Propriedade intelectual nas escolas: ciência e inovação começam aqui

Soluções para o espaço e combate à Covid-19: após desenvolverem produtos inovadores, professores e alunos depositam pedidos de patente de projetos da robótica

Os estudantes perceberam que as mulheres não participavam de viagens de longa duração no espaço por conta do ciclo menstrual

A ciência está presente em todos os lugares e a todo momento, seja no trânsito, no supermercado, na sua casa ou nas escolas. Ela ganha forma nas pesquisas e experiências de laboratório, mas nasce, principalmente, da curiosidade humana. 

A cultura da Propriedade Intelectual (PI), um dos importantes pilares da economia, pode ser levada para a escola para despertar nas crianças e nos jovens o poder da invenção e inovação, pois ensina e estimula a criatividade, a pesquisa e a descoberta. 

Mas, afinal, o que significa Propriedade Intelectual? 

É o conceito relacionado com a proteção legal e o reconhecimento de autoria de obra de produção intelectual, que garante ao autor o direito, por um determinado período, de explorar economicamente sua própria criação. A propriedade intelectual, portanto, protege a informação e o conhecimento contido em um objeto.
 
Nós já temos exemplos de estudantes cientistas, que testemunharam como esse processo pode ser transformador para a trajetória deles e para a sociedade, como um todo, que se beneficia das soluções.  
 
Daniel Gudin, Natália Coelho e Ana Sofia participaram do desenvolvimento dos projetos CosmoCup, Cabine de esterilização de livros e Chiliclete, respectivamente. Suas ideias deram tão certo que agora estão passando pelo processo de depósito de patente para proteger e valorizar, ainda mais, suas criações. 

Entenda o que é patente de invenção

Dentre os tipos de propriedade industrial, tem a patente de invenção, que é concedida a uma criação totalmente nova e que tenha uma aplicação industrial. Para produzir ganhos para a sociedade, a patente de invenção não pode ser eterna, tendo validade de 20 anos antes de cair em domínio público.

Conheça as soluções inovadoras

O CosmoCup é um coletor menstrual pensado para facilitar a vida feminina no espaço. O projeto foi elaborado pela equipe de robótica FrancoDroid, do Colégio Liceu Franco-Brasileiro, no Rio de Janeiro. 
 

Os estudantes perceberam que as mulheres não participavam de viagens de longa duração no espaço por conta do ciclo menstrual, uma vez que absorventes e coletores comuns dissipavam o sangue em decorrência da gravidade. A única solução, até então, era o uso contínuo de pílulas contraceptivas para controlar o fluxo, o que, com o tempo, tornava-se prejudicial à saúde.

Diferente dos coletores tradicionais, o CosmoCup possui uma película protetora com um corte em formato de cruz no centro. Dessa forma, o sangue entra no recipiente pela contração natural da região, mas não sai.

Na mesma temporada, de soluções para o contexto espacial do torneio de robótica FIRST LEGO League Challenge (FLL), outra equipe que se destacou foi a Gametech Canaã, da unidade SESI Canaã, de Goiânia. O grupo criou o Chiliclete, um chiclete de pimenta para astronautas com o objetivo de descongestionar as vias superiores e permitir que eles consigam sentir o sabor dos alimentos, uma vez que, após alguns dias no espaço, eles perdem o paladar e ficam com as passagens nasais bloqueadas, devido à gravidade que afeta os fluídos corporais.

Já a equipe Robolife participou do Torneio SESI de Robótica - Desafio Covid-19, em 2020, para incentivar jovens a pensarem em soluções para a pandemia. A equipe esteve entre as sete melhores soluções, na categoria melhor projeto de pesquisa, e inventou a Cabine de esterilização de livros. O equipamento gera ozônio e o utiliza para fazer a desinfecção dos materiais. Assim, várias pessoas podem fazer uso dos livros com segurança.

A cabine de esterilização de livros faz a desinfecção com ozônio

Nova geração de cientistas

O desenvolvimento da PI nas escolas promove experiências nos campos cognitivo e social dos estudantes. Para Daniel Gudin, 18 anos, integrante da equipe FrancoDroid, a construção do projeto CosmoCup ajudou a quebrar tabus em relação ao universo feminino.


“A gente teve que explicar para diversas pessoas e muitas não sabiam nem o que era menstruação ou a relevância disso. Homens, principalmente. Ainda mais quando a gente foi na etapa Internacional do Líbano, que é um país bem conservador nesse aspecto”, recorda o aluno.


Ele conta ainda que a troca de vivências, opiniões e culturas nos torneios de robótica serve de aprendizado e expande os pensamentos ‘fora da caixa’.

Já a estudante Natália Coelho, 16 anos, integrante da equipe Robolife, destaca que a ciência deve começar desde cedo nas escolas e que projetos como o da Cabine de esterilização de livros fazem com que as pessoas voltem a acreditar no conhecimento científico, além de inspirar outros alunos. 


“Acredito que existam muitos estudantes, espalhados por todo Brasil, que criaram projetos incríveis, com uma importância gigantesca para a sociedade, mas talvez nem os professores saibam da existência desses projetos e eu acredito que é isso, esse projeto incentiva as pessoas a olharem mais para os seus alunos e perceberem o potencial que eles têm”, ressalta.


PI na sala de aula

Os estudantes aprendem sobre PI na prática. Ao longo do processo de depósito de patente, eles participam ativamente, em especial da pesquisa de anterioridade, conforme explica Clóvis Campagnolo, professor do SESI Candeias e orientador do projeto Cabine de Esterilização de livros. 
 
“Esse é o momento em que a gente envolve os estudantes, convida para participarem de todo o processo, de como conseguir a patente, qual investigação fazer. A gente traz os alunos para perto.” 
 
Para Clóvis, esse tipo de projeto engaja os jovens a construir soluções inovadoras e promove a busca incessante pelo desenvolvimento da iniciação científica, o que impacta na evolução da ciência no país. 
 
Por sua vez, Flamarion Gonçalves, professor do SESI Canaã e orientador do projeto Chiliclete, chama atenção para a desconstrução do que seria ciência. “A ciência é algo que se produz quando eu tenho curiosidade, quando eu quero saber o porquê, quando eu quero tentar achar uma solução para algo determinado. As invenções não nascem prontas, elas passam por um processo de criação, de tentativa e de erro”, explica.

Chiclete de pimenta para astronautas com o objetivo de descongestionar as vias superiores

Prêmio PI nas escolas

O Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) lançou, em 2021, o I Prêmio PI nas Escolas. Com o objetivo de conscientizar os estudantes sobre a importância da proteção legal e reconhecimento de autoria, a iniciativa pretende desmitificar, introduzir, inspirar e concretizar a propriedade intelectual nas salas de aula de todo o Brasil. 
 
O ouvidor do INPI, Davison Rego Menezes, explica que, além da extensa lacuna do ensino da propriedade intelectual na educação básica brasileira, foi identificada também a necessidade do reconhecimento dos profissionais da educação. 
 
Segundo Davison, são esses profissionais que se dedicam ao primeiro e fundamental impulso para o desenvolvimento e fortalecimento econômico do país, a partir da criação intelectual produtiva como um dos elos da cadeia do conhecimento. 
 
O ouvidor destaca ainda que a cultura de propriedade intelectual é importante para acionar a mente empreendedora, preparar crianças e jovens no respeito e na pesquisa do estado da arte, além de possibilitar a inserção nesse universo com maior consciência e protagonismo.


“Os reflexos são sentidos no desenvolvimento científico e tecnológico com retorno direto aos setores produtivos da economia nacional, com diferentes nichos de inovação e ampliação da capacidade produção da sociedade e de consumo consciente”, destaca.

Relacionadas

Comentários