Novo ensino médio é colocado em prática em cinco estados

Em 2020, estudantes de cinco cidades concluirão o ensino médio integrado ao curso técnico de eletrotécnica. A conquista é resultado de um projeto pioneiro do SESI e do SENAI

Um ensino conectado com as aspirações dos alunos, organizado por áreas do conhecimento e integrado à formação técnica e profissional. Essa é espinha dorsal do novo ensino médio, que já é realidade em seis escolas brasileiras por uma iniciativa pioneira do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Ao todo, são 222 estudantes envolvidos no projeto- piloto que, ao final de 2020, receberão diplomas de ensino médio e de técnico em Eletrotécnica.

A nova metodologia foi implantada em caráter de experiência pedagógica nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Goiás. O projeto oferta um currículo integrado por áreas de conhecimento e não mais por disciplinas, e inclui formação técnica que permitirá aos estudantes iniciarem mais cedo, e de forma qualificada, a vida profissional. 

Douglas Oliveira de Jesus, aluno da Escola SESI José de Carvalho, em Feira de Santana (BA), está entusiasmado com a oportunidade. Para ele, a nova metodologia fortaleceu a interação entre professores e alunos, tornou o aprendizado mais prazeroso e aumentou a vontade por buscar o saber. “Estou muito mais envolvido com os estudos”, diz.

O grande desafio do projeto, segundo Sérgio Gotti, gerente-executivo de Educação do SESI, é que os professores da educação básica e da educação profissional devem trabalhar as competências e habilidades de maneira integrada. “É uma forte mudança de estrutura, que obriga todos a terem um pensamento não mais compartimentado por caixas, em que cada um cuida de seu espaço sem se importar com o dos demais”, explica. “Eles têm de estar muito afinados para chegar em sala de aula e trabalhar como uma orquestra nessa nova visão”.

Júlia Pereira dos Santos, estudante da Unidade Integrada SESI/SENAI Aparecida de Goiânia, afirma que, com essa metodologia, consegue aprender melhor. “Antes, me preocupava apenas em copiar o que estava no quadro e não tinha muita vontade de estudar. Hoje, tenho mais vontade de aprender, os professores estão mais comunicativos e sinto que vou sair daqui mais preparada para o mundo”, conta.

O economista Cláudio de Moura Castro, especialista em educação, defende que, quando há essa interconexão entre o lado acadêmico e o profissionalizante, tem-se “o melhor dos mundos”. Segundo ele, a experiência prática contextualiza o ensino e torna os conteúdos mais concretos. Os estudantes são beneficiados com desenvolvimento mais sólido, capacidade de pensar de forma crítica e visão de mundo mais ampla e universal.

INSERÇÃO - Para o diretor-superintendente do SESI e diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, a flexibilização do currículo do ensino médio é um caminho para que mais estudantes tenham formação técnica e, com isso, mais oportunidades profissionais. “O ensino técnico amplia a inserção do jovem no mercado de trabalho, o que é muito importante para o Brasil. Hoje, o índice de desemprego está em 11% e, entre os jovens, esse número duplica, o que é muito grave”, diz.

A integração da educação profissional ao ensino médio também alinha o sistema educacional brasileiro às melhores experiências internacionais. “Nos países desenvolvidos, a média de jovens que se dedicam a cursos técnicos é de 50%. Na Áustria, esse percentual chega a 77%. Mas, no Brasil, menos de 10% dos estudantes optam pela educação profissional”, afirma Lucchesi.

Para 2019, o SESI e o SENAI programam uma expansão da experiência pedagógica. Novos estados serão atendidos e novas habilitações serão ofertadas. Além de Eletrotécnica, os estudantes poderão optar pelas áreas de Matemática, Ciências da Natureza, Técnico em Mecânica ou Técnico em Rede de Computadores.

A expectativa é que o modelo desenvolvido também sirva de referência para a implantação do novo ensino médio na rede pública. “O SESI e o SENAI são instituições de excelência em educação e podem ser fortes parceiros na construção do projeto pedagógico integrado e, principalmente, na implantação do ensino técnico e profissional na rede pública. Temos muito a contribuir e as perspectivas são as melhores”, afirma Gotti.
 
PRÁTICA
Nilza Bispo Brito está entre os docentes envolvidos na experiência pedagógica. Professora de Ciências Humanas da Escola SESI José de Carvalho, em Feira de Santana (BA), ela afirma que o modelo de ensino médio proposto pelo SESI e SENAI rompe com a metodologia conteudista e coloca o estudante como protagonista de seu aprendizado. “Os alunos estão aprendendo a aprender, e não a memorizar. A partir da reflexão e do debate, desenvolvem habilidades e competências voltadas para a vida e para o mundo do trabalho”, conta. 

Para Fábio Inácio, professor de Ciências da Natureza da Unidade Integrada SESI/SENAI Aparecida de Goiânia (GO), essa metodologia estimula o espírito crítico e a independência do aluno. O estudante aprende a buscar de soluções e trabalhar em grupo. “É um grande ganho. Além da capacidade técnica, estamos formando cidadãos que saberão se posicionar e respeitar a opinião contrária. Conseguimos trabalhar um discurso mais humanitário, valorizando as crenças e as diferenças”, diz.

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