Regulamentação adequada da Lei do Patrimônio Genético incentivará pesquisas com biodiversidade

De acordo com a indústria, há, pelo menos, 25 pontos da lei que precisam ser regulamentados

“Essa legislação é o primeiro passo para desburocratizar o acesso e garantir maior segurança jurídica aos novos investimentos no segmento de bioeconomia" - Mônica Messenberg

Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende a regulamentação adequada da Lei 13.123/2015, de acesso e repartição dos recursos genéticos da biodiversidade brasileira para incentivar a pesquisa com espécies nativas. De acordo com a indústria, há, pelo menos, 25 pontos da lei que precisam ser regulamentados. Entre os principais estão o formato do cadastro e sistema de gestão para acesso ao patrimônio genético e os acordos setoriais para a pesquisa. 

Segundo a diretora de Relações Institucionais da CNI, Mônica Messenberg, a nova lei, sancionada nesta quarta-feira (20), é positiva, pois traz regras claras e promove a segurança jurídica no acesso, na pesquisa e na repartição de benefícios da biodiversidade. “Essa legislação é o primeiro passo para desburocratizar o acesso e garantir maior segurança jurídica aos novos investimentos no segmento de bioeconomia”, destaca Mônica. “Nessa simplificação, o cadastro, que substitui a autorização da lei anterior, não pode ser algo complexo e com inúmeras exigências.” 

A opinião é compartilhada por Pedro Luiz Fernandes, vice-presidente de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da Novozymes, empresa multinacional do setor biotecnologia, que está há 40 anos no Brasil. Segundo ele, há um grande trabalho a ser feito na regulamentação, e a simplificação de regras e processos é fundamental para incentivar a bioprospecção e inovações com recursos da biodiversidade. “Com isso, vários setores, como de fármacos, alimentos, energia, cosméticos, entre outros, serão incentivados a fazer pesquisas com recursos da biodiversidade”, diz Fernandes. Ele faz um alerta sobre os cuidados que precisam ser tomados na regulamentação. Ouça clicando aqui.

Ele conta ainda que a empresa, com um laboratório e 20 pesquisadores no Brasil, está atenta à entrada em vigor da lei para planejar pesquisas com espécies nativas do país. “Apesar de o acesso ao patrimônio genético da biodiversidade brasileira estar em nosso radar, nunca fizemos pesquisa com espécies nativas porque a antiga legislação não nos dava segurança”, relata Fernandes. “Mas, desde quando começaram as discussões sobre a mudança do marco regulatório, o tema da bioprospecção está mais aquecido dentro da empresa e já estamos planejando de que forma vamos trabalhar com pesquisa de moléculas e micro-organismos da biodiversidade”, revela. 

PRESERVAÇÃO – Outra empresa de biotecnologia que deve ser beneficiada pelo novo marco legal é a Granbio, a primeira no país a realizar pesquisas com etanol de segunda geração, produzido a partir da celulose e de outras fibras vegetais, presentes em madeira e em partes não comestíveis dos vegetais. De acordo com o vice-presidente executivo da empresa, Alan Hiltner, a nova lei, desde que acompanhada de uma regulamentação apropriada, dará segurança jurídica e acelerará as pesquisas com recursos da biodiversidade brasileira. “Esse estímulo à pesquisa e desenvolvimento com espécies nativas do país contribuirá ainda para a preservação ambiental”, acrescenta. 

Para a fabricante de insumos botânicos Centroflora, que está começando a investir em inovação, o novo marco legal é um alento. Conforme a supervisora de Sustentabilidade da Centroflora, Paula Moura, se bem regulamentada, a lei poderá estimular o aumento de espécies pesquisadas pela empresa. “A Centroflora é uma empresa de médio porte, com 300 funcionários, e é das poucas indústrias nacionais fabricantes de extratos vegetais, já que o antigo marco legal não estimulava novos negócios do setor”, explica. 

Dono da maior biodiversidade do mundo, o Brasil pode se transformar em uma potência em bioeconomia

BIOECONOMIA – Dono da maior biodiversidade do mundo, o Brasil pode se transformar em uma potência em bioeconomia, com potencial para provocar uma nova revolução industrial. Além de buscar soluções para desafios como mudanças climáticas e estímulo ao uso de energias renováveis, a bioeconomia abrange pesquisas alternativas para aumentar a produção de alimentos e produtos que melhorem a saúde das pessoas. Só no mercado compreendido pela biotecnologia industrial, a expectativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de que sejam movimentados, no mundo, € 300 bilhões em 2030. 

Preocupada em fazer com que o país aproveite as oportunidades latentes nesse campo, a CNI preparou o documento Bioeconomia: oportunidades, obstáculos e agenda. A publicação traz seis propostas comuns para as áreas de biotecnologia industrial, saúde humana e agronegócio. São elas: modernização do marco regulatório para bioeconomia; aumento dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação; adensamento da base científico-tecnológica; ampliação e modernização da infraestrutura laboratorial; estímulo ao empreendedorismo e disseminação da cultura da inovação. 

Na visão de Alan Hiltner, da Granbio, a bioeconomia é a agenda que poderá dar mais resultados para o Brasil no futuro. No entanto, para a consolidação do país nesse mercado, é necessário o desenvolvimento tecnológico local e não apenas atrair investimentos do exterior. “Isso depende de uma rápida e forte simplificação dos processos regulatórios de biossegurança, propriedade intelectual, importação de equipamentos e insumos para pesquisa e também de condições atrativas de crédito para atividades de alto risco tecnológico”, destaca Hiltner. 

Relacionadas

Leia mais

Trabalhos inscritos no Prêmio CNI de Jornalismo serão avaliados por nove profissionais de diferentes meios e veículos
Estudo inédito do MIT sobre inovação no Brasil será apresentado durante Fórum Estadão nesta terça (6)
Novo ensino médio é colocado em prática em cinco estados

Comentários