Palmas, buzinas, panelas, canos, mangueiras e até um lança-chamas anunciam o fim das provas da WorldSkills. Neste sábado (14), cada ocupação fez a contagem regressiva no seu estilo. Agora, os 1.400 competidores terão que esperar até amanhã, quando acontece a cerimônia de encerramento e premiação, para saber quem são os campeões do mundo.
“É como se eu estivesse pisando em nuvens. Um sonho que eu carrego há três anos e meio foi concluído”, compara Bruno Litz, competidor da ocupação #52 Tecnologia Laboratorial Química.
Até o soldado da Academia da Força Aérea foi abatido pela emoção, ao lembrar dos últimos anos que treinou para o mundial, dividido entre a rotina de militar e de aluno no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). “Eu nem sei o que estou sentindo. Veio uma sensação de satisfação, desceram umas lágrimas, fiquei leve. Eu estou muito realizado de ter concluído”, orgulha-se.
Depois da tempestade, a calmaria
Quem também transparecia leveza era João Guimarães, da #06 Tornearia a CNC. Com um sorriso de canto de boca, ele resumia o sentimento em duas palavras: “Tô feliz”. Há quase três anos, o então aluno do curso de Mecânico de Usinagem começou a treinar para a olimpíada. Durante as provas, ele manteve um pensamento – lição do expert, Jeferson Tangerino: “Fica tranquilo, porque você está pronto”.
O sentimento de alívio é geral. Alguns parecem anestesiados, com o olhar meio perdido, como se já vivessem uma ressaca de dias intensos. Questionados sobre o que diriam para eles mesmos se pudessem voltar no tempo, tem quem recorra à ironia: “Faz isso com você não, tá louco”.
É que não foram dias fáceis. A expectativa - não só dos competidores, mas dos técnicos, familiares e de todo mundo que participou, de alguma forma, do treinamento -, se soma aos desafios de estar em um torneio internacional.
Os imprevistos
Delegados técnicos e os team leaders, que acompanham e cuidam da delegação, trabalham para ter tudo sob controle e até alertam sobre as prováveis dificuldades de adaptação, mas só estando lá para sentir na pele os imprevistos.
Tudo influencia o corpo e a mente dos competidores: o clima, a comida e a nova rotina, com o quarto compartilhado do hotel e as muitas horas de voo, que praticamente emendam com a programação oficial na véspera das provas, como o tour, a visita à escola e a cerimônia de abertura.
Uma frente fria derrubou a temperatura em Lyon para oito graus, fazendo com que os team leaders reforçassem a farmácia. O baque na imunidade só não foi pior que o baque de ter uma peça faltando na prova ou de esquecer de executar uma tarefa.
“A prova estava até mais fácil [do que era esperado]. O problema é toda a adaptação, a alimentação, a lista de infraestrutura com item que não tinha”, reconhece Matheus Dalaqua, da #18 Instalações Elétricas Prediais. O desabafo não tem tom de lamento. Pelo contrário, orgulhoso da participação, ele garante a foto segurando a bandeira do Brasil e apontando para o nome no estande da ocupação.
Além da confusão com a listagem dos equipamentos de prova, ele e o amigo Gilberto Furlani, da #19 Controle Industrial, cometeram o mesmo erro: esqueceram de comunicar um componente na programação, o que acarreta penalidade de 16 a 20 pontos. Quando cada minuto importa e o uso do celular é proibido, até um relógio vira crise, tanto que tinha expert brigando já no dia de ambientação para decidir onde colocar o cronômetro.
Equipamentos quebrados ou de outros fornecedores e regras diferentes das de outras competições elevam ainda mais o nível de estresse dos competidores. Por isso que, no último dia, as equipes técnicas e o público fazem questão de celebrar, com muito barulho, o fim de cada ocupação.
“Nos últimos cinco minutos de prova, passou um filme na minha cabeça do tempo que a gente ficou treinando”, conta Matheus Brazões, da #37 Jardinagem e Paisagismo. Após a realização de um sonho, eles sentem mesmo que estão no céu. E quem pisa nas nuvens tem um horizonte pela frente.