
1996. Angola acabava de sair de um período longo de guerra civil e começava a reconstrução do país. Mas faltava mão de obra em vários setores. O governo brasileiro apoiou este recomeço, por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), que trabalhou em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Neste processo de reconstrução, a fundação do Centro de Formação Profissional do Cazenga, a 15 km de Luanda, capital de Angola, foi um marco.
O SENAI ajudou a comunidade local na construção do centro e depois do local pronto, prestou outros serviços: levou equipamentos de indústrias brasileiras, transferiu a metodologia de ensino profissional usada nas escolas aqui no Brasil e treinou os instrutores angolanos. O apoio brasileiro à estruturação do centro durou 10 anos.
O caso de Angola é um bom exemplo de como o SENAI se tornou uma referência internacional em educação profissional. Depois de Cazenga, vieram projetos em diversos outros países. Até hoje, são foram 8 centros de formação profissional construídos no Paraguai, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Peru, Guatemala, Jamaica, Cabo Verde e Guiné Bissau. Atualmente a instituição trabalha na implantação de escolas de educação profissional no Haiti e em Moçambique.
"A relação do SENAI com o Senati é um marco da cooperação internacional. Agradecemos as ações realizadas e queremos continuar trabalhando de forma conjunta pela excelência da educação e formação profissional", diz Carlos Mendocilla, gerente do Serviço Nacional de Adiestramiento em Trabalho Industrial (SENATI), do Peru.
Além de ajudar na construção e estruturação das escolas, o SENAI também oferece o serviço de capacitação de trabalhadores para empresas brasileiras que estão se internacionalizando. Foi o que aconteceu na África, nas operações de petróleo e gás da Petrobras na costa da Tanzânia. Com este serviço, o SENAI ajuda no desenvolvimento industrial do Brasil em outros países.
SENAI é referência em competições internacionais
O SENAI é reconhecido internacionalmente pela qualidade do ensino que oferece. Nas últimas edições da WorldSkills, a maior competição de educação profissional do mundo, os brasileiros formados pelo SENAI se destacaram nas disputas e ajudaram a colocar o Brasil entre os melhores do mundo.
Os resultados chamaram a atenção de outros países, que têm acionado o SENAI para fazer a preparação dos competidores que vão à Wordlskills. Para a edição de 2019, a Rússia, anfitriã da disputa, contou com o serviço do SENAI para coordenar uma das etapas do treinamento. Vinte e oito competidores russos, de diversas modalidades, fizeram parte da preparação para a competição em escolas do SENAI. Um deles foi Aidár Minéev, que disputou a ocupação Modelagem de Protótipo. "Aprendi a usar alguns equipamentos e a controlar melhor o tempo das tarefas, que é muito importante para a competição", disse o jovem durante o período em que treinou no SENAI de Osasco (SP). Em outra etapa da preparação, experts e técnicos brasileiros foram à Rússia para acompanhar os competidores.
Para o gerente-executivo de Relações Internacionais, Frederico Lamego, estes contratos são a confirmação de que os países reconhecem a expertise do SENAI. “É um reconhecimento internacional da excelência do SENAI e um desafio de assegurar o padrão de qualidade para países com níveis de educação melhores do que o Brasil”, avalia Lamego.
E o SENAI oferece serviço de treinamento não só para competidores que vão participar da WorldSkills mas também para competições nacionais de educação profissional, de cada país, e na área de robótica.
A escola SENAI vai até o aluno
O SENAI também pode levar os cursos de formação profissional ao país que contratar o serviço.
Foi o que aconteceu entre setembro e outubro de 2019, na Guiana Francesa. O país vizinho estava com falta de mão de obra de padeiros e precisava treinar novos profissionais. O governo local procurou o SENAI, que levou não só o instrutor para lá, mas também a sala de aula. Como em Caiena não havia a infraestrutura necessária para as aulas, o SENAI do Amapá enviou a unidade móvel de panificação para a capital do país vizinho. E ali as aulas foram ministradas, em período integral. A carreta tem equipamentos e materiais como os de uma padaria profissional. E comporta turmas de 20 alunos.
Esta foi uma forma mais rápida de oferecer o curso que o país precisava. “Para fazer esta qualificação, teríamos que organizar toda a estrutura do curso e comprar equipamentos. Com a carreta, o SENAI já traz a estrutura pronta e assim conseguiremos, mais rapidamente, novos padeiros”, disse Adrien Knunku Lusala, conselheiro do Greta, órgão responsável pela formação profissional no país. A brasileira Carla Palmerim, que vive na Guiana Francesa e trabalha fazendo salgados e bolos para vender, procurou a formação profissional para se qualificar e oferecer mais produtos aos clientes. “Com o diploma de formação, eu posso conseguir uma permissão para abrir a minha própria padaria aqui em Caiena. Este é um sonho que eu tenho”, conta Carla.
Em algumas ocasiões, quando existe a infraestrutura necessária para as aulas no país que contrata o serviço, instrutores e técnicos do SENAI vão ao país que precisa do treinamento. Foi o caso de cursos de mecânica e construção civil que a Nigéria e países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) contrataram da instituição brasileira.
Por todos estes trabalhos realizados, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o SENAI como uma das três mais importantes instituições para alcance do objetivo de assegurar educação de qualidade entre os integrantes da Cooperação Sul-Sul.
Expert indústria
Além da prestação de serviços para outros países e empresas, o SENAI também trabalha para trazer expertise e tecnologia de ponta de outros países para o Brasil. Um desses programas é o Expert Indústria, onde a instituição traz especialistas para cursos, palestras, seminários para empresários e técnicos brasileiros.
Um exemplo deste serviço foi a vinda de um especialista francês em queijos. Durante algumas semanas, ele esteve em escolas do SENAI no Nordeste e passou técnicas de produção de queijo para instrutores do SENAI e também para micro e pequenos empresários da região. “O SENAI tem uma contribuição decisiva para o desenvolvimento do profissionalismo da indústria brasileira”, diz o responsável pela cooperação, Bruno d'Humières, da ECTi, entidade que foi parceira nesta ação.
Em alguns casos, o curso pode ser feito remotamente. O SENAI contrata o especialista e o treinamento é feito a distância.
Se por um lado é possível gerar renda com a expertise e a qualidade do trabalho, reconhecido mundialmente, por outro, o SENAI investe em trazer para o Brasil inovações e tendências para ajudar no desenvolvimento industrial do país. Sempre de olho no crescimento e melhora da indústria brasileira.