Com mais de 200 mil matrículas, SESI deve ampliar oferta da Nova EJA com parcerias

Em evento com CNE, Foncede, parlamentares e ministérios da Educação e do Desenvolvimento Social, SESI reforça que modelo tem o dobro da taxa de conclusão da rede pública

O gerente-executivo do SESI, Wisley Pereira, destaca que Nova EJA foi implementada em escolas SESI das cinco regiões

Depois de seis anos de uma experiência bem-sucedida com a Nova Educação de Jovens e Adultos (EJA), o Serviço Social da Indústria (SESI) deve ampliar a oferta do modelo por meio de parcerias. Em evento nesta quarta-feira (22), em Brasília, a instituição mostrou a parlamentares e integrantes do Conselho Nacional de Educação (CNE), do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação (Foncede) e dos ministérios da Educação e do Desenvolvimento Social como a metodologia pode ser parte da solução de um dos principais desafios da educação no país, a baixa escolaridade da população. 

O gerente-executivo de Educação do SESI, Wisley Pereira, lembra que o modelo começou a ser implementado em escolas da rede há seis anos, em caráter experimental. De lá para cá, foram mais de 200 mil matrículas, que alcançaram uma taxa de conclusão de 72% - o dobro da rede pública, que é de apenas 30%. Isso porque o desafio da EJA vai além de levar para a sala de aula os mais de 66 milhões de brasileiros com mais de 18 anos que não terminaram a educação básica e não frequentam a escola. É preciso garantir formato e conteúdo que motivem o aluno a terminar. 


“Temos um currículo flexível, que leva em conta a forma individual de aprender e todas as habilidades e competências desenvolvidas ao longo da vida com o reconhecimento de saberes. Agora queremos levar essa experiência para fora. Precisamos de políticas educacionais baseadas em evidências, que têm resultados de aprendizagem”, defendeu Wisley Pereira.


Brasil tem meta para EJA profissionalizante 

A conexão com o mundo do trabalho e a possibilidade de fazer um curso profissional enquanto cursa a formação básica, a chamada EJA profissionalizante, são diferenciais da oferta do SESI.  

“Olhando para a matriz curricular do nosso curso por meio de avaliações e entrevistas com os alunos, conseguimos identificar o que ele já sabe e olhar para o que falta para ele concluir. Ele não precisa rever conteúdo que já domina. Fazemos um plano pessoal de intervenção e cada um recebe material didático específico, com base no projeto de vida e no reconhecimento de saberes”, detalha o gerente de Educação Básica do SESI, Leonardo Lapa. 

Formação dos professores e material didático autoral e colaborativo são diferenciais do SESI, afirma o gerente Leonardo Lapa

A oferta personalizada é possível porque o SESI elaborou, em colaboração com mais de 3 mil professores, 962 módulos e cadernos. O estudante pode escolher a formação técnica e profissional ou um dos oito itinerários formativos ligados a segmentos da economia: Alimentos e Bebidas, Construção Civil, Couros e calçados, Química, Madeira e mobiliário, Metalúrgica, Minerais não metálicos e Têxil e vestuário. 

Lapa lembrou, ainda, que a integração da EJA com a educação profissional é meta do Plano Nacional de Educação (PNE): até 2024, 25% das vagas da EJA no país devem ser na modalidade profissionalizante, mas hoje são apenas 3,5% das matrículas. No SESI, o pecentual é de 50%. O gerente encerrou sua apresentação falando da importância da formação dos docentes para a educação de jovens e adultos dar certo e garantiu que o SESI vai levar a metodologia para outras redes. 

Parcerias com governos estaduais e com o Ministério do Desenvolvimento Social 

Duas parcerias do SESI já estão rodando. Uma com o governo estadual de Mato Grosso, por meio da Fundação Getulio Vargas (FGV), e uma com o Ceará, em que mais de 2.400 internos de presídios no estado estão cursando a Nova EJA.

A próxima foi anunciada no evento desta quarta pelo superintendente do Conselho Nacional do SESI, Wagner Pinheiro, e pelo diretor do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) Alisson Silva. 


“Temos um GT [Grupo de Trabalho] há dois meses para um acordo de cooperação em que vamos ter beneficiários do Bolsa Família fazendo a EJA profissionalizante. Vamos dar uma capacitação para que essas pessoas possam empreender ou ser empregadas”, afirmou Silva.


Segundo o diretor do MDS, a baixa evasão alcançada pelo modelo do SESI foi um dos fatores que mais chamaram atenção da pasta, considerando o público do programa. O superintendente do Conselho Nacional do SESI complementou: “Nós podemos e queremos ser parceiros ativos. A integração com a política pública e a busca de soluções com efetividade são importantes.” 

Para a coordenadora de EJA do MEC, Maria do Socorro Nunes, é necessária uma pactuação ampla, com investimentos da pasta e parcerias intersetoriais. “Temos 9,3 milhões de pessoas não alfabetizadas com 15 anos ou mais e 931 municípios que não ofertam a EJA”, alertou.  

Tecnologia contribui para tornar modelo mais acessível 

Para tornar o modelo do SESI cada vez mais acessível, o especialista do SESI Kledson Sousa aposta nas tecnologias. Ele lembrou que a Nova EJA é 80% no formato Ensino a Distância (EaD) e 20% presencial. Ele apresentou o ambiente virtual de aprendizagem do SESI, que, além dos conteúdos e das salas de aula virtuais, tem banco de questões no modelo do ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos), repositório de arquivos e relatórios quantitativos e qualitativos.  

Coordenadores da Frente Parlamentar Mista de Educação participaram do evento e também reconheçaram a importância da EJA. Confira o que eles falaram:

Senador Flavio Arns: A população com mais de 25 anos está em torno de 130 milhões de pessoas e cerca de 60 milhões não têm educação básica completa. Por isso a importância do projeto do SESI. Vamos partir da história dessas pessoas, das suas necessidades. E temos tantos municípios diferentes, com realidades diferentes.  

Dep. Pedro Campos: Só de EJA estar na pauta da educação já é uma vitória. Quando se fala de EJA, se pensa muito no passado, mas eu gostei muito do tema do evento, porque falar de futuro quando se fala de EJA é fundamental. Não há futuro deixando as pessoas presas num passado que não deu certo. Como podemos avançar? Buscar transversalidades, como essa parceria com o Sistema S e a indústria

Dep. Tabata Amaral: Obrigada por darem esse passo tão óbvio, que é integrar a EJA com mercado de trabalho e ensino profissionalizante. Me enche de esperança ver isso. Minha mãe abandonou o ensino médio quando engravidou de mim e voltou a estudar quando eu estava no ensino médio. Nosso economista Paes de Barros já mostrou que jovem que não termina ensino médio vive de três a quatro anos menos, tem salário mais baixo, mais chances de ir pro crime e maiores chances de ter doença grave

Dep. Rafael Brito: Esse programa era um piloto, deu certo e agora vai ser levado para todo o Brasil, na expectativa de 150 mil novas matrículas. Quando fui secretário, fiz parceria com Sistema S e é a melhor coisa possível. Material didático e infraestrutura de excelência. Então quanto mais parcerias firmarem para EJA ser aprimorado, será um ganho para todo mundo

Professor Israel, ex-presidente da bancada da Educação e articulador político do Todos pela Educação: O Brasil tem desigualdades continentais. Se pensarmos que vamos fazer uma política nacional, única para todos, estamos enganados. Ouvi atentamente discurso do presidente Alban e fiquei encantado. É um setor econômico que responde por ¼ do nosso PIB e precisa se posicionar efetivamente em prol do país. E vocês têm o SESI e essa estrutura incrível. 

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