Demanda fraca faz indústria acumular estoques e leva a queda na produção e no emprego

Empresários industriais também relatam piora nas condições financeiras. Cai o otimismoo em relação às expectativas de demanda, de compra de matérias-primas e de número de empregados para os próximos seis meses

A baixa demanda na economia doméstica voltou a ganhar destaque e figurou como o segundo principal problema para os empresários industriais brasileiros no primeiro trimestre de 2019, atrás apenas da elevada carga tributária. Segundo a Sondagem Industrial divulgada nesta quinta-feira (25/4) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 37,5% dos empresários assinalaram a “demanda interna insuficiente” como um dos principais problemas enfrentados no trimestre. Este é o maior índice registrado para esse item desde o segundo semestre de 2017, quando o percentual havia ficado em 39%.

Com a fraca demanda da economia brasileira, os empresários industriais também apontaram queda na produção e no emprego e, consequentemente, excesso de estoques nas fábricas. Em março, o índice de evolução da produção ficou em 47,4 pontos. Como o índice está abaixo da linha divisória de 50 pontos, ele representa queda na produção na comparação com o mês anterior. O índice de evolução no número de empregados, por sua vez, ficou em 48,5 pontos, o que também representa queda ante o mês de fevereiro.

A Sondagem Industrial revela ainda que, em março, o índice de evolução de estoques dos industriais ficou em 50,5 pontos – um pouco acima da linha divisória de 50 pontos. Esse resultado reflete um pequeno aumento nos estoques das empresas. O índice de nível de estoque efetivo em relação ao usual, por sua vez, manteve-se praticamente constante: passou de 51,1 pontos em fevereiro para 51,2 pontos em março. Ao permanecer acima dos 50 pontos, o índice revela que os estoques seguem acima do planejado pelas empresas.

“A Sondagem de março, portanto, mostra que a falta de demanda, o grande problema que atingiu a indústria durante a crise recente, voltou a afetar mais o empresário. Mostra também suas consequências: estoques indesejados, produção e emprego caindo, máquinas paradas, condições financeiras fragilizadas, expectativas cada vez menos otimistas e intenção de investir em queda. É, portanto, um quadro preocupante”, afirma o economista da CNI Marcelo Azevedo.

PIORA NAS CONDIÇÕES FINANCEIRAS – Na comparação trimestral, os empresários industriais ouvidos pela CNI apontaram piora nas condições financeiras pelo segundo trimestre consecutivo. O índice de satisfação com o lucro operacional recuou de 42 pontos no quarto trimestre de 2018 para 40,3 pontos no primeiro trimestre de 2019. Já o índice de satisfação com a situação financeira caiu de 46,1 pontos para 45,3 pontos na mesma base de comparação. Como eles estão abaixo da linha divisória de 50 pontos, representam insatisfação nos dois casos. Ambos os índices são inferiores aos registrados também no primeiro trimestre de 2018. “A permanência de estoques indesejados, aliada à baixa demanda, prejudica as condições financeiras da indústria”, ressalta Azevedo.

Por outro lado, a pesquisa revela uma leve melhora no acesso ao crédito. O índice de facilidade de acesso ao crédito aumentou 0,4 ponto entre o quarto trimestre de 2018 e o primeiro trimestre de 2019, alcançando 38,7 pontos. O índice é o mais elevado desde o primeiro trimestre de 2014, quando registrou 39,2 pontos. Ainda assim, permanece muito abaixo dos 50 pontos, o que reflete dificuldade das empresas para conseguir recursos no mercado financeiro.

A utilização média da capacidade instalada (UCI) manteve-se inalterada pelo terceiro mês seguido em 2019, em 66%, um percentual ainda baixo na avaliação da CNI. O índice de UCI efetiva em relação ao usual recuou 2,4 pontos e foi a 41 pontos. É o menor índice desde maio de 2018, quando registrou 37,3 pontos. Como o índice permanece abaixo dos 50 pontos, indica que a atividade industrial segue abaixo do usual para o mês. 

Na prática, a baixa utilização da capacidade instalada significa existência de máquinas paradas e de trabalhadores produzindo menos do que poderiam. Como consequência, as empresas ficam menos competitivas, perdendo espaço nos mercados doméstico e externo. 

QUEDA NO OTIMISMO – Empresários industriais apontaram otimismo em relação às expectativas de demanda, compras de matérias-primas e número de empregados para os próximos seis meses. Os índices foram de 58,8 pontos, 56,1 pontos e 51,7 pontos, respectivamente. Apesar de revelarem otimismo, por permanecerem acima de 50 pontos, esses resultados recuaram pelo segundo mês consecutivo. Em fevereiro, eles eram de 60,8 pontos, 58,9 pontos e 51,9 pontos, respectivamente.

Já o índice de expectativa de quantidade exportada manteve-se praticamente estável, ao passar de 54,0 pontos para 54,1 pontos entre março e abril. O índice de intenção de investimento, por sua vez, que em março havia interrompido uma sequência de cinco meses de alta, voltou a cair em abril, ficando em 53,7 pontos. Como está acima dos 50 pontos, esse indicador também revela otimismo, mas menor que o registrado anteriormente.

A pesquisa foi realizara com 1.888 empresas, sendo 770 pequenas, 680 médias e 438 grandes. Os dados foram coletados entre 1º e 12 de abril de 2019.

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