Motivadas e produtivas: iniciativa simples muda a vida das mulheres de uma indústria

Programa de saúde da mulher da Saviplast, fabricante de embalagens plásticas, contribui para elevar autoestima, inserir hábitos saudáveis e aumentar a produtividade

Trabalhadoras da Saviplast participam de conversas em que compartilham experiências e desafios

Até três anos atrás Kelen Rodrigues, 26 anos, assistente de estoque da Saviplast, fabricante e distribuidora de embalagens plásticas para a indústria, sentia-se desanimada para tudo, inclusive para ir ao trabalho. A situação começou a mudar quando decidiu frequentar oficinas com atividades práticas e vivenciais criadas especificamente para as mulheres da empresa. Nesses momentos, ao compartilhar seus problemas, Kelen percebeu que tinha muito mais em comum com as colegas do que imaginava. “Vimos que todas temos desafios e que poderíamos nos apoiar mutuamente e isso renovou minhas esperanças”, declara. O processo tanto contribuiu para a aumentar a autoestima, que Kelen voltou a estudar e concluiu o ensino médio. 

A ideia do programa Mais Saúde surgiu depois que os gestores da Saviplast perceberam que era preciso fazer mais pelas colaboradoras da empresa. Dos 103 funcionários da sede, em Caxias do Sul (RS), 80% são mulheres. Muitas convivem com problemas semelhantes, como depressão, violência doméstica e gravidez precoce. 

“Percebi que não estávamos fazendo nosso papel social, que não bastava pagar salário e benefícios. Temos funcionárias de diferentes faixas etárias (23 a 65 anos), inclusive em situação de vulnerabilidade social, e nos demos conta de que, para algumas, talvez fosse preciso, por exemplo, um horário diferenciado”, conta o analista de recursos humanos e técnico em segurança Ricardo de Leon, da Saviplast.
 

A assistente Kelen Rodrigues superou a depressão ao começar a participar do programa Mais Saúde Saviplast

A iniciativa de apoio às mulheres contou com a expertise do SESI

Para construir a inciativa, a empresa contou com apoio do Serviço Social da Indústria (SESI), que disponibilizou uma psicóloga que ajudou a identificar o que poderia ser feito. Leon lembra que a empresa queria um projeto com muita vivência, que envolvesse dança, música, oficinas, atividades visuais, abrindo diversas possibilidades para que as mulheres aproveitassem as experiências e os aprendizados. Foi então que, em 2017, a equipe do SESI elaborou o Mais Saúde Saviplast, um programa motivacional customizado, com duração de seis meses.

No começo, a ideia foi recebida com resistência. Apenas 20 das 60 colaboradoras convidadas apareceram. “Elas achavam que seria uma palestra, algo tedioso”, lembra Leon. No entanto, quem participou se surpreendeu e a notícia correu a empresa. As duas reuniões por mês estavam sempre lotadas. Hoje, mais de 90% das trabalhadoras participam do programa. Kelen recorda como a iniciativa foi importante para superar traumas do passado. 

“Tive depressão por questões que enfrentei na minha família, mas fui bem acolhida pelo grupo. Consegui renovar minhas forças e seguir em frente. Ao aprender a escutar a experiência das outras, melhorei o diálogo com meus filhos e percebi a importância de programar mais atividades com a minha família”, conta Kelen. 

O segredo do sucesso de um programa como este é a costumização. Para o diretor de Operações do SESI, Paulo Mól, ambientes de trabalho saudáveis devem considerar não só à saúde física, mas emocional das pessoas e dos relacionamentos e da adequação do espaço e organização do próprio trabalho.

“Os programas de saúde corporativos devem ser construídos com base nas necessidades específicas de cada perfil de trabalhador. No caso das mulheres, é importante levar em consideração outros aspectos sociais, como o fato de que são mais demandadas no cuidado com a família. Isso somado às demais obrigações do dia a dia pode, por exemplo, deixa-las mais propensas a desenvolver estresse”, destaca.
 

O analista de recursos humanos Ricardo de Leon comemora a iniciativa: "Encontros mensais são muito aguardados"

Os benefícios também chegaram ao chão de fábrica

Quando o projeto chegou ao fim, os resultados eram visíveis, tanto na qualidade de vida das funcionárias quanto no desempenho da indústria. 

Leon, um dos líderes da iniciativa, diz que houve diminuição no número de faltas e na rotatividade do quadro de trabalhadores. Um efeito secundário do programa foram os ganhos no relacionamento entre as funcionárias. "As relações sociais melhoraram muito entre as equipes de turnos diferentes, que sempre alimentaram certa rivalidade", diz. Além disso, a Saviplast observou redução de desperdícios. "Nosso processo industrial melhorou", sintetiza Leon. 

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