No dia Mundial de Conscientização do Autismo, 2 de abril, a luta não é apenas por igualdade, mas também para pela garantia do o acesso e permanência de alunos e trabalhadores autistas em sala de aula e em ambientes profissionais. Entre livros, aulas e desafios, alunos com transtorno do Espectro Autista (TEA) do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), contam a experiência de estarem preparados para entrar no mercado de trabalho.
Para Kryshna Oliveira de Monte Carmo, 26 anos, e Brenda Eduarda Faucz Jasse, 17 anos, o SENAI foi a porta de entrada para desenvolvimento de habilidades e potenciais. Atualmente, Kryshna é colaboradora do Serviço Social da Indústria (SESI) da Paraíba e se prepara para realizar mais um curso na área de informática. Enquanto Brenda terminará o Ensino Médio pela instituição e está de olho em cursos especializados na área de Moda pelo SENAI.
Da sala de aula para a mercado de trabalho
O SENAI trabalha com o Programa de Ações Inclusivas, no âmbito nacional, para a inclusão das pessoas com deficiência nos mais tipos de impedimentos, quer seja de natureza física, mental, intelectual, bem como pessoas em situação de vulnerabilidade social e todas as minorias.
As pessoas do espectro autista recebem materiais didáticos adequados e acompanhamento de docentes capacitados para monitorar o processo de aprendizagem.
Kryshna tem a Síndrome de Asperger, considerado um tipo Leve de Autismo e foi uma das participantes do programa. “Sempre fui muito louca por áreas de Tecnologia da Informação (TI). Então, em 2019, vi uma vaga para o curso de Mantenedor e Reparador de Dispositivos Moveis no SENAI e resolvi me inscrever”, relembra a ex-estudante.
Após a primeira experiência no SENAI, Kryshna continuou buscando novos cursos na instituição. “Assim que terminei o cursinho, fui convidada a fazer o curso de Manutenção e Suporte em Informática. Sempre tive dificuldade para me inserir na sala e fazer amigos, os professores me ajudavam quando eu estava perdida e sempre me inseriam nas dinâmicas”, relembra a tecnóloga.
Quando concluiu o curso, a estudante foi indicada para uma vaga de informática no SESI/PB. Dentro da instituição, ela trabalha com o suporte técnico de serviços da Microsoft para alunos e professores. “Pretendo continuar fazendo mais cursos do SENAI. Gosto muito da área do Design e, assim que surgir a oportunidade, vou fazer e procurar novos catálogos”, ressalta.
Para Janildo Sales Figueredo, Gerente Executivo de Educação do SENAI/PB, incluir um aluno com deficiência nos cursos do SENAI é um dever de cidadania.
“A inclusão permite que exerçamos - enquanto Instituição - a responsabilidade social inerente à cada instituição, permite cumprirmos com nossa missão de proporcionar educação com qualidade para todos, sem distinção ou preconceitos. Fazer inclusão não atinge apenas o aluno, alcança sua família, seus colegas de sala, instrutores e demais pessoas em volta desse aluno”, explica.
Se a moda pega
Aos 17 anos, Brenda Faucz é uma aluna exemplar. Em momentos de descontração das aulas, seus professores do SENAI Joinville, em Santa Catarina, a incentivam a mostrar seu dom com o violão e artes. Além disso, desde que começou a pegar em lápis e papéis, a estudante é apaixonada por desenhos e pinturas.
O sonho de Brenda é ser estilista. Hoje, ela treina criando peças para bonecas, mas o desejo é assinar coleções para marcas e pessoas. Ela nunca fez um curso, mas o talento inegável estampa os mais de 13 cadernos de desenho da adolescente. Quando terminar o Ensino Médio, seu desejo é entrar em um curso de aprendizagem do SENAI na área de Moda.
“O SENAI é muito bom e tranquilo. Tenho dificuldade para entender alguns conteúdos. Então, os professores me explicam de forma devagar para eu conseguir entender melhor. Eu adoro estudar no SENAI”, conta Brenda.
Para a mãe da estudante, Francine Faucz, a evolução da filha nos últimos anos é notável. Em 2019, matriculou a filha no primeiro ano do Ensino Médio do SENAI, em Joinville, Santa Catarina.
“É uma união de todos, dos professores, da coordenação e dos alunos. Durante a pandemia, precisamos de muito apoio, porque o ensino remoto é mais complicado para Brenda. A coordenação do SENAI foi super presente”, conta Francine.
As adaptações para alunos com autismo são uma forma de garantir a permanência dos alunos. Francine explica que, principalmente no momento de quarentena, é importante ter ajustes para garantir uma boa qualidade de aprendizado.
“Os tempos das provas eram mais prolongados, as provas adaptadas e os professores a ajudavam, mesmo fora de horário, para que ela se sentisse mais tranquila e conseguisse finalizar as tarefas. Tudo para que a ansiedade dela ficasse controlada e ela fizesse as lições de forma tranquila. Com muita ansiedade, ela acaba travando e não consegue finalizar nada”, conta a mãe.
O SENAI atua para garantir o acesso dos alunos com autismo à educação profissional e facilitar a inserção dos estudantes no mercado. Entre 2019 e 2020, o SENAI recebeu mais de 1,2 mil alunos com Transtornos do Espectro Autista em escolas em todo o país.
Os desafios da independência financeira e pessoal para pessoas com autismo
Para a diretora do Instituto Steinkopf, que trabalha com foco no desenvolvimento dos potenciais das pessoas com TEA, e fundadora da ONG Uma Sinfonia Diferente, Ana Carolina Steinkopf, as medidas de inserção são importantes, porque os maiores desafios para uma pessoa adulta com autismo é a integração social e a independência financeira e pessoal.
“A maioria dos adultos autista não é preparada para morar sozinho, o que se torna, futuramente, um problema que afeta tanto a pessoa com TEA quanto sua família. A inserção no mercado de trabalho é um direito de qualquer pessoa, inclusive de pessoas autistas que são extremamente capazes”, explica Carol.
Carolina trabalha há mais de sete anos com pessoas do espectro, ela explica que a importância da independência vem de uma necessidade tanto familiar e pessoal. “Quando o mercado de trabalho está apto a aceitar uma pessoa com autismo, isso muda a vida da família e a perspectiva de vida da própria pessoa. As empresas só precisam se adaptar”, conta a especialista.
O foco nos adultos e adolescentes com TEA
De acordo com pesquisa feita Centro de Controle e Prevenções de Doenças, em 2020, apontou que a cada 1 pessoa em 54 tinha TEA. O resultado mostra um aumento do número de diagnósticos em relação aos anos anteriores.
No Brasil, não existem dados oficiais, mas estimativas afirma que cerca de 2 milhões de brasileiros tem autismo. Entre os desafios de sociabilidade e expressão, a dificuldade para se inserir no mercado de trabalho é algo considerada comum na vida de uma pessoa autista.
Outro ponto discutido por comunidades em defesa dos direitos dos autistas é que, atualmente, as atividades inclusivas e tratamentos são voltados especialmente para crianças. “Há muita inciativa para crianças e quase nada para adultos e adolescentes. É importante ter a inclusão em teatro, cinemas, festas e oportunidades de ensino e trabalho”, ressalta Carol Steinkopf.
LIVE – Dia de Conscientização do Autismo
No dia 6 de abril, o SENAI irá realizar uma live para promover assuntos de inclusão de pessoas com transtorno do espectro autista. O tema será "Qualificação profissional e desenvolvimento de carreira das pessoas com autismo".
Entre os convidamos, temos Marcos Petry, escritor, palestrante, músico e produtor de conteúdo do canal no YouTube Diário de um Autista; Fernando Heiderich , CEO da Piancastelli & Heiderich Consultoria e presidente do Instituto MetaSocial e mediação por Luiz Eduardo Leão, Gerente de Tecnologias Educacionais do SENAI.
A transmissão será feita através do canal do Youtube do SENAI, às 15 horas – horário de Brasília, com tradução simultânea em Libras.