Qual é o papel da política pública para que a inovação turbine a sustentabilidade?

Confira os destaques dos painéis "Green New Deals e as políticas públicas para a ecoinovação" e "A corrida tecnológica verde mundial e a indústria"

foto de telão com mulher falando ao microfone
O painel contou com a participação de grandes nomes como Celso Pansera, presidente da FINEP, e Mariana Mazzucato, professora da University College London

Está muito quente na sua cidade? Choveu e você nem estava esperando? O mundo inteiro está vivendo mudanças climáticas drásticas que trazem uma pergunta ainda maior: como será possível conviver com essa realidade nos próximos cinco, dez, cinquenta anos?

O Acordo de Paris, firmado em 2015, estabeleceu um compromisso mundial com a meta de não aumentar a temperatura global em até 1,5 graus até o fim do século. “Não estamos nem perto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e precisamos ser mais específicos sobre as mudanças que queremos”, disse a economista ítalo-americana Mariana Mazzucato, em painel no 10º Congresso Internacional de Inovação da Indústria.

PhD e professora de economia da inovação University College London, na Inglaterra, Mazzucato também é especialista em financiamento para inovação e defende a importância do setor público no desenvolvimento da inovação e no investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Nesse sentido, ela elogiou a política industrial orientada por missões para a retomada do crescimento do Brasil, que incluem a bioeconomia, a descarbonização e a transição energética.


“O Brasil tem a chance de garantir que essas missões sejam feitas em conjunto. A inovação não parte de apenas um ministério, mas exige um trabalho conjunto e estruturado”, afirmou.


Mazzucato participou do painel Green New Deals e políticas públicas para a ecoinovação, durante o evento. Inspirado no programa de recuperação econômica dos Estados Unidos para enfrentar a Grande Depressão iniciada em 1929, o Green New Deal ou novo acordo verde, investe em medidas que reduzam a emissão de gases que prejudicam o meio ambiente. “Deal é o novo contrato social. Precisamos pensar na nova relação que queremos entre empresas, indústrias e governo em uma parceria simbiótica”.

mulher branca, de cabelos curtos, lisos e loiros, com regata vermelha e calça branca fala ao microfone
Mariana Mazzucato é professora em Economia da Inovação e Valor Público na University College London

O moderador do painel, Daniel Moczydlower, presidente e CEO da Embraer X, ressaltou a emergência climática que o mundo vive, que vai exigir mais velocidade para a transição energética da qual o mundo precisa.


“Pode até parecer que 2050 está longe, mas está muito perto do ponto de vista da transformação econômica de que vamos precisar na economia e na indústria. E nenhuma empresa, setor ou país conseguirá resolver essa questão sozinho”, alertou.


No mesmo sentido, James Young, diretor do Centre for Competitiveness, do Reino Unido, acredita no equilíbrio entre pesquisa, desenvolvimento, inovação e recursos para investir em aspectos como a descarbonização da economia. “Sabemos que a descarbonização não pode ser feita por uma única empresa. Temos que reunir os países para enfrentar essa questão. É preciso desenvolver cada vez mais políticas para estimular a pesquisa e o desenvolvimento. Podemos, inclusive, criar empregos verdes, treinar e formar pessoas para esses trabalhos”.

Também no painel, Kandeh Yumkella, alto comissário presidencial de Serra Leoa, destacou a intenção de a África ser parte da economia verde.


“Absorvemos grande parte dos gases que o mundo emite e precisamos de uma parceria global para mudar paradigmas com governança responsável. Temos minérios dos quais todos precisam para essa transição verde e queremos fazer parte dessa nova economia”


O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera, destacou a necessidade de se ter uma economia que seja sustentável do ponto de vista ambiental. “No último governo, tivemos uma redução drástica de estratégias de desenvolvimento. Mas o Brasil tem um potencial enorme de se tornar referência nesse movimento”.

27/09/2023 - 10º Congresso Internacional de Inovação da Indústria  - 1º dia

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Os objetivos estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) são 17 e reúnem temas que se conectam entre si para o desenvolvimento global. São eles: erradicação da pobreza, Fome zero e agricultura sustentável, Saúde e bem-estar, Educação de qualidade, Igualdade de gênero, Água potável e saneamento, Energia limpa e acessível, Trabalho decente e crescimento econômico, Indústria, inovação e infraestrutura, Redução das desigualdades, Cidades e comunidades sustentáveis, Consumo e produção responsáveis, Ação contra a mudança global do clima, Vida na água, Vida terrestre, Paz, justiça e instituições eficazes, Parcerias e meios de implementação.

  • Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar, nutricional e energética
  • Complexo econômico industrial da saúde resiliente para reduzir as vulnerabilidades do SUS e ampliar o acesso a saúde no país
  • Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva e o bem-estar nas cidades
  • Transformação digital da indústria para ampliar a produtividade
  • Bioeconomia, descarbonização, e transição e segurança energéticas para garantir os recursos para as futuras gerações
  • Tecnologias de interesse para a soberania e a defesa nacionais
O painel contou com a participação de grandes nomes como Horácio Lafer Piva, membro do conselho de administração, Klabin e Alexandre Mori, CEO, Floresta Hub

Setor privado e governo: união de esforços para desenvolver inovação e uma economia verde

Após o painel Green New Deals, o tema das políticas públicas voltou a ser mencionado em mais um debate do congresso. Com o título "A corrida tecnológica verde mundial e a indústria", os integrantes desse segundo painel mostraram como iniciativas do Estado podem ajudar no fomento da inovação e no desenvolvimento de uma economia de baixo carbono. 

Do ponto de vista do setor privado, representantes da Klabin, Embraer, Ford, Floresta Hub e HP citaram a importância de unir diferentes esforços – das universidades, do governo federal e da indústria – para que o Brasil ganhe protagonismo na produção de hidrogênio verde, do combustível de aviação sustentável (SAF, em inglês) e dos carros elétricos, por exemplo. 


"O etanol é um caso de sucesso. Então, é só a gente copiar as coisas boas do processo do etanol, melhorar aquelas que não foram tão boas e aí trabalhar nas frentes desenvolvimento seja do hidrogênio verde, seja do saf, que é o combustível sustentável de aviação", apontou o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto. 


De acordo com o presidente da Embraer, 50% das receitas da empresa vêm de inovações implementadas nos últimos cinco anos.

Daniel Justo é presidente da Ford América do Sul

O presidente da Ford América do Sul, Daniel Justo, disse que a empresa tem investido muito em modelos elétricos: 


"Agora, quando a gente olha para o Brasil e a possibilidade de produzir energias limpas, você tem uma fórmula fantástica onde a matriz de energética limpa e a produtividade eficiente se encontram no veículo elétrico". 


Já do ponto de vista do setor público, BNDES e Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) destacaram os esforços para viabilizar a chamada agenda verde no país. 

"Temos um avanço na coordenação da política de fomento que, obviamente, vai seguir as prioridades que forem colocadas. Além disso, tem mais 20 bilhões [dinheiro do BNDES voltado para projetos de inovação]", afirmou o diretor de desenvolvimento produtivo, comércio exterior e inovação do BNDES, José Luis Gordon.

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