Parceiros internacionais ajudam SENAI em processos de inovação

Instituto Fraunhofer, da Alemanha, e MIT, dos Estados Unidos, inspiraram a construção da maior rede de inovação do país, liderada pelo SENAI, que, em poucos anos, colhe resultados surpreendentes

A empresa paranaense Ervateira São Mateus aumentou em 25% a produção de erva-mate para atender ao crescimento da demanda no mercado internacional, em especial da União Europeia e Estados Unidos. O crescimento começou há mais de três anos, depois da aquisição de uma nova tecnologia de secagem da erva-mate baseada em tubos de calor que fazem a troca térmica com ar quente limpo a partir da queima de qualquer biocombustível. Com o equipamento, reduziu-se ainda mais o nível de substâncias químicas tóxicas, a patamares aceitáveis em legislações de outros países e blocos econômicos, como a União Europeia.

A nova tecnologia foi fruto de uma parceria do Instituto de Inovação em Biomassa, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), com a UK Innovation, agência de inovação do Reino Unido. O projeto contou ainda com o envolvimento de uma fabricante de trocadores de calor inglesa, para confecção do equipamento. “Além de um produto mais limpo, a tecnologia permite reduzir custos, já que o processo tradicional de secagem da erva-mate, com o ar quente da primeira fase de produção, consumia mais energia”, destaca o professor Luiz Wrobel, um dos responsáveis pelo projeto.

De acordo com Ignacio Carrau, diretor da Ervateira São Mateus, a empresa já buscava há mais de cinco anos equipamento que permitisse a secagem de erva-mate a base de biomassa. O projeto com o Instituto SENAI de Inovação em Biomassa surpreendeu tanto que rapidamente de piloto foi transformado em ação de produção em larga escala na empresa. “Hoje estamos aplicando a tecnologia em outros processos de secagem dentro da fábrica”, conta Carrau.

Assim como no projeto desenvolvido na Ervateira São Mateus, os 27 Institutos SENAI de Inovação espalhados pelo Brasil contribuem para acelerar o processo de inovação ao buscar referências nacionais e internacionais em quatro frentes prioritárias para a indústria brasileira: bioeconomia e sustentabilidade; tecnologias produtivas e manufatura aditiva; fábricas e produtos inteligentes; e materiais avançados. De 2012 até o fim de 2018, essa rede de inovação, que já é a maior do país, tinha realizado 626 projetos avaliados em R$ 705,7 milhões.

Segundo o diretor de Operações do SENAI, Gustavo Leal, praticamente metade dos institutos surgiram em áreas em que a instituição já atuava, como automação e materiais avançados. A outra metade são de segmentos em que o SENAI não tinha qualquer experiência, como biotecnologia e eletroquímica. “Pela complexidade do projeto, a expectativa era de que a rede de Institutos SENAI de Inovação levaria mais tempo para atingir os atuais níveis de maturidade e de projetos”, destaca Leal. “A rapidez com que a rede atingiu elevado profissionalismo, com atendimento às indústrias dentro dos prazos, também surpreende”, comenta.

Parcerias internacionais ajudaram a criar a rede de institutos

A velocidade com que os Institutos SENAI de Inovação foram implantados e estão amadurecendo se deve em grande parte à escolha de parceiros que são referências mundiais na implantação e gestão de sistemas de inovação. Entre os quais está a Sociedade Fraunhofer, especialmente por meio do Instituto Fraunhofer IPK, da Alemanha, e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos. As duas instituições ajudaram o SENAI a estruturar uma atuação voltada à pesquisa aplicada e à inovação pré-competitiva.

Enquanto a Fraunhofer ajudou na construção de modelos de governança e da estrutura operacional da rede do SENAI, o MIT contribuiu na implantação de um sistema de inovação aberta, que é baseado em parcerias de empresas com universidades, centros de pesquisa e startups para acelerar processo inovativo. “O intuito dessas parcerias é reduzir a curva de aprendizagem na implementação da rede dos Institutos SENAI de Inovação”, explica Leal.

A Fraunhofer ajudou na governança e na estrutura operacional da rede do SENAI. O MIT contribuiu na implantação do sistema de inovação aberta. 

Até 2012, quando os Institutos de Inovação começaram a ser implantados, o SENAI atuava de forma pontual em pesquisa aplicada. “Na época achamos o projeto da rede de inovação no Brasil ambicioso, pois o SENAI não tinha experiência. Era quase impossível ter essa rede em sete anos”, conta o doutor em Engenharia Markus Will, gerente de projeto do Instituto Fraunhofer IPK no Brasil, que acompanha a rede do SENAI desde o início da implantação. “Tivemos uma surpresa muito positiva ao ver que o plano saiu do papel de forma bem exitosa e hoje a rede do SENAI atua em nível bem profissional.”

Will fez um paralelo da implementação da rede de Institutos de Inovação do SENAI com a da própria Fraunhofer, que conta com mais de 70 institutos, em áreas de fronteira tecnológica, espalhados pela Alemanha. “Contamos hoje com uma estrutura que levou 70 anos para ser construída”, comenta. “O que a Fraunhofer tem hoje pode ajudar muito na construção de uma rede de inovação em um país continental como o Brasil.”

Institutos abrem possibilidades para a indústria

As áreas de atuação dos Institutos de Inovação foram escolhidas pelo setor industrial. Para isso, foram realizadas mais de cem reuniões com gestores empresariais de todo o País para a escolha de áreas de pesquisa prioritárias, baseada em tendências mundiais.

Além de Fraunhofer e MIT, para a construção da rede de inovação, o SENAI tem feito parceria com outras instituições de referência mundial para apoiar projetos específicos de pesquisa aplicada. Exemplo é a aproximação com a Research Institutes of Sweden (Rise), da Suécia, em iniciativas de Indústria 4.0 e bioeconomia. Entre os parceiros está o Instituto de Inovação em Biomassa. Localizada em Três Lagoas (MS), capital mundial da celulose, essa unidade de pesquisa aplicada do SENAI foi instalada em uma localidade com elevada produção de biomassa de eucalipto.

Mas as pesquisas avançam muito além do eucalipto, com uso de outros tipos de biomassa florestal e agrícola, de resíduos, animal, de algas, plantas aquáticas e até microbiana.

“Parcerias internacionais são cruciais para avançarmos com outros produtos e sermos referências na área”, destaca a diretora do Instituto SENAI de Inovação em Biomassa, Carolina Andrade.

“O intuito é sempre agregar valor à cadeia e, por isso, trabalhamos desde o controle de pragas que atuam nessas culturas de biomassa até a geração de químicos renováveis e biocombustíveis.”

Futuro guarda mais interação com instituições de ponta

Will, do Instituto Fraunhofer IPK, percebe a agenda de bioeconomia – que inclui a produção de bioenergia, cosméticos, fármacos, alimentos, entre outros, com uso de tecnologias 4.0 – como um grande potencial do Brasil. “Isso é um ativo, que pode ser feito com parcerias internacionais colocando o país como líder em pesquisa e inovação na área”, destaca.

Essa pode ser uma das grandes apostas do SENAI para parcerias futuras. Segundo Will, o próximo passo para amadurecimento da rede será a competência para pesquisas mais complexas e multidisciplinares, em que haja mais interação entre os próprios Institutos de Inovação. “Pretendemos ainda fortalecer a parceria dessa rede com a Fraunhofer para que possamos integrar e participar mais ativamente de projetos de inovação no Brasil”, declara Will.

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