Novo método para construir currículos é chave na modernização dos cursos de Engenharia, diz diretor do Insper

Irineu Gianesi foi um dos participantes de debate online sobre a implantação nas Diretrizes Curriculares Nacionais realizado, nesta sexta-feira (18), nas redes sociais da CNI

O novo currículo adotado evitará a repetição do atual modelo e sera mais focado na transmissão de conteúdo

A construção do novo currículo é um dos principais desafios da modernização dos cursos de Engenharia pelas Instituições de Educação Superior, avaliou, nesta sexta-feira (18), o diretor de Novos Projetos Acadêmicos do Insper, Irineu Gianesi. Ele foi um dos participantes de debate online sobre a implantação nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) promovido pela Mobilização Empresarial pela Inovação, coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Segundo ele, para desenvolver competências nos alunos, como previsto nas DCNs, é preciso adotar um novo método de desenho de currículos para evitar a repetição do atual modelo, mais focado na transmissão de conteúdo.

“É preciso pensar em como desenhar experiências de aprendizagem que engajem de fato os alunos e que desenvolvam a motivação intrínseca dos alunos na aprendizagem”, afirmou Gianesi. “Um dos desafios das novas diretrizes é desenvolver um currículo por competências que requer um novo método de desenho, caso contrário, apesar de toda a intenção, é possível que velhos currículos renasçam”, complementou.

Durante o debate, mediado pela diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio, o diretor do Insper apresentou um método com cinco etapas de construção de currículos que se inicia pela análise do perfil do egresso e as competências necessárias, e segue com o desdobramento das competências e sua avaliação. Em seguida, ele sugere que se faça a concepção do percurso de aprendizagem das habilidades; a ideação das experiências de aprendizagem; o desenho macro dos currículos e, por fim, a especificação dos componentes curriculares.

Confira como foi o debate virtual

Na opinião de Gianesi, não há conflito entre desenvolver competências e transmitir o conteúdo essencial para a formação do engenheiro. “Essa discussão é estéril. Não se pode falar em competências se você não tiver o conteúdo associado. Os conteúdos, aquilo que é tão caro para todos os professores e os engenheiros mais tradicionais que entendem o poder do conteúdo, está lá. Simplesmente a nossa missão não é entregar um conteúdo para o aluno, é desenvolver uma competência associada àquele conteúdo”, argumentou. 

Universidades já iniciaram o processo de alteração dos cursos

Durante o debate online, a diretora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Liedi Légi Bariani Bernucci, e o presidente da comissão de graduação, Antonio Seabra, apresentaram as diretrizes da POLI/USP no trabalho de alteração de seus currículos. Segundo Seabra, a instituição centenária busca, entre outros aspectos, ampliar a interação entre a engenharia e a sociedade, assim como criar a cultura do aprender permanente no estudante.

“Entre os perfis esperados dos egressos destaco o preparo para enfrentar situações novas com iniciativa e criatividade e a capacidade de buscar de gerar conhecimento tecnológico e metodológico. É claro que a gente não está deixando os fundamentos da engenharia de lado, mas a visão tem de ser mais abrangente”, explicou. “Devemos estimular e proporcionar ao estudante que ele seja capaz de planejar e ser objetivo no estabelecimento de metas e soluções técnico-econômicas, e também deve ser capaz de liderar equipes de trabalho com iniciativa, criatividade e visão de todo para a tomada de decisões”, disse.

Outra experiência de mudança na graduação foi apresentada pelo diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luiz Carlos Pinto Silva Filho. Entre os desafios do processo apontados por ele estão a necessidade de mudança de mentalidade docente, dos estudantes e das instituições; a adaptação a uma aprendizagem ativa; a promoção de novas formas de avaliação, compatíveis com ensino por competências e o alinhamento das expectativas da universidade com sociedade, ou seja entre empresas e egresso.

“Ter as empresas e egressos dentro, opinando de uma forma continuada, foi muito rico no nosso processo e a gente quer garantir que isso continue para que a gente tenha sempre essa bússola”, afirmou.

O gerente de Desenvolvimento Tecnológico da Embraer, Maurílio Albanese Novaes Jr, mostrou ainda que é possível uma interação permanente entre indústria e academia com excelentes resultados. Ele apresentou o Programa de Especialização em Engenharia da Embraer, que busca desenvolver nos recém-contratados conhecimentos especializados por meio de um aprendizado acelerado, multidisciplinar e baseado no desenvolvimento de competências e habilidades requeridas pela empresa.
 

É necessário criar um relacionamento entre o mundo acadêmico e empresarial ainda na graduação

Parceria constante entre academia e empresas é fundamental

Para Albanese Novaes, é essencial a parceria entre academia, empresas e governo para formar engenheiros com capacidades que transcendem o conhecimento técnico diante do que será exigido desse profissional. “É fundamental que tenhamos o conhecimento centrado na construção de competências e habilidades porque o futuro é múltiplo e incerto”, avaliou. 

“Uma estratégia muito boa é o foco em estabelecer uma conexão sempre constante entre indústria, academia e governo, estarmos sempre muito conectados, agregando as habilidades e competências para os engenheiros porque isso independe, de certa forma, da tecnologia específica de determinado momento. A tecnologia vai mudar, vai sofrer alterações, mas capacidades e habilidades permeiam tudo”, defendeu.

A diretora de Inovação da CNI também destacou a importância da parceria entre empresas e universidades. “Espera-se que os egressos desse curso contribuam para a realização da inovação nas empresas e para contribuir com que o Brasil se torne um país mais inovador. É importante cultivar o relacionamento entre o mundo acadêmico e empresarial ainda na graduação. Melhorar a formação das pessoas é central para aumentar o potencial de inovação das empresas e esse é um grande desafio para o país”, defendeu Gianna Sagazio. Na útlima edição do Índice Global de Inovação, o Brasil ficou em 62ª posição no ranking com 131 países.

As Instituições de Educação Superior têm até abril de 2022 para modernizar a graduação a fim de que os profissionais formados na área sejam agentes de inovação, de acordo as novas Diretrizes, homologadas em abril do ano passado. As DCNs deram maior autonomia às instituições de educação para desenhar seus currículos segundo suas prioridades e contexto de atuação. Os novos modelos curriculares devem estimular a experimentação e dar protagonismo aos alunos no processo de aprendizagem, assim como desenvolver competências técnicas e socioemocionais. 

A CNI, por meio da Mobilização Empresarial pela Inovação, participou da construção de documento produzido pela Comissão Nacional de Implantação das Diretrizes Curriculares de Engenharia, coordenada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). O documento contém orientações relevantes baseadas em evidências, assim como experiências bem sucedidas para estimular e acelerar o processo nas escolas de Engenharia de todo o país. 
 

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