Competições de robótica estimulam interesse de jovens por Engenharia

O crescimento da área tem feito surgir até cursos de graduação focados em robótica e inteligência artificial, como Engenharia Mecatrônica ou Automação e Controle

Com o avanço da chamada Indústria 4.0, a previsão é que aumente a demanda de engenheiros especializados em robótica, uma das ferramentas que ajudam as empresas a serem mais produtivas. O Brasil, porém, está em desvantagem em número de profissionais formados por ano em comparação com países industrializados. Um dos caminhos para estimular os jovens brasileiros a escolher essa carreira é a implantação da robótica nas escolas e competições como os torneios promovidos pelo Serviço Social da Indústria (SESI).

Ian Mamprin, 16 anos, aluno do Centro Educacional Casulo, de Rio das Ostras (RJ), conta que, antes das aulas de robótica, tinha dificuldades em Física e Matemática, disciplinas relacionadas à área, e não se dedicava aos estudos. O desejo de participar de competições o transformou. A escola fluminese exige boas notas dos alunos que participam dos torneios.

“Antes eu tinha muita dificuldade na escola, não gostava de estudar. Com a robótica, eu achei um propósito para me empenhar”, diz ele, que competiu pela equipe Robotscasulo no Festival SESI de Robótica, realizado no Rio de Janeiro, em março.

Agora, Ian quer ser engenheiro mecânico ou de Automação. “Eu gosto de construir coisas novas com tecnologia avançada, como robôs”, explica. Ele aposta que a quarta revolução industrial vai abrir oportunidades no mercado de trabalho e quer estar preparado ao máximo.

“Com o avanço tecnológico, vai haver necessidade de pessoas para construir essas máquinas, programá-las. No festival, aprendemos o futuro no presente”, avalia o jovem.

CONHECIMENTOS – As engenharias mais relacionadas à robótica atualmente são Mecânica, de Controle, Eletrônica, Automação e Mecatrônica. “A robótica exige um profissional que conheça muito bem estruturas mecânicas, eletrônica e sistemas de controle, e principalmente programação com inteligência artificial”, explica o professor Flavio Tonidandel, professor na Área de Robótica no Centro Universitário FEI, em São Paulo.

No entanto, geralmente os cursos deixam a desejar em relação a elementos da computação, avalia Tonidandel. “Poucos cursos no Brasil, inclusive muitos de Mecatrônica, não possuem todos esses elementos. Geralmente pecam no que tange os elementos da ciência da computação, que são importantes para o desenvolvimento da robótica móvel e autônoma que deve começar a viver mais intensamente no nosso dia-a-dia”, diz.

Desde 2006, o SESI adota a robótica educacional em sala de aula com alunos do ensino fundamental e médio de todo país

O professor Anderson Harayashiki Moreira, do Instituto Mauá de Tecnologia e Universidade Paulista, também reforça que a robótica necessita de diversos conteúdos presentes nos cursos de Engenharia, como “programação, sensores e atuadores, projeto de máquinas, eletrônica, inteligência artificial, instrumentação, visão computacional, geometria analítica, cinemática e dinâmica de mecanismos”, exemplifica.

O crescimento da área tem feito surgir cursos de graduação focados em robótica, como cursos de Engenharia Mecatrônica ou Automação e Controle com forte enfoque em robótica e inteligência artificial lançados por instituições públicas e privadas, como a Universidade Federal do Rio Grande Norte (UFRN) e a Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP). A FEI criou recentemente o curso de Engenharia de Robôs, cujo foco é a formação de profissionais para projeto, criação, desenvolvimento e manutenção de robôs.

REFORMULAÇÃO – Todos os cursos de Engenharia vão passar por profunda reformulação com a decisão do Ministério da Educação (MEC), em abril, que aprovou novas diretrizes curriculares nacionais. A indústria participou da discussão por meio de propostas elaboradas pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), grupo coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) que reúne líderes de mais de 300 empresas.

Entre as mudanças está a “utilização de laboratórios e tecnologias conectando o mundo real e virtual, a fim de explorar ao máximo desafios concretos/reais ao longo do processo de formação dos alunos”. Essa é uma das medidas previstas no documento “Recomendações para o Fortalecimento e Modernização do Ensino de Engenharia no Brasil” encaminhado ao Conselho Nacional de Educação (CNE).

 

Na competição F1 nas Escolas, os jovens criam escuderias e desenvolvem conceitos de Engenharia

A experiência de projetar um mini carro de Fórmula 1 no Festival SESI de Robótica fez Matheus Masaki Osaki de Souza, 13 anos, pensar em trabalhar na construção dos automóveis do futuro. Aluno do SESI de Itacoatiara, no Amazonas, ele já pensava em estudar Engenharia por influência dos tios maternos, que são engenheiros. Mas, agora, cogita usar a formação na área automotiva após sua equipe ganhar o prêmio Pensamento Criativo na disputa. “Na competição eu era o engenheiro de manufatura da minha equipe e fui ao SENAI usinar nosso carro. Aprendi várias coisas novas, como mexer em equipamentos, o que ampliou muito meu conhecimento e interesse”, conta ele.

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