Nesta semana, o tema educação está sendo pautado por um problema que aflige não só o Brasil, mas vários países: a desvalorização da carreira docente, que resulta em um apagão de professores. Segundo a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), se o mundo quiser alcançar a meta de ensino básico universal até 2030, vai precisar suprir a falta de 44 milhões de docentes.
A primeira reunião do Grupo de Trabalho (GT) de Educação do G20, realizada nesta segunda (20) e terça-feira (21) em Brasília, reuniu 30 delegações das 20 maiores economias do mundo e de nações e organismos convidados, que se debruçaram sobre o desafio.
O Serviço Social da Indústria (SESI) foi a única instituição de ensino convidada para participar dos dois dias de discussões. Em 14 meses, o SESI conseguiu saltar de 400 para 8,8 mil docentes impactados pelo programa de formação continuada de professores da rede. O superintendente de Educação do SESI, Wisley Pereira, destaca a experiência, que apresenta ótimos resultados e pode ser implementada na rede pública por meio de parcerias com estados e municípios, responsáveis pela oferta da educação básica.
“Ficou claro, nas discussões do G20, que a valorização da carreira docente é um desafio para países desenvolvidos e em desenvolvimento; sendo que, no Brasil, temos o agravante da dimensão do país e das condições de trabalho nas escolas. Os gargalos para a formação continuada de professores são conhecidos, mas faltam experiências nacionais bem-sucedidas que apontem para soluções. É essa experiência que queremos compartilhar”, justifica Wisley Pereira.
O segredo está no modelo de núcleos de formação docente e mentoria, que utilizam o conceito de rede colaborativa de aprendizagem. Funciona assim: o Departamento Nacional do SESI coordena o programa e oferece a formação; e cada estado tem seu próprio núcleo, com profissionais – professores e coordenadores pedagógicos – que passam pela formação oferecida pelo nacional e se tornam formadores em seus estados.
O superintendente reforça que o SESI é a maior rede de ensino privada do país e tem alunos de perfil socioeconômico mais próximo dos da escola pública: a rede está presente em 353 municípios das 27 Unidades da Federação, com 457 escolas, cerca de 300 mil matrículas/ano e 10 mil professores. Sobre o perfil dos estudantes, 10% dos alunos SESI têm renda familiar per capita maior de R$ 2 mil – percentual que é de 3% nas escolas públicas e 41% na rede privada.
Como funciona o programa de formação continuada docente do SESI
O programa de formação continuada de professores começou em dezembro de 2022, com o primeiro encontro de 48 coordenadores pedagógicos. De março do ano passado até maio deste ano, 402 professores de todas as áreas do conhecimento e etapas de ensino passaram pela formação nacional, que contou com três encontros presenciais, que somaram 72 horas. Foram esses profissionais responsáveis pela formação de outros 8.863 professores somente neste ano nos núcleos pedagógicos estaduais.
Escolhidos por serem referência nas escolas e terem o reconhecimento de seus pares, esses profissionais participam de encontros presenciais no centro de formação nacional, em Brasília, duas vezes ao ano. Os encontros acontecem por área do conhecimento ou por etapa de ensino - infantil, fundamental, médio ou Educação de Jovens e Adultos (EJA) - e têm duração de 24 horas.
O superintendente do SESI, Wisley Pereira, explica que são realizadas atividades teóricas e práticas sobre temas relevantes à prática pedagógica, como organização e disposição da sala, equidade, uso de tecnologias e currículo. “Abordamos metodologias de ensino que contribuem para o desenvolvimento de habilidades e competências requeridas na docência e que precisam ser, constantemente, atualizadas. Além dos encontros presenciais, damos apoio contínuo por meio de encontros síncronos, webinars e cursos on-line, que orientam o trabalho pedagógico e fortalecem o sentimento de rede colaborativa”, observa.
Critérios e diretrizes
A composição dos núcleos estaduais de formação docente e mentoria depende da quantidade de escolas, estudantes e profissionais de educação por etapa e modalidade de ensino de cada estado. Uma diretriz fundamental para o êxito do programa é que os professores formadores estejam necessariamente trabalhando em sala de aula. Além de possibilitar o entendimento das situações vivenciadas no cotidiano escolar, isso dá ao professor formador a legitimidade para formar outros docentes.
Já os coordenadores pedagógicos participam de encontros no início e no final de cada ciclo de formação dos professores para que eles fiquem alinhados com os temas e disseminem a visão estratégica para acompanhamento das aprendizagens dos estudantes. Eles são peça-chave dos núcleos.
Outras duas recomendações para efetividade do modelo são: a dedicação de pelo menos 8 horas por semana por parte dos professores formadores e dos coordenadores pedagógicos para autoformação, organização e realização de ações formativas dos pares; e o repasse de recursos financeiros aos núcleos estaduais mediante a apresentação de relatórios quanti e qualitativos. É esse modelo que o SESI pretende passar às redes estaduais e municipais.
Estado do Mato Grosso implementa modelo com a EJA
Exemplo de parceria que pode ser firmada é a que já está em curso com a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc) para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além de fornecer o material didático autoral, o SESI-MT formou um grupo de professores da rede pública em um workshop, que ocorreu nos dias 26 e 27 de março.
Participaram cerca de 90 docentes das Diretorias Regionais de Educação de 14 municípios: Alta Floresta, Barra do Garças, Cáceres, Confresa, Diamantino, Sinop, Pontes e Lacerda, Juína, Rondonópolis, Matupá, Primavera do Leste, Tangará da Serra, Cuiabá e Várzea Grande. São esses docentes que vão repassar o aprendizado com os demais professores de suas respectivas regiões, até que os 141 municípios do estado estejam alinhados ao novo conteúdo.
Recomendações do movimento empresarial B20
Outras pautas relevantes para a educação no país foram levantadas na reunião do G20 pelo superintendente do SESI, Wisley Pereira. Ele representou não só a rede, pela experiência com a formação continuada de professores, como também o B20. O movimento empresarial é liderado, neste ano, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e reúne mais de 1.250 empresas, de 23 países, para prover recomendações políticas aos governos no contexto do G20.
O B20 está organizado em nove forças tarefas e a agenda de educação é discutida no grupo de Educação e Trabalho, que enxerga como prioridade preparar cidadãos que sejam resilientes e produtivos, considerando a acelerada transformação tecnológica e digital e os impactos no setor educacional e nas profissões emergentes no mundo do trabalho. Neste sentido, os pleitos são:
1 - Melhorar a qualidade e a relevância da educação, trazendo novas competências para o currículo do ensino fundamental e médio e para a educação profissional e tecnológica. Destacam-se a educação financeira, a alfabetização digital (programação e robótica, cibereducação, ciências de dados e análise crítica, cibersegurança e IA) e a educação para a sustentabilidade.
2 – Promover a requalificação dos professores e revisar as diretrizes curriculares de formação dos docentes para contemplar as novas competências, além de incorporar novas ferramentas digitais para melhorar o processo de ensino-aprendizagem.
3 – Ampliar a oferta educacional integrada ao mundo do trabalho desde o ensino médio, como os programas de aprendizagem, aconselhamento de carreira, participação em experiências como Grand Prix e outros desafios aplicados que aproximam os mundos da educação e do trabalho.