Considerada uma das principais questões da economia mundial, a produtividade foi o centro do debate do último painel do Diálogo Brasil-Países Nórdicos , realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta terça-feira (22). Mesmo economias estruturadas e de crescimento estável como as da Finlândia, Noruega e Suécia enfrentam obstáculos para impulsionar o aumento da produtividade. Estratégias e peculiaridades nacionais à parte, todos os representantes dos países Nórdicos concordam em um ponto: reformas econômicas, apoio sistêmico à inovação e maior abertura internacional são fatores cruciais para impulsionar a eficiência dos países.
A lição que vem da Finlândia resume a importância dos três fatores. Com o fim da União Soviética, as empresas finlandesas tiveram de ganhar eficiência e melhorar a qualidade dos produtos não apenas para competir no mercado doméstico, que se tornou mais aberto à competição, como no internacional. O governo do país criou mecanismos de apoio à inovação para dividir os riscos do investimento e fomentar a pesquisa e a inovação.
"A Finlândia cresceu rapidamente baseada nos ganhos de produtividade, sobretudo entre 1994 e 2008. Fomos atingidos pela crise global de 2008, mas, mesmo assim, mantivemos os investimentos em inovação. A Finlândia só não é, hoje, mais resiliente às crises porque perdeu a chance de fazer reformas importantes em tempos de bom desempenho econômico", avaliou Visa Vihriäiä, diretor geral do Instituto de Pesquisa da Economia Finladesa (ETLA). O país é 5º mais inovador do mundo, segundo o Global Innovation Index 2016.
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CUSTO POLÍTICO - A sueca Tove Lifvendhal, editora-chefe de política do jornal Svenska Dagbladet, lembra que muitas das medidas fundamentais para aumentar a produtividade - reformas previdenciária e tributária, por exemplo - têm um custo político alto. "A maioria dos políticos não quer assumir esse risco, pois são medidas impopulares. Mas não fazê-las também tem. É preciso criar uma pressão para que esse assunto ganhe importância", afirmou. Segundo ela, apesar de a Suécia ser considerada o maior exemplo de estado de bem-estar social, o país vem perdendo competitividade e também discute como reverter cenários desfavoráveis, como a diminuição da produção industrial.
COMISSÃO DA PRODUTIVIDADE - O que causou a queda considerável de produtividade na economia da Noruega e como reverter o cenário motivou o governo norueguês a criar a Comissão da Produtividade. "Percebemos que os setores da economia têm perfomances muito diferentes. Além disso, a comissão identificou a necessidade de melhorar ou aperfeiçoar nossos mecanismo. O sistema tributário norueguês precisa ser atrativo para empresas internacionais. Hoje, ele faz o exato oposto", classificou Dag Aarnes, economista sênior do Ministério de Relações Exteriores da Noruega.
O setor de petróleo e gás, por exemplo, um dos mais importantes para o país, apostou na aproximação entre academia, iniciativa privada e governo para garantir a boa perfomance. "Tivemos de enfrentar forte concorrência desde o princípio. Por isso, subsidiamos pesquisa, desenvolvimento e inovação em energia para ganharmos produtividade", explicou o ministro de Petróleo e Energua da Noruega, Tord Lien.
DESAFIOS - Para o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca, o evento permitiu identificar pontos comuns entre as economias dos países Nórdicos e do Brasil, mas ressaltou aspecto importante: "No caso do Brasil, a estagnação aconteceu após queda na produtividade, ao contrário dos países Nórdicos, que vieram de um período de crescimento estável". Segundo ele, é preciso que a economia brasileira imprima esforços externos, pois, por muitos anos, o foco tem sido apenas o mercado doméstico. "Somos o 10º mercado consumidor do mundo, mas isso representa apenas 10% do mercado consumidor americano, que é o maior do mundo", alertou.
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