A indústria produz e aperfeiçoa soluções inovadoras, como carros, calçados e sensores para celulares. E, graças à Propriedade Industrial – ramo da Propriedade Intelectual – é possível conceder direitos a esses produtos e proteção a quem os criou. Mas, quem já entrou em uma indústria? Para aproximá-la de membros do governo, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) promoveu, na quinta-feira (28), em Campinas (SP), a segunda edição do Programa Conhecendo a Indústria voltada para a Propriedade Intelectual. Examinadores de patentes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e servidores de ministérios e do poder legislativo conheceram de perto processos industriais da Bosch e iniciativas para o desenvolvimento industrial da Escola SENAI Roberto Mange.
Na unidade de Campinas da Bosch, especializada no fornecimento de tecnologia e serviços, o chefe de Inovação e Patentes, Leandro Mandu, apresentou aos participantes uma série de inovações desenvolvidas pela empresa em diversas áreas, como a plataforma de pecuária, uma tecnologia que monitora o desempenho do gado com precisão, por meio de conceitos de internet das coisas. “Isso tem a ver com sair do mundo metal mecânico e entrar no mundo digital, já que a Bosch está seguindo o rumo da Indústria 4.0 e passando por sua maior transformação da história”, explica Mandu.
O encontro também permitiu à Bosch e aos participantes um diálogo sobre o processo de análise de pedidos de concessão de patentes, que é realizado pelo INPI para proteger inventos que partem da indústria. De um lado, Mandu, da Bosch, destacou a questão do tempo atual para as análises. De outro, examinadores de patentes do INPI expuseram entraves no processo, sobretudo relacionados ao quadro de pessoal. “Nossa produção é muito similar a de examinadores de outros países, mas o problema está no pequeno número de profissionais”, justifica Itamar Pereira, pesquisador em Propriedade Industrial da Divisão de Engenharia Civil do INPI do Rio de Janeiro. Ele também comemorou a oportunidade de conhecer tecnologias de ponta desenvolvidas pela Bosch.
Maria Elisa Martinez, pesquisadora em Propriedade Industrial da Diretoria de Patentes, em São Paulo, considera a visita a indústrias, como a da Bosch, importante para o trabalho dela. “Não tem nada melhor do que você ver, conhecer e interagir, pois você se depara com o outro lado, já que, muitas vezes, pedidos de patentes não refletem a realidade”, relata. Para Domênica Loss, pesquisadora da Divisão de Modelos de Utilidade do INPI do Rio de Janeiro, a visita à Bosch permitiu conhecer o aperfeiçoamento de produtos já desenvolvidos. “É interessante ver de perto essa visão empresarial, de pesquisa e desenvolvimento e todo o processo que eles desenvolvem, desde a ideia até o protótipo”, diz.
Na visita à Bosch, os participantes do programa foram levados até o chão de fábrica da empresa. Conheceram sistemas de segurança e de monitoramento, áreas de montagem e de realização de testes de veículos, setor de testes de emissão de gás, entre outros. Além disso, a Bosch apresentou a escola técnica que coordena, em parceria com o SENAI, voltada para a Indústria 4.0. Nela, jovens aprendem a desenvolver soluções e lidam com tecnologias avançadas, como manufatura aditiva, robôs colaborativos e manutenção preditiva online.
O representante da CNI no evento, César Galiza, explica que a vantagem do Conhecendo a Indústria é a troca de experiências entre formuladores de políticas públicas e representantes de unidades fabris. “O conhecimento empírico adquirido com o acesso à realidade do dia a dia do chão de fábrica possibilita aos convidados um incremento positivo no entendimento para a praticidade das futuras decisões burocráticas que impactarão no processo produtivo da indústria”, afirma o gerente de articulação e controle da CNI.
Conhecendo a escola do SENAI
Galiza complementa que o programa também permite aos visitantes a compreensão das iniciativas do SENAI. “Eles passam a entender o papel do Sistema Indústria na formação e qualificação da mão de obra dessas indústrias por meio do SESI e do SENAI na geração e compartilhamento de processos inovadores de C&T e gestão”, ressalta.
Visitar a Escola SENAI Roberto Mange (Instituto SENAI de Tecnologia – Metalmecânica) foi a segunda parte da edição do Conhecendo a Indústria sobre Propriedade Intelectual. Os participantes foram recebidos por uma apresentação do diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi, que falou sobre a importância dessas instituições para indústria brasileira. “Devemos lembrar que todas as indústrias instaladas no Brasil têm a força de trabalho treinada e capacitada pelo SENAI”, frisa. O SENAI já realizou mais de 75 milhões de matrículas ao longo de sua história em cursos de educação profisisonal, graduação e pós-graduação.
Ao falar sobre o comprometimento do SENAI com a educação profissional no Brasil e o retorno do sistema para a sociedade, Lucchesi lamenta que, no país, as profissões manuais ainda não sejam tão valorizadas. “O SENAI luta contra isso. E precisamos modificar o sistema educacional brasileiro, pois apenas 11% dos jovens de 15 a 17 anos faz educação técnica junto com educação profissional. Na Áustria, por exemplo, esse número sobe para 76%”, pontua.
Após palestra com Lucchesi, os participantes do programa visitaram a estrutura da Escola SENAI Roberto Mange e acompanharam as atividades desenvolvidas por alunos. No setor de manutenção, por exemplo, eles têm a base de montagem e desmontagem de equipamentos. Os estudantes também têm aulas de impressão 3D, aprendem a montar sistemas inteligentes, têm aulas de robótica com teoria e prática e cursos de mecânica. No momento da visita, 1.500 alunos estavam espalhados por salas, laboratórios e em atividades práticas.
Celso Hypólito, orientador de práticas profissionais, estudou no SENAI e trabalha na instituição há 28 anos disseminando conhecimento. “A oportunidade que esses alunos têm é única, pois aprendem uma profissão. O SENAI apresenta a eles diversas áreas tecnológicas e, assim, ganham uma ampla visão do mundo do trabalho”, conta.
Uma das participantes do Conhecendo a Indústria, a diretora do Departamento de Apoio à Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Adriana Martin, ficou entusiasmada em conhecer a Escola Roberto Mange. “Para mim, o SENAI é modelo de educação no país. Infelizmente, no Brasil, o ensino técnico é menos valorizado do que o ensino superior. E não é por aí. Tem que fazer parte da educação de casa dizer que toda profissão tem valor”, opina.
Sobre o Conhecendo a Indústria
Desde 2014, o Conhecendo a Indústria já teve 28 edições, duas delas sobre Propriedade Intelectual. Mais de 300 representantes do governo, agências reguladoras, bancos oficiais e congresso participaram do Programa, com edições em estados como Bahia, Espírito Santo, Goiás, Amazonas, Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Maranhão e Piauí.