O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) vai realizar estudos técnicos para o Ministério da Educação (MEC) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o objetivo de ampliar a oferta de cursos voltados para a bioeconomia nos institutos federais e nas redes estaduais de educação profissional da Amazônia Legal.
Os estudos serão produzidos em parceria com o Instituto Amazônia+21 e o Observatório da Indústria do Paraná. Serão quatro documentos para cada um dos nove estados da região (AM, AC, RO, RR, PA, MA, AP, TO e MT): diagnóstico das cadeias de valor, diagnóstico das lacunas formativas, diagnóstico das potencialidades para oferta de cursos e plano de implementação dos cursos.
Cada estado definiu a cadeia de valor e a mesoregião para as quais deseja receber as informações. Tanto os diagnósticos quanto o plano de implementação estarão focados na bioeconomia, ciência que estuda os sistemas biológicos e recursos naturais aliados às novas tecnologias com o propósito de criar produtos e serviços mais sustentáveis, da fabricação, à distribuição e ao consumo.
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Macrocadeias |
Mesoregião |
AC |
Pesca e aquicultura |
Vale do Juruá |
AM |
Pesca e aquicultura |
Centro Amazonense (Bacia do Médio Solimões) |
AP |
Pesca e aquicultura |
Norte do Amapá |
MA |
Energia |
Oeste Maranhense |
MT |
Produção com restauro florestal |
Norte Mato-Grossense |
PA |
Turismo |
Marajó |
RO |
Pesca e aquicultura |
Leste Rondoniense |
RR |
Produção com restauro florestal |
Imediações de Boa Vista |
TO |
Logística |
Ocidental do Tocantins |
Cursos técnicos contribuem para desenvolvimento social e econômico
O diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, destaca que a capacitação profissional é o primeiro passo para o uso sustentável do ecossistema e o desenvolvimento social e econômico da região.
“A partir do momento em que formamos a própria comunidade para conhecer e impulsionar as cadeias de valor da bioeconomia na Amazônia Legal, damos mais oportunidades para a criação de novas fontes de renda e de empregos e a valorização e conservação dos recursos biológicos. O Brasil deveria enxergar a Amazônia como os Estados Unidos enxergaram a ida à Lua: como um elemento inspiracional para construção do futuro”, justifica Lucchesi.
Ao final dos estudos, o plano de implementação dos cursos deverá: indicar o conteúdo do curso técnico; propor estratégia pedagógica a ser utilizada no curso, incluindo possibilidade do uso de Ambientes Virtuais de Aprendizagem, mediação remota e laboratórios; elaborar diretrizes para o planejamento pedagógico; estimar quantos alunos serão beneficiados; oferecer cursos autoinstrucionais de formação para professores; recomendar parcerias entre escolas e/ou redes e setor produtivo; identificar investimentos necessários para o curso, como adequações de espaço, laboratórios físicos e itinerantes, aquisição de equipamentos, entre outros, além de possíveis fontes de financiamento.
No evento de lançamento do estudo, ocorrido nesta terça-feira (3), o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Getulio Marques Ferreira, agradeceu a parceria. “Eu vejo essa iniciativa como a oportunidade de trazer a bioeconomia para o mundo real. A natureza precisa ser pujante e preservada, mas também é muito bom que, numa ação controlada, ela gere emprego e renda; e, com ela, se empreenda sem nunca ser devastada”, disse.
Ana Cristina Rodrigues da Costa, coordenadora de Estratégia Industrial e Desenvolvimento do BNDES reconheceu que há, atualmente, um desafio mundial de construir economias inclusivas, verdes, resilientes e sustentáveis. “É nesse contexto que se insere a ação que estamos lançando hoje. Vamos buscar soluções para manter a floresta de pé com biodiversidade e geração de renda para as comunidades locais”, defendeu.
Brasil tem potencial de aumentar faturamento industrial com bioeconomia
O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo, com cerca de 20% de todas as espécies conhecidas, o que torna a bioeconomia um de seus maiores potenciais econômicos. Estudo recente organizado pela Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) aponta que o desenvolvimento da bioeconomia no país pode resultar em faturamento industrial adicional de US$ 284 bilhões por ano até 2050.
Para isso, seriam necessárias ações complementares para mitigar emissões de gases de efeito estufa (GEE), consolidar o papel da biomassa na matriz energética e elétrica do país e intensificar as tecnologias biorrenováveis. Essas ações, de acordo com o levantamento, que foi realizado em parceria com o SENAI, demandariam investimentos de US$ 45 bilhões.
Atividades e setores bastante diversificados podem se beneficiar: agrícolas e extrativistas, serviços e indústria nos segmentos químico, de energias, suplementos alimentares, fármacos e cosméticos, por exemplo. É importante considerar as cadeias de valor, que são todas as atividades envolvidas no produto/serviço, porque ela traz eficiência e controle dos processos, das etapas iniciais de extração de insumos, concepção e produção, passando pelo atendimento e experiência do consumidor, até o descarte e reaproveitamento, sob uma ótica de circularidade.
Necessidade de formar profissionais é mundial
Com base em uma pesquisa com 800 grandes empresas, que empregam 11 milhões de trabalhadores em 45 países, o Fórum Econômico Mundial projeta, para 2028 e para todo o mundo, que a demanda por emprego crescerá para atividades relacionadas com tecnologias digitais avançadas, seguido por especialistas em sustentabilidade e energias renováveis.
Para viabilizar essa transição, este mesmo estudo estima que seis em cada dez trabalhadores precisarão de treinamento antes de 2027, mas apenas metade dos trabalhadores é vista como tendo acesso a oportunidades de formação adequadas. Investir em aprendizagem e treinamento são estratégias fundamentais para quatro em cada cinco dos entrevistados pelo Fórum Econômico Mundial.