SENAI coordena força-tarefa para requalificar 4,2 milhões de trabalhadores

Seminário de Educação Profissional reuniu instituições de ensino, empresas, governo e organizações internacionais para promover requalificação e aperfeiçoamento da mão de obra brasileira

Com o desafio de preparar jovens e adultos para um trabalho cada vez mais impactado pelas novas tecnologias, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) reuniu instituições de ensino brasileiras, empresas, governo e organizações internacionais, como Fórum Econômico Mundial, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Banco Mundial.  

O Seminário Internacional de Educação Profissional, realizado em parceria com a Fundação Roberto Marinho, por meio do Futura, ocorreu nesta quinta-feira (1º) no formato híbrido com a seguinte provocação: “O que mudar na educação de hoje para o futuro do trabalho?”.

As apresentações e os debates se debruçaram sobre os desafios para expandir e melhorar a formação técnica e profissional, especialmente aquela voltada para requalificação e aperfeiçoamento da força de trabalho. As reflexões e a união de esforços são o pontapé inicial para a Aceleradora de Competências (Closing the Skills Gap Accelerator, no original em inglês), iniciativa liderada globalmente pelo Fórum Econômico Mundial e que, aqui no Brasil, será coordenada pelo SENAI.  

Para o diretor-superintendente do SENAI, Rafael Lucchesi, a educação deve ter centralidade em um projeto de país

A aceleradora tem como objetivo fomentar a interação público e privada e criar um ecossistema de análise, tomada de decisão e ações para requalificar e recolocar profissionais. Até 2030, o Fórum Econômico Mundial espera formar 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. 


“Essa pauta [da aceleradora] surgiu na 50ª reunião do Fórum Econômico Mundial, em janeiro de 2020. No Brasil, serão 4,2 milhões de pessoas qualificadas em novas tecnologias em oito setores. O SENAI coordena a iniciativa nacionalmente com ministérios, a Microsoft e o Banco do Brasil”, explicou o diretor-superintendente do SENAI, Rafael Lucchesi. 


As oito áreas industriais prioritários são: mineração e metalmecânica, logística e transporte, infraestrutura e urbanismo, tecnologia da informação, eletroeletrônica, automotivo, telecomunicações e energia. Ao abrir o seminário, o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, João Alegria, elogiou a iniciativa: “Estamos aqui cuidando da educação básica e continuada da população, para garantir inclusão produtiva da maneira como deveria acontecer”.

Painel - Educação: “Novos perfis, competências e estratégias educacionais para formação de trabalhadores” 

Saadia Zahidi, diretora-geral do Fórum Econômico Mundial 

“A pandemia acelerou o futuro do trabalho com o remoto, a digitalização e a automatização de processos. Estimamos a substituição de 85 milhões de empregos por máquinas e o surgimento de 97 milhões novos postos de trabalho. Para o indivíduo, se requalificar significa melhores oportunidades de emprego e ascensão. Para a empresa, é mais produtividade. Acelerar o progresso em educação e aperfeiçoamento pode adicionar US$ 8,3 trilhões no PIB global até 2030. Só na América Latina e Caribe são US$ 1,5 trilhões.” 

Segundo Zahidi, as habilidades do futuro são: pensamento analítico e inovação; aprendizagem ativa e estratégica; solução de problemas complexos; pensamento crítico e análise; criatividade, originalidade e iniciativa; liderança e influência social, uso de tecnologia, monitoramento e controle; design de tecnologia e programação; resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; lógica, solução de problema e ideação. 

José Borges Frias, diretor de Inovação Corporativa da Siemens 

“Estamos com uma parceria muito estreita com SENAI, porque temos uma pergunta bastante presente no nosso trabalho: ‘de que forma nós, como fornecedores de tecnologia, podemos contribuir para que profissionais da indústria sejam treinados para novos ambientes?’. Como a gente consegue, com todo esse cenário de transformação, gerar um futuro melhor?” 

Geber Ramalho, professor da Universidade Federal de Pernambuco 

“Requalificação é um problema relevante, urgente e complexo. Estamos com um consórcio chamado PRAIA, que é Pesquisa Realmente Aplicada em Inteligência Artificial, junto com o SENAI, 13 universidades brasileiras e quatro estrangeiras. Temos quatro principais desafios na educação: educação de qualidade em larga escala, atualizada com mercado de trabalho, com aprendizado orientado a competências e os novos modelos educacionais.” 

Denise Amyot, presidente do Colleges and Institutes Canada 

“Temos uma força de trabalho em transição. De um lado, há empregadores dizendo ‘nós precisamos de pessoas rápido’. Por outro lado, 10% dos graduados que perderam o emprego retomaram os estudos em até três anos. Mais de 40% das mulheres e mais da metade dos homens escolhem uma faculdade ou instituto para melhorar suas competências. O que leva a vários trabalhadores reingressando no mercado de trabalho nos próximos anos. E as instituições de ensino precisarão ter opções diversificadas e flexíveis de aprendizado, incluindo diplomas, certificados, micro credenciais e programas híbridos, on-line e de meio período.” 

Painel - Trabalho: “Mobilização da rede de atores para novas formas de trabalho e de trajetórias profissionais”

Malgorzata Kuczera, analista de políticas de educação na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) 

"Os desafios para expansão da educação profissional são: professores preparados, escolas com estrutura, diversidade nos perfis dos estudantes e alinhamento da oferta e demanda do setor produtivo. Algumas soluções são parcerias locais, incentivos aos empregados e diferentes formas de Work based learning (aprendizado baseado no trabalho). É preciso avaliar o uso de tecnologias na educação profissional, suas vantagens e desvantagens, sob quais condições são bem-sucedidas."

Gilberto Peralta, presidente do grupo Airbus para o Brasil 

“Temos também problema de formação básica, não é nem habilidade técnica, é ensino tradicional que não forma pessoas com capacidade cognitiva para entender sua função. Então é um duplo desafio."  

Maria Marta Ferreyra, economista Sênior do Banco Mundial 

“No Brasil, os bons programas de graduação tecnológica têm melhores resultados de emprego formal e salário graças à análise frequente da performance dos estudantes, ênfase em competências, levantamento e uso do feedback dos estudantes, testes de graduação, avaliação de frequência, informação do mercado de trabalho e representação do setor privado em comitês governamentais. Agora, como 87% dos alunos de graduação tecnológica estudam em instituições privadas, é importante voltar atenção para o apoio financeiro e promover subsídios para a oferta pública.” 

Sylvia Lorena, gerente executiva de Relações do Trabalho da CNI

“Nesse cenário de transformações, há muitos desafios. Começando pela mão de obra, pela necessidade de formação e pela informalidade, até os novos modelos de trabalho. Precisamos pensar estruturalmente em educação, políticas de qualificação e requalificação e uma legislação adaptada às novas relações do trabalho. O trabalho perde característica típica de permanência continua dentro da empresa, jornada das 8 às 18. O trabalhador quer horário e local mais flexíveis.” 

Painel - Tendências “Aceleração na identificação de tendências do mercado de trabalho e da formação profissional” 

Quinn Chasan, executivo de Negócios Estratégicos do Google

“1,3 bilhão de pessoas no mundo têm um desalinhamento entre o que aprenderam e o que colocam em prática no trabalho. Sobre o gap entre gerar e entregar conteúdo personalizado, temos desafios: a velocidade com a qual se entendem e desenvolvem novas dinâmicas, o quão relevante é aquele conteúdo personalizado, as ferramentas para conseguir entregar em diferentes línguas e formatos e a entrega em si. É preciso pensar na flexibilidade e personalização para os serviços: 60% querem acesso facilitado a soluções self-service, 64% esperam receber assistência em tempo real.”

Christian Harter, consultor Sênior da fka GmbH 

“Temos conexão muito forte com o sistema de qualificação da Alemanha e players brasileiros. A mobilidade elétrica é o futuro da mobilidade. Na Europa, já temos 10% dos carros elétricos e, no Brasil, as carreiras do setor automotivo serão impactadas. Quando falamos de qualificação para eletromobilidade, falamos de competências de mais de uma área. Exemplo, sistema de bateria envolve química, elétrica, mecânica. Minha sugestão é pegar os cursos já existentes e incorporar novas competências.” 

Suelen Marcolino, gerente de Diversidade, Inclusão e Pertencimento no LinkedIn 

"Identificamos quatro tendências de recrutamento, que são importantes não só pra quem está procurando trabalho, mas também para as companhias captarem e reterem talentos: experiência do colaborador, people analytics, recrutamento interno e força de trabalho multigeracional. Parece clichê, mas o fio condutor é empatia, as companhias buscarem entender melhor as demandas dos seus talentos em lugar de apenas servir-se deles. E 73% dos profissionais permaneceriam na empresa se tivessem mais oportunidades de aprendizagem." 

Marcio Guerra, gerente executivo do Observatório Nacional da Indústria, da CNI 

“Precisamos trazer o futuro para a educação de hoje e estar atentos à velocidade em que as transformações vão acontecer. Nesse sentido, aqui no Observatório, fazemos estudos prospectivos, para analisar as tecnologias e a velocidade de difusão e como impactam no trabalho. Assim, desenhamos os perfis profissionais e nos conectamos com os itinerários formativos do SENAI. Tem mais de 20 anos que fazemos estudos de futuro e temos três pilares: prospectiva, rede colaborativa e big data.” 

Painel - Ações no Brasil “Novas abordagens colaborativas entre os setores público e privado para qualificar e redistribuir a força de trabalho brasileira”

Ramon Iriarte, especialista em Educação Profissional da OREALC/UNESCO 

“Ao traçar uma estratégia para educação profissional na América Latina e Caribe, entre 2022 e 2029, definimos alguns objetivos: expandir o acesso; impulsionar as oportunidades de qualificação dentro de uma perspectiva de aprendizagem ao longo da vida; fortalecer a formação e inicial e continuada do pessoal envolvido na EPT, como docentes, instrutores e gestores; assistir o desenvolvimento de modelos de governança e financiamento e de sistemas que assegurem a qualidade; e impulsionar temas emergentes, como inovação, sustentabilidade e cidadania global.” 

Maria Rebeca Otero Gomes, coordenadora de Educação da UNESCO/Brasil

“Dentro do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4, temos metas diretamente associadas à educação profissional. No Brasil, apoiamos estados, o Ministério da Educação e parceiros privados. Um dos nossos estudos identificou que expandir a oferta de técnicos de nível médio sem considerar a demanda do setor produtivo pode desencadear desequilíbrio com impactos na remuneração. Um mais recente, ainda em andamento, mostra que 44% dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental pretendem fazer um curso de FTP, então precisamos achar uma forma de expandir.” 

Joelma Kremer, diretora de Políticas e Regulação da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação - SETEC/MEC 

“Não se faz política pública sem dados e precisávamos estruturar os dados de educação profissional, porque não tem um censo específico. Lançamos então o anuário da EPT, um mapa de demandas e o monitor de profissões. E estamos com várias iniciativas, como o Qualifica+ e o Verticaliza.” 

Natália Di Ciero Leme, gerente de Programas e Parcerias na Fundação Arymax 

“Há alguns anos, redirecionamos nossa atuação para inclusão produtiva de pessoas em situação de vulnerabilidade. E acreditamos que o terceiro setor também tem que trabalhar baseado em evidências. Lançamos o retrato da informalidade no Brasil e uma pesquisa com empresas sobre inclusão produtiva de jovens com ensino médio e técnico. Em comparação com jovens com ensino médio completo, formados no técnico, que são cerca de 5% daqueles de 18 a 27 anos, têm mais chance de estarem ocupados em empregos formais. Mas 38% das empresas consideram a contratação para cargos médios/técnicos difícil ou muito difícil.” 

Felipe Morgado, superintendente de Educação Profissional e Superior do Departamento Nacional do SENAI 

“Hoje discutimos muito skilling, upskilling e reskilling e acho que essa deve ser a agenda das instituições de educação profissional. Temos um novo ensino médio sendo implementado, que ainda não tem reflexo nas pesquisas aqui citadas, mas o SENAI foi pioneiro, já formou duas turmas, e tem resultados muito positivos. Sobre a aceleradora de competências, o Fórum Econômico Mundial identificou, com as empresas, oito áreas que devem ser priorizadas para aperfeiçoamento e requalificação. Faço um convite para quem quiser aderir a essa grande rede.” 

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