O Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) da Confederação Nacional da Indústria (CNI) debateu nesta quarta-feira (23) alternativas para o uso de trechos ociosos e abandonados da malha ferroviária brasileira. Atualmente, 30% dos cerca de 30 mil km de ferrovias do país estão nesta situação. O Coinfra discutirá com federações das indústrias e associações setoriais soluções para esses trechos, de forma a potencializar o transporte de carga pelo modal ferroviário.
As ferrovias respondem por 3% dos contêineres transportados no país. De acordo com o especialista em Infraestrutura da CNI Matheus de Castro, existe uma “janela de oportunidade” que pode viabilizar a estruturação progressiva de um sistema ferroviário destinado à movimentação de contêineres e outras cargas industriais. Os caminhos, segundo ele, passam por investimentos com recursos dos novos leilões e da prorrogação dos contratos atuais de concessão, e por outorgas de autorização para a exploração de ferrovias.
“A proposta que debatemos da ‘Ferrovia do Contêiner’ não é de uma linha ou projeto específico, mas sim de um sistema ferroviário que conecte e otimize trechos ociosos e projetados para expandir o transporte de manufaturas e contêineres”, afirma Matheus de Castro. “A nossa ideia é sensibilizar as autoridades competentes sobre a necessidade de alavancar o transporte de manufaturas e contêineres nos projetos ferroviários atuais e previstos”, acrescenta.
Conselheiros que representam federações das diferentes regiões do Brasil alertaram para o potencial da entrada de investidores nos trechos ferroviários ociosos. “O grande desafio é que o investimento seja pago pelo investidor, aproveitando trechos já existentes. O chamado Tronco Sul, que liga São Paulo ao Paraná e Santa Catarina, numa região bem industrial, pode ser um bom piloto, pois liga a região produtora à região consumidora”, alertou João Arthur Mohr, conselheiro do Coinfra e gerente de Assuntos Estratégicos da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP).
Modernização do setor elétrico
Durante a reunião virtual do Coinfra, também foram apresentadas as principais propostas da indústria para o setor elétrico. Entre elas estão a aprovação do Projeto de Lei (PL) 414/2021, que moderniza o setor, a partir da redução de custos e da possibilidade de os consumidores migrarem do mercado cativo para o mercado livre de energia elétrica. O projeto está em tramitação na Câmara dos Deputados, onde deve ser votado nos próximos dias.
O especialista em energia da CNI Roberto Wagner Pereira observou que o custo da energia do Brasil é um dos mais altos do mundo, no mercado regulado. No mercado livre, o custo é considerado competitivo na comparação com outros países.
“Cerca de 39% do preço final da energia hoje é atribuída a encargos e impostos, inclusive superior ao próprio custo de geração da energia, que é de 34,5%”, pontuou o especialista.
A tendência, conforme Roberto Wagner, é de haver novos aumentos de tarifa em razão da necessidade de arrecadação dos estados, fator que deve ser combatido para que o produto brasileiro não perca ainda mais competitividade. “O Brasil é um país de energia barata, mas de tarifa cara”, destacou.
Os conselheiros alertaram para o risco de o PL 414/2021 receber emendas que culminem em mais subsídios sobre a conta de luz. “Há movimentos na Câmara para a recontratação de termelétricas, aumento de subsídios e incorporação de custos de gasodutos. Vamos nos unir numa agenda da competitividade da energia. A batalha de hoje é o projeto de modernização do setor”, enfatizou Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace).
Outro tema debatido na reunião foi o cenário do setor de petróleo e gás, que enfrenta recorrentes reajustes no preço dos combustíveis. A ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Magda Chambriard fez apresentação sobre as tendências para 2022. Segundo ela, o gás natural que tem sido vendido para as indústrias chega com valor, em média, 3,8 vezes maior do que o negociado entre produtores. Já o valor para as térmicas é 2,6 maior, em média, conforme Magda.