Desafios da EJA no Brasil: professores debatem evasão escolar e valorização dos docentes

Professores de todo o país discutem essas questões na 4ª Roda de Conversa promovida pelo Conselho Nacional do SESI

Professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos do SESI, em 21 estados brasileiros, participaram, nesta quinta-feira (24), da 4ª Roda de Conversa – “O Conselho Quer Ouvir”

Professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Serviço Social da Indústria (SESI), em 21 estados brasileiros, participaram, nesta quinta-feira (24), da 4ª Roda de Conversa - “O Conselho Quer Ouvir”.

O evento, promovido pelo Conselho Nacional do SESI, reuniu 38 educadores no Edifício Armando Monteiro Neto, no Setor Bancário Norte, em Brasília, com foco nos desafios da EJA diante da transição geracional.

A gerente de Projetos do CN-SESI, Roberta Oliveira, coordenou a mesa e destacou que o objetivo principal desta edição foi ouvir os docentes, ampliar o diálogo com os departamentos regionais e refletir sobre estratégias mais eficazes de apoio à EJA.

Durante o encontro, o diretor superintendente do SESI, Paulo Mól, ressaltou a importância de considerar as condições sociais que impactam o percurso dos estudantes. “A gente não pode exigir mais do que o aluno tem a oferecer, mas é importante garantir todas as condições possíveis para que ele possa estar presente”, afirmou. 

Mól defendeu o apoio à permanência dos alunos que manifestam desejo de concluir os estudos e enfatizou que a EJA deve ter o mesmo cuidado dedicado ao ensino regular.


“Nosso compromisso é com aquele aluno que quer voltar. Precisamos garantir que ele tenha as condições adequadas para estar lá. Isso já é um bom começo. A EJA precisa ser tratada com o mesmo compromisso. Nosso propósito é tirar a EJA da invisibilidade e acabar com sua marginalização em relação aos demais núcleos de educação", afirma Paulo Mól.


Ele também alertou para os desafios enfrentados pelos jovens que iniciam a vida profissional e abandonam os estudos. “Com 18, 19, 20 anos, começam a trabalhar, enfrentam dificuldades para concluir o ensino médio e acabam desmotivados. Precisamos entender melhor esse processo", disse. 

O presidente do Conselho Nacional do SESI, Fausto Augusto Junior, reforçou a urgência de políticas públicas adaptadas à realidade dos estudantes da EJA. Com trajetória marcada pela atuação em educação popular, Fausto destacou a importância da escuta ativa.


“Sempre trabalhei com EJA, é uma realidade próxima e essencial para mim. Acredito numa educação que reconhece o estudante como sujeito em transformação e fonte contínua de conhecimento", explica Fausto.


Fausto destacou que os dados estatísticos, por si só, não revelam a complexidade da sala de aula. “Cada estudante carrega uma história, uma trajetória de vida, e está mobilizado pela possibilidade de transformação. Essa mobilização nem sempre é simples”, afirmou.

Professor e sociólogo, Fausto também enfatizou o valor do contato com as diferentes realidades locais. “Nos últimos 11 meses, visitei 12 estados. Semana passada estivemos em Altamira, no Pará, onde conhecemos escolas indígenas e realidades que nos ensinam muito. Essa escuta ativa é essencial para construir políticas públicas mais eficazes.”

Valorização dos professores e fortalecimento da educação inclusiva

A valorização docente foi um dos temas centrais da roda de conversa, reconhecida pelos professores como fundamental para o fortalecimento da educação no Brasil.

Eles destacaram importantes avanços institucionais na formação continuada, como a oferta de pós-graduação gratuita pelo SESI, que contribui diretamente para o desenvolvimento profissional da categoria.

Ainda assim, apontaram desafios, como a alta rotatividade e a necessidade de ampliação das bolsas de apoio a estudantes, o que impacta diretamente o trabalho em sala de aula e a permanência dos alunos.

Outro ponto relevante do debate foi a educação inclusiva. Os professores relataram que é comum encontrar salas com cerca de 40 alunos, entre os quais seis ou sete possuem necessidades específicas que demandam materiais diferenciados e critérios adaptados de avaliação.

Nesse contexto, reforçaram que a formação docente em inclusão é essencial para garantir o atendimento personalizado e assegurar o aprendizado de todos os estudantes.

Oportunidade e incentivo

O programa é uma parceria entre o Conselho Nacional do SESI, o SESI, o SENAI e o Ministério do Trabalho e Emprego. Com investimento de R$ 200 milhões, oferece aos jovens entre 18 e 29 anos a oportunidade de concluir a educação básica, além de qualificá-los tecnicamente em áreas com maior demanda por mão de obra, ampliando o acesso a empregos melhores.

Os professores reforçaram o impacto que a oferta de bolsas aos estudantes traz para a EJA. Segundo eles, esse incentivo é crucial para garantir a permanência dos estudantes na sala de aula.

Debate contínuo

O momento foi marcado como o início de um diálogo mais próximo dos professores, que estão no dia a dia, em sala de aula com os alunos.

Kátia Marangon, gerente do Centro SESI de Formação em Educação, uma das responsáveis pela aproximação de professores dos diferentes departamentos regionais com o CN-SESI e o SESI, afirmou que a iniciativa representa uma oportunidade única para que todos sejam ouvidos.


“Hoje foi o início dessa escuta mais próxima e ativa, onde puderam ser compartilhados os desafios e as expectativas de cada um”, enfatizou. “Esse movimento do Conselho Nacional do SESI valoriza muito o professor que está na ponta”, concluiu Kátia.


Para as próximas rodas, estão previstas conversas com os professores do ensino fundamental (anos finais), médio, da educação inclusiva e da educação tecnológica.

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