O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 já deve ter mudanças para acompanhar as novas diretrizes da reforma aprovada no ano passado pelo Congresso Nacional. A afirmação foi feita pela ministra substituta da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, durante bate-papo no Facebook, nesta quinta-feira (1º), com o diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi, que também é diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI). As duas instituições iniciaram, na segunda-feira (29), experiência pedagógica que inclui o curso Técnico em Eletrotécnica no currículo do ensino médio, baseado em áreas de conhecimento e não mais em disciplinas.
Ao se dirigir aos jovens que ainda estudam no formato tradicional, a ministra recomendou que eles fiquem atentos às prováveis mudanças no exame. “O Enem de 2019 eu não sei, mas de 2020 já terá mudanças, de acordo com o novo ensino médio. Então, a formação geral do aluno na área de linguagens, na área de matemática, de ciências da natureza e ciências humanas será muito importante no novo Enem”, disse Maria Helena. “Como será esse novo modelo de Enem, ainda está em discussão, então acompanhe o debate para ver o que vem por aí”, complementou.
A ministra também disse que as escolas já podem implantar o novo ensino médio, mesmo sem a definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que será debatida este ano pelo Conselho Nacional de Educação. “Há iniciativas em andamento, como a do SENAI, do Centro Paula Souza, que (mostram que) as escolas já têm como implementar a reforma do ensino médio. Não é impossível implementar, antes da aprovação da Base, a reforma do ensino médio”, disse. A BNCC definirá qual é a expectativa de aprendizado que todos os estudantes do ensino médio no Brasil deverão ter ao final dessa fase escolar.
DOIS DIPLOMAS – A primeira turma da experiência pedagógica realizada por SESI e SENAI de implantação do novo ensino médio envolve 222 alunos. A primeira turma começou as aulas com a nova metodologia na segunda-feira, 29 de janeiro, em Aparecida de Goiânia (GO). O projeto terá início em outras turmas até 15 de fevereiro no Espírito Santo, na Bahia, em Alagoas e no Ceará. Ao final de três anos, os estudantes terão dois diplomas: de conclusão do ensino médio e de Técnico em Eletrotécnica.
O currículo contém todos os conteúdos fundamentais do ensino médio, organizados por áreas de conhecimento e não mais por disciplinas, como determina a Lei 13.415/2017, e do curso técnico. No primeiro ano, os alunos já terão uma preparação para o mundo do trabalho, que inclui iniciação profissional para a indústria, orientação profissional e desenvolvimento de competências socioemocionais.
No segundo ano, além das áreas de conhecimento, os jovens terão acesso aos fundamentos e práticas de formação para a área industrial de energia. Já no terceiro ano, a carga horária prevista para a formação técnica e profissional é dedicada às aprendizagens específicas do curso Técnico em Eletrotécnica, com possibilidade de certificações intermediárias ao longo do itinerário formativo.
O diretor do SESI e do SENAI, Rafael Lucchesi, explicou que a experiência pedagógica possui cinco pilares: mentoria, para auxiliar o jovem na sua escolha profissional; capacitação dos docentes; mediação do aprendizado por tecnologias; organização do currículo por áreas de conhecimento e gestão do sistema educacional. No projeto piloto, as duas instituições experimentam diferentes modelos de gestão. Em um deles, serão oferecidas a educação básica e a educação profissional na mesma unidade. Em outro, a integração ocorrerá em uma unidade do SESI e outra do SENAI próximas. O arranjo mais complexo, que será adotado na Bahia, é focado na formação mediada por tecnologia. A turma estará na cidade de Feira de Santana e o docente do SENAI que vai ministrar o conteúdo do curso técnico em Lauro de Freitas.
“O grande avanço da reforma do ensino médio é criar uma lógica que é flexível e diversificada, porque a vida é e será cada vez dessa forma. As pessoas vão ter uma escola que vai poder dialogar mais com as suas realidades e as suas vocações”, analisou Lucchesi, durante a conversa no Facebook.
“É isso que o SESI e o SENAI estão fazendo nessa experiência, que certamente vai ser importante para as nossas redes, mas também para o diálogo da transformação que o Brasil está fazendo a partir das diretrizes da nova lei de ensino médio”, completou o diretor-geral do SENAI.
INDÚSTRIA 4.0 – Lucchesi também destacou que a experiência irá levar à sala de aula o conhecimento adquirido pelo SENAI na prestação de serviços, de pesquisa e inovação para inserção das empresas na quarta revolução industrial, também conhecida como indústria 4.0. “Transferimos para o que fazemos em sala de aula a ação do SENAI de prestação de serviços, de apoio à inovação, incorporando todas as novas tecnologias que marcam essa revolução disruptiva no processo tecnológico, culminado em maior empregabilidade para as pessoas que nós formamos”, explicou.
A ministra substituta da Educação destacou ainda, no bate-papo, a relevância da inclusão da formação técnica e profissional no ensino médio. “O mais importante da reforma é abrir a possibilidade de o jovem poder, simultaneamente, fazer o ensino médio e técnico integrado com itinerários flexíveis”. Na sua avaliação, o maior desafio para implementação da reforma é a capacitação dos docentes. “O principal desafio que eu vejo é trabalhar a formação de professores, que precisam entender melhor a reforma”, analisou.
O SESI e o SENAI têm experiência de 18 anos na execução da Educação Básica articulada com a Educação Profissional (Ebep), que atende cerca de 32 mil alunos por ano em 22 estados. Esse modelo, que oferta cursos de educação profissional a alunos do ensino médio, foi uma base para avançar na proposta pedagógica integrada. Para a construção do novo currículo, docentes do Sistema Indústria se reuniram com especialistas da área de educação, entre os quais professores da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).
VÍDEO NA ÍNTEGRA - Assista ao vídeo com o bate-papo da ministra substituta da Educação, Maria Helena Guimarães, com o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, no perfil do SENAI no Facebook.