Custo do trabalho cai e indústria brasileira ganha competitividade, informa CNI

Indicador é calculado a partir da evolução da produtividade, dos salários e da variação do câmbio. Conforme o estudo, queda registrada no Brasil só é inferior à da Argentina entre 11 países analisados

O custo unitário do trabalho (CUT) na indústria brasileira diminuiu 16,1% no ano passado em relação a 2017. Com isso, o Brasil ficou em segundo lugar na lista que compara o custo unitário do trabalho de 11 países. “Apenas a Argentina, entre os 10 principais parceiros comerciais do país, apresentou desempenho superior ao brasileiro. Na Argentina, o CUT caiu 27,1%”, informa o estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nos Estados Unidos, o CUT caiu 3,9%. No Japão, a queda foi de 1,8%. Nos demais países analisados, o custo unitário do trabalho aumentou. O maior aumento, de 3,1%, foi registrado na Alemanha. O menor, de 0,2%, ocorreu na França. 

O CUT, que representa o custo em dólar com o trabalho para a produção de uma unidade de produto - por exemplo, um televisor, um carro ou um lápis -, é calculado a partir dos resultados da produtividade no trabalho, do salário médio real pago aos trabalhadores e da taxa de câmbio. “O custo com trabalho é um dos principais determinantes da competitividade de um país, pois está presente em todas as etapas da cadeia produtiva”, afirma a economista da CNI, Samantha Cunha. No Brasil, em 2018, a produtividade aumentou 0,8%, o salário médio dos trabalhadores caiu 6,6% e o real teve uma desvalorização de 10,5% frente ao dólar, o que resultou na queda de 16,1% no custo unitário do trabalho em relação a 2017. 

Na Argentina, onde o custo unitário do trabalho recuou 27,1%, a produtividade caiu 3,6%, o salário diminuiu 6,9% e o peso argentino se desvalorizou 32,5% diante do dólar. “A Argentina enfrenta uma grave crise interna, o que explica a forte desvalorização do peso argentino frente ao dólar e a queda nos salários. O ganho de competitividade não está baseado na produtividade, que é necessária para garantir o aumento da competitividade de maneira sustentada”, diz Samantha Cunha. 

COMPARAÇÃO COM OUTROS PAÍSES - A partir da evolução do CUT e de seus componentes, a CNI também calcula o custo unitário do trabalho efetivo (CUT-Efetivo). Esse indicador compara o custo com trabalho, em dólares, para fabricar um produto manufaturado no Brasil com o custo médio do trabalho nos 10 principais parceiros comerciais do país. Nesta base de comparação, o CUT-Efetivo da indústria brasileira caiu 9,5% no ano passado em relação a 2017, resultado do aumento de 1,1% na produtividade, da queda de 4,3% nos salários e da depreciação de 4,4% na taxa de câmbio em relação às médias desses indicadores nos principais parceiros comerciais do país.

Entre 2008 e 2018, o CUT-Efetivo do Brasil caiu 5,1%. “Nos últimos dez anos, a indústria brasileira ficou mais competitiva”, afirma o estudo da CNI. O CUT da indústria brasileira caiu em relação à Coreia do Sul (25,1%), à Argentina (24,4%) e aos Estados Unidos (10,2%). “A queda do CUT efetivo no Brasil reflete o importante peso que a Argentina e os Estados Unidos têm na corrente de comércio brasileira”, afirma a CNI.  Os maiores aumentos do indicador foram registrados em relação à França (22,8%) e à Itália (20,8%). Isso significa que o Brasil perdeu competitividade em relação a esses países. 

O CUT-Efetivo caiu 5,1%, apesar do Brasil registrar aumento do salário médio real efetivo de 14,3%. O efeito negativo dos salários sobre a competitividade foi compensado pela depreciação de 14,4% do real diante da cesta de moedas dos demais países analisados entre 2008 e 2018. “Desse modo, o aumento de 3% na produtividade do trabalho foi decisivo para a queda do CUT-Efetivo”, diz o estudo. 

A expectativa da CNI é que o custo unitário do trabalho efetivo mantenha a queda neste ano, contribuindo para o aumento da competitividade da indústria brasileira. “Os salários continuam em queda e a taxa de câmbio real mantém a tendência de depreciação. No entanto, a produtividade do trabalho tem perdido força, o que preocupa, pois é um fator importante para o crescimento sustentado da economia brasileira”, conclui o estudo. 
 

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