Elas por elas: mulheres contam suas trajetórias no mundo empresarial

No Brasil e no mundo, a criatividade e o talento das mulheres fazem os negócios crescerem e as oportunidades aparecerem

Neste Dia Internacional da Mulher, a Agência CNI de Notícias traz algumas histórias de mulheres no mundo empresarial

As mulheres fazem a economia girar. Na indústria, nas finanças, no comércio, no campo, trabalhadoras, empresárias e criadoras fazem do Brasil um dos países com maior empreendedorismo feminino, segundo um levantamento do Global Entrepreneurship Monitor (GEM). 

Ainda assim, a força de trabalho feminina tem sofrido mais durante a pandemia: a participação das mulheres no mercado de trabalho caiu para 45,8% em 2020, sendo o menor índice desde 1990. Além da persistente desigualdade salarial e a maior presença no trabalho informal, as mulheres também são mais sobrecarregadas com a jornada doméstica e o cuidado com idosos, crianças e pessoas com deficiência.  

Mesmo com a carga mais pesada, elas vão em frente. Mais e mais mulheres estão criando negócios e as próprias oportunidades. Neste Dia Internacional da Mulher, a Agência CNI de Notícias traz algumas histórias de mulheres no mundo empresarial.

A indústria de cosméticos feita por elas e para elas

Acredito que você certamente já viu umas embalagens coloridas com o nome Sallve passando pela tela do seu celular ou computador no dia a dia, né? A marca paulista de cuidados para pele foi criada em 2018 pelos empreendedores Marcia Netto, Daniel Wjuniski e a influenciadora e publicitária Júlia Petit. O primeiro produto, o Antioxidante Hidratante, mal foi lançado e teve o primeiro lote, de 5 mil unidades, esgotado em menos de 10 horas. 

Quem é responsável por parte desse sucesso é a sócia e diretora digital da Sallve, Marcia Netto, 37 anos. Formada em Publicidade e Propaganda pela Universidade de São Paulo (USP), ela trabalha nas estratégias de crescimento digital, marketing e performance, tecnologia, produtos digitais, além de tocar a área de logística e atendimento da empresa. 

Marcia Netto é a diretora digital da empresa de produtos para pele Sallve

“Sou uma Growth hacker, especializada em criar grandes audiências e comunidades digitais da maneira mais orgânica possível. Também tenho sob a minha responsabilidade a área de dados, que são a fundação do nosso processo de co-criação”, explica Marcia.

A publicitária ingressou no mundo digital por meio da Editora Abril, onde começou como trainee, na mesma época em que a internet se consolidou. Ela conta que além do desafio de ser mulher jovem, já tinha grandes responsabilidades, pois aos 25 anos liderava uma equipe com mais de 50 pessoas, entre profissionais de jornalismo, designers e desenvolvimento de produto digital. “Eu tinha que me impor como profissional sendo mulher e muito jovem para implementar tecnologias novas, que as pessoas não entendiam”, conta.

Dois anos mais tarde, Marcia se tornou sócia do Minha Vida, maior site de saúde do país. Lá conheceu Daniel Wjuniski, sócio em três projetos desde então, que em 2018 a convidou para criar a Sallve.

“Em uma visita ao escritório do Daniel, vi quadros pendurados com mensagens de pessoas que tiveram as vidas transformadas pelas informações compartilhadas no site. Nesse dia entendi o significado de propósito e percebi o que queria fazer: aplicar todas minhas longas horas de trabalho em algo que impactasse positivamente na vida das pessoas”, relata a publicitária.


“Uma das atividades que me mais me completam é mentoria para mulheres, contando minha história, compartilhando experiências e conhecimentos. A área de tecnologia é um ambiente muito masculino, assim como o ecossistema das startups. Poder ajudar essas mulheres nas suas jornadas, ouvindo suas dores e desafios e podendo, de alguma forma, ajudá-las e inspirá-las é muito gratificante” complementa Marcia.


Para o futuro, a diretora digital concentra os esforços na marca de cuidados para a pele e dá dicas para as mulheres que querem ingressar no ramo. “Além de conhecimento técnico, busquem sempre autoconhecimento. Conhecer seu “manual” de funcionamento, seus gatilhos emocionais, pontos fortes e de melhoria é o segredo para conseguir manter a resiliência, o foco e a energia no frenético e veloz mundo da tecnologia”, sugere Marcia Netto.

Algumas mulheres têm o empreendedorismo no sangue

Diretamente de São Gonçalo dos Campos (BA), Noêmia Pinto de Almeida Daltro conta que conhece a própria empresa todos os dias de uma forma diferente. Formada em Administração e pós-graduada em Recursos Humanos, ela está à frente da empresa de cosméticos para cabelo Fiorestore desde 2005. 

Noêmia conta que empreender sempre foi um sonho, pois quando menina arrumava formas para ganhar o próprio dinheiro, como fazer tapioca com as irmãs na fazenda em que morava e, anos mais tarde, elaborar bijuterias para vender no Mercado Modelo. 

Depois de formada em administração, a empresária conheceu o setor dos recursos humanos em uma empresa baiana, onde desenvolveu um projeto sobre cargos e salários. A pesquisa a levou até São Paulo e Rio de Janeiro, onde apresentou o trabalho e, após a aprovação, decidiu criar a própria consultoria na Bahia. 

A partir disso, Noêmia conheceu diretores, superintendentes e presidentes de grandes empresas de todo o estado. Ela conta que nem sempre foi fácil, pois já teve os conhecimentos questionados, mas enfrentou com a cabeça erguida. 


“Me apresentava para diretores, superintendentes, presidentes, entre outros e quando eu ia fazer alguma dinâmica tentavam me intimidar. Mas sempre me nivelei pela cabeça e nunca deixei que isso acontecesse. As mulheres são ótimas profissionais e sabem se posicionar muito bem”, relata a baiana.


Anos mais tarde, um desses colegas do mundo empresarial deu uma dica de um produto que sentia falta no mercado e, a partir disso, a administradora teve várias ideias até chegar a empresa atual. Hoje em dia, a Fiorestore exporta com frequência produtos para Portugal e esporadicamente para os Emirados Árabes e para a Tailândia. 

Durante a pandemia de Covid-19, Noêmia investiu nas vendas on-line e aumentou o quadro de funcionários, com a entrada de um novo sócio investidor em novembro. Essa parceria rendeu a manutenção de estoques e a criação de 40 produtos, sendo que 25 já estão no mercado e os demais serão oferecidos a partir de abril. 

Ela também conta que nunca esquecerá o convite que a Federação das Indústrias da Bahia (FIEB) fez para que ela integrasse um grupo de jovens líderes empreendedores, pois em seguida, ela passou a fazer parte do programa FIEB/CIEB, onde teve contato com mais de 150 grandes empresários do estado. 

"A FIEB e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) me fizeram conhecer o mundo empresarial dos sonhos. Me colocou como igual junto a outros empresários baianos e me destacou enquanto mulher empreendedora”, destaca Noêmia.

Herdeiras ajudam família a tocar empresa de automação

Danielle Theis (no meio) recebeu o prêmio de Empreendedora Destaque em Santa Catarina pela atuação na RIOAR

A tecnóloga em processos industriais, Danielle Regina Theis, 40 anos, está na RIOAR Automação Industrial desde 2000, mas acompanha a empresa desde bem nova. A pequena indústria foi criada pelo pai dela em 1995, inicialmente no ramo de representação de materiais pneumáticos, depois migrou para produtos de automação e equipamentos para indústria papeleira. 

No início, o pai e o irmão tocavam as atividades da RIOAR na sala de casa, enquanto Danielle trabalhava em um escritório de contabilidade. Ela pediu demissão para ajudar a família quando viu a oportunidade de atuar na parte administrativa. “A vontade de ver a empresa crescer, aumentar o portfólio de produtos e se destacar no mercado sempre foi meu impulso”, conta a sócia. Hoje o quadro societário da empresa conta também com a irmã Luana Cristina e o técnico Carlos Hilbert.

A família tem em casa prêmios de destaque estadual e Danielle o prêmio de Empreendedora Destaque no ramo indústria, homenagem feita em 2017 pelo núcleo da mulher empresária da associação empresarial de Rio do Sul. Ela explica que sempre se viu no meio em que atua hoje, mesmo ciente de que o setor industrial é predominante masculino. 


“Não podemos nos sentir melhores ou piores, por gênero, raça ou cor. O que faz a diferença é a determinação e a vontade de vencer naquilo que você se propõe a fazer”, reforça a vice presidente de Relações com a Micro e Pequena Empresa(MPE), do Sindicato Patronal do Setor Eletro Metal Mecânico da região do Alto Vale do Itajai (Simmmers).


A tecnóloga comemora a conquista do prédio da empresa e, por hora, estuda as tendências do mercado para manter a RIOAR alinhada com o mercado, apesar da pandemia de Covid-19. 

“Ser empresário no Brasil não é uma tarefa fácil e, atualmente, estamos vivendo uma experiência jamais imaginada. Por isso é muito importante estar alinhada com as novidades, tendências e necessidades do setor. A participação em entidades de classe nos possibilita cooperar com o crescimento da região e mostrar a força da nossa indústria dentro da economia”, destaca Danielle.

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