Indústria precisa pagar energia consumida, e não demanda contratada, diz Fernando Pimentel

Presidente da Abit, Pimentel pediu solução para o período de pandemia, em live da CNI sobre setor elétrico. Debate contou com representantes da Aneel, Ministério de Minas e Energia e Abrace

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, fez um apelo ao governo e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), nesta sexta-feira (5), para reduzir o custo da energia elétrica do setor industrial, durante o período de pandemia. Ele defendeu que o pagamento seja sobre a energia consumida, e não sobre a demanda contratada, com possibilidade de compensações após a crise.

“Estamos tendo desligamento de energia de fábricas e nada aconteceu que pudesse atenuar a situação das empresas consumidoras de energia. As empresas estão tendo que pagar uma demanda que não tiveram que consumir sob o risco de ter a energia desligada”, pontuou Fernando Pimentel, que também integra a diretoria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), durante live sobre o setor elétrico realizada pela CNI em parceria com a Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace).

Pimentel destacou que somente as empresas que compram no mercado livre de energia estão conseguindo negociar, mas lembrou que a grande maioria está refém das distribuidoras, que, segundo ele, não estão se mostrando dispostas a negociar. “A energia vem sendo um custo muito crítico para a indústria. Dentro desse contexto, há um desespero enorme. Esta é a verdade do mundo real, daquela indústria que está sem demanda ou com pouca demanda durante a pandemia”, disse.

Segundo o presidente da Abit, o setor industrial precisa, com urgência, que o setor público adote medidas para atenuar o peso da energia sobre os segmentos para, assim, atravessar a crise e retomar a produção. “Ninguém quer dinheiro jogado de helicóptero. Mas precisamos de fôlego para religar o processo produtivo. O setor não quer favor, quer respirar para atravessar o deserto”, afirmou. Pimentel observou também que a indústria brasileira demonstrou efetivamente o seu valor durante a crise, ao reagir com rapidez na produção de equipamentos de proteção, como máscaras, e de respiradores para hospitais, entre outros diversos itens essenciais.

Para Fernando Pimentel, a inovação será um dos fatores essenciais para empresas sobreviverem e preservarem empregos. Segundo ele, muitas indústrias anteciparam planejamentos que tinham o horizonte de três anos e implementaram soluções inovadoras em três meses. “É hora de ousar em propostas. É um momento oportuno de avançarmos com proposições ousadas, já que uma crise como essa com grandes perdas também nos traz boas lições”, frisou.

Redução de encargos e agilidade em torno das tarifas de energia

Moderador da live “Energia para sair da crise: como gerar energia a preços competitivos e estimular a economia, o comércio e a indústria para ajudar o Brasil a voltar a crescer?”, o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa, alertou que, antes mesmo da pandemia do novo coronavírus, a normalidade do país era de “energia barata e conta cara”, em razão de impostos, encargos e distorções. Pedrosa defendeu a redução ou A extinção de encargos setoriais que são cobrados diretamente na conta de energia e maior agilidade no processo de resolução do problema que gira em torno da demanda contratada e da demanda medida nas indústrias.

Representando o Ministério de Minas e Energia (MME), o secretário-adjunto de Planejamento e Desenvolvimento Energético do órgão, Hélvio Guerra, afirmou que não há soluções simples para o setor elétrico enfrentar a crise. Segundo ele, a pandemia vem afetando de forma drástica o setor, com resultados como a redução de carga de distribuição na ordem de 15% e de aumento na inadimplência de 3% para 10%.

O secretário do MME destacou que o ministro Bento Albuquerque se empenhou diretamente na articulação com os governos estaduais para evitar a paralisação de obras e dos empreendimentos em operação, como medida para evitar a distribuição de energia. Disse ainda que, independentemente da crise ocasionada pela covid-19, os reajustes e revisões tarifárias já iriam acontecer em um futuro próximo. “Não teremos soluções simples nem almoço grátis”, enfatizou Guerra, que recentemente foi indicado pelo presidente da República para uma vaga de diretor da Aneel – a indicação ainda precisa ser aprovada pelo Senado.

A diretora da Aneel Elisa Bastos detalhou durante a live todas as ações emergenciais adotadas pela autarquia para minimizar os efeitos da crise. “Temos buscado soluções sempre olhando para o consumidor independentemente de classes. Essa pandemia produziu efeitos negativos para todos os segmentos da economia e desafia todos a pensarmos uma nova forma de produção e de relacionamento com os clientes”, disse. 

Segundo ela, mais de 400 contribuições de diferentes segmentos da sociedade serão analisadas pela Aneel para que medidas sejam adotadas – uma já adotada foi a aprovação do repasse de cerca de R$ 2 bilhões do fundo de reserva para as distribuidoras do sistema interligado, com o objetivo de “reforçar a liquidez” do setor elétrico. Em relação aos encargos, ela disse que todos concordam com a racionalização das cobranças, mas pontuou que o grande desafio é conciliar propostas entre todos os atores do setor.

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