinco anos. Foram selecionadas quatro instituições para realizar ações de melhoria na cadeia automotiva com esses recursos: o SENAI, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii); a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) e a Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep).