CLDF destina R$ 4 mi para o ViraVida

Projeto tem como objetivo combater a violência sexual, por meio de oportunidades para jovens em vulnerabilidade social e econômica

O foyer do Centro Cultural Sesi estava movimentado na quarta-feira (20/7). A cena era composta por João Pedro Martins*, que olhava apreensivo para os amigos que tiravam fotos com suas becas. As meninas estavam maquiadas, de salto e penteado nos cabelos e os meninos de tênis da moda, cabelos cortados e barba feita. O grupo estava junto a quase um ano. Diariamente, compartilhavam histórias e experiências de vida. O morador de Luziânia (GO) olhava para os amigos e pensava em como foi difícil chegar até aquele momento.

Com um sorriso no rosto, ele desceu ao foyer, falava com amigos e familiares que foram até lá para o prestigiar. Até que alguém avisou que o grande momento estava chegando. De volta à sala, uma das colaboradoras do Projeto ViraVida, o mesmo que mudou sua história, fez uma roda e começou uma oração. Vencedores! Ela falava olhando para o rosto de cada um deles. Ao todo foram 50 meninos. 50 histórias de superação, que a partir daquele momento, tiveram um novo rumo.

O evento, na qual essa e muitas outras cenas foram protagonizadas era da formatura da 10ª turma do ViraVida. O projeto já atendeu, no Distrito Federal, quase 500 pessoas. O projeto visa combater a violência sexual, fornecendo educação e sendo ponte para o emprego para os jovens em situação de vulnerabilidade social e econômica. O programa oferece educação básica, formação profissional e atenção psicossocial, gerando as habilidades necessárias para trazer o fortalecimento dos alunos e a conquista da autonomia. A proposta socioeducativa é coordenada pelo Sesi-DF, com o apoio de uma equipe multidisciplinar, integrada por psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, entre outros. Durante um ano, os jovens passaram por momentos em sala de aula com educação básica - Ensino Fundamental e Médio; qualificação profissional do Senai ou Senac; além da inserção no mercado de trabalho.

A formatura reuniu familiares e amigos dos jovens. Além deles, representante das empresas parceiras, políticos e membros do Sistema Indústria estavam no local para testemunhar a vitória da turma. Quem também participou da solenidade foram outros cem meninos e meninas que vão compor a 11ª turma do projeto. Esse público todo ainda deixava João* ansioso e feliz.

“Para começar uma nova vida é preciso dar um passo. Eu tomei essa decisão e o ViraVida foi esse meu primeiro passo”, conta o reflexivo garoto de 21 anos, que não pode ter seu nome verdadeiro divulgado para preservar sua história. É que, a partir deste momento, seu passado não o move. Ele quer mesmo cursar faculdade de Tecnologia da Informação, ter uma família e ajudar seus pais. São sonhos que começam a se tornar realidade. Sonhos que até um ano atrás eram inimagináveis. “O ViraVida é esperança pra mim”, contou.

A poucos passos, em outra sala, o presidente da Federação das Indústria do Distrito Federal (Fibra), Jamal Jorge Bittar, comentou, satisfeito, com os presentes a destinação de R$ 4 milhões oriundos de emendas parlamentares do deputado distrital Rodrigo Delmasso para o projeto. Em seu discurso, durante a formatura, ele falou como o projeto mexe com a sociedade, resgatando os jovens do projeto e reinserindo eles por meio do Sistema S.

De volta ao foyer, Maria Santos*, que também não pode ter seu nome divulgado, contou sobre sua infância difícil e como encontrou no projeto a força para sair das drogas e de uma mundo sem regras. Hoje, ela se sente uma cidadã de verdade, com acesso à educação, trabalho e, o mais importante: acesso ao direito de sonhar. “Foi difícil chegar aqui. Esse é um momento espetacular que mudou minha vida. Hoje, eu acredito nos meus sonhos”, contou com um sorriso no rosto e de mãos dadas com Ana Paula Melo*, amiga que fez no projeto.

Ana Paula, também sonha e, com os olhos marejados, agradeceu à família por ter acreditado na capacidade de mudar de vida. Assim como todas as histórias dos jovens, a decisão de mudança precisou vir dela e, na hora que isso ocorreu, tinha uma equipe de anjos, como ela mesmo os define, pronta para a acolher. “Sem julgar, eles se importam conosco. Minha família, amigos e essa equipe linda me manteve no foco do meu objetivo. Eles não me deixaram desistir”, relatou.

O choro misturado com sorriso em nada lembra ao passado sombrio na vida destes jovens, que chegaram ao Centro Cultural Sesi para a solenidade. O presidente do Sistema Fibra ressalta a importância do projeto e reafirmou que fará de tudo para que ele se perpetue no âmbito local. “Temos uma dívida social com estes meninos e meninas. Nesse momento queremos reafirmar o programa e consolidá-lo”, comentou.

Algumas lágrimas voltaram aos olhos dos participantes da solenidade após o depoimento de uma das mães dos formandos. Ela conta que precisou da ajuda do conselho tutelar e do projeto para tirar a filha das margens da sociedade e devolver a ela à esperança. “Não tenho palavras para descrever a gratidão que sinto com as pessoas deste projeto. Eles ajudaram minha filha a não desistir”, disse ela emocionada.

Ainda sensibilizado pela história, o distrital Rodrigo Delmasso anunciou publicamente a destinação da emenda parlamentar, que será feita por meio da Secretaria da Criança. O montante de R$ 4 milhões estará disponível por meio de um convênio entre a pasta e o Sistema Fibra a partir de 2017. “O Sesi tem essa capacidade de transformar a vida de outras pessoas. Vamos fazer do programa ViraVida uma política de Estado”, completou. Antes que a festa chegasse ao fim, o Secretário Adjunto do Trabalho e do Empreendedorismo, Thiago Jarjour, anunciou a contratação de cinco dos formandos.

A partir de agora, o projeta volta seus olhos para a nova turma e as vidas a serem mudadas pelo ViraVida. A 11ª turma no DF começa neste mês de julho e atenderá 100 jovens, divididos em quatro turmas: duas pela manhã e duas à tarde.

*Nomes fictícios

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