Jovens de Alagoas ganham bolsa de iniciação científica do CNPQ

Guiados pela professora de Matemática, alunos do ensino médio do SESI desenvolveram projeto que reduz poluição sonora em salas de aula

Com a bolsa de Iniciação Científica Júnior (ICJ), os jovens vão desenvolver placas maiores e testar em uma sala de aula de música na Ufal.

Sabe quando você está tentando se concentrar na aula e passam aqueles coleguinhas fazendo algazarra no corredor? Às vezes o barulho é tão alto que parece até que eles estão do seu lado, né?

E quando a professora está passando conteúdo novo e, de repente, um grito de gol e sons de estudantes vibrando na quadra de esportes invadem a sala e interrompem o raciocínio da aula. Lá se vai toda concentração dos cálculos de matemática.

Depois de prestar atenção em como esses ruídos interferem nos estudos, a professora Cristiane Siqueira e os alunos Wictoria Sthephany Juaniy dos Santos, Leonardo Raphael Palácio dos Santos e Fábio Lucas de Britto Vasconcelos, do Serviço Social da Indústria (SESI) de Alagoas, criaram painéis para condicionamento acústico fabricado com fibra de coco. O projeto recebeu o nome de Acusticoco.

A ideia, benéfica e de baixo custo, foi premiada por instituições que incentivam a educação e a iniciação científica no Brasil. Em março, os estudantes receberam o Prêmio de Excelência em Iniciação Científica, da Associação Brasileira de Incentivo à Ciência (Abric) e, agora, vão receber bolsas de Iniciação Científica Júnior (ICJ) do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq).

RECONHECIMENTO - Segundo a professora de Matemática Cristiane, as conquistas são um reconhecimento do trabalho realizado. Há 6 anos ela defende a implantação de aulas mais interativas e orienta grupos de alunos em projetos que abordam a iniciação científica. “Essa profissão não é fácil, mas é minha vocação. Contribuir para a evolução dos estudantes é algo que me realiza e viabiliza mudanças positivas na sociedade”, conta.

Ela acredita que a educação faz os jovens pensarem “fora da caixinha, de olho em um futuro promissor” e destaca a história da caçula do grupo, Wictoria Sthephany. Mesmo ainda muito jovem, a estudante de 14 anos do 1º ano do ensino médio já deu grandes passos na vida profissional.

Wictoria conheceu o SESI a partir da prima, que estudava na instituição e contava como as aulas eram interativas. A curiosidade despertada na jovem fez com que ela e a família procurassem o SESI e, pouco depois, conseguissem uma bolsa integral de estudos na Escola SESI Cambona. Naquele momento, a jovem, que saiu de uma escola pública da periferia de Alagoas, nem imaginava o que o futuro reservava.

Chamada de "pedra preciosa" pela professora, Wictoria demonstrou muita técnica ao conversar com especialistas da USP sobre o Acusticoco

Após mostrar empenho e dedicação nas aulas, a alagoana foi convidada pela professora para compor a equipe que desenvolveria o Acusticoco. Foi aí que ela viu nessa oportunidade a chance de aprofundar os conhecimentos de uma das áreas que planeja seguir, a Engenharia. Entretanto, as coisas ganharam uma proporção maior do que pensava e a estudante descobriu um universo diferente e grandioso nas pesquisas.

TROCA DE EXPERIÊNCIAS - A ideia de criar o Acusticoco nasceu em 2017, com o objetivo de solucionar os problemas de interferência nas aulas por meio da aplicação de placas que retiram o eco e deixam o ambiente mais harmonioso. A inovação é o material utilizado, a fibra da casca de coco, abundante no litoral alagoano.

No primeiro trimestre deste ano, a jovem e os colegas foram a São Paulo participar da maior feira de iniciação científica do Brasil, a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), promovida pela Universidade de São Paulo (USP). Durante a exposição, Wictoria, que nunca tinha saído de seu estado, teve a chance de conversar com especialistas, mestres e doutores sobre as utilidades do Acusticoco e trocar experiências.

“Essa oportunidade vai abrir muitas portas. Pretendo aprimorar cada vez mais meus conhecimentos para que no futuro eu consiga enfrentar os desafios. Sei que não é fácil”, explica a estudante.

“Nós vemos nitidamente a maturidade e a evolução da Wictoria. É uma pedra preciosa que estamos lapidando”, conta a professora Cristiane, que junto com os colegas e a família incentivam a estudante a ir cada vez mais longe.

Agora os planos da jovem são aprimorar o projeto a fim de produzir placas maiores para instalação em uma sala de aula da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e adquirir novos conhecimentos com a bolsa de Iniciação Científica Júnior (ICJ).

"É a partir da educação que nós transformamos vidas e estamos transformando Alagoas”. - Cristiane Siqueira

MAIS APRENDIZADO - Fábio Lucas de Britto, estudante do 3º ano do ensino médio, afirma que viu no Acusticoco a chance de melhorar o desempenho na escola e atingir os objetivos propostos nas aulas. “Esses estudos e pesquisas ajudam muito no mundo lá fora. Você aprende coisas novas e leva para colocar em prática e conquistar o que deseja”, conta.

O colega de equipe Leonardo Raphael Palácio dos Santos, do 2º ano do ensino médio, concorda sobre os pontos positivos do produto. “Só enriquece nosso currículo, fazendo com que tenhamos boas oportunidades no mercado de trabalho”, afirma.

O jovem sonhava com Astronomia quando pequeno, mas atualmente deseja cursar Medicina para continuar trabalhando com pesquisas que ajudam a sociedade. Ele explica que esse projeto mudou a vida dele “no sentido de atribuir novos aprendizados e repassar isso para outras pessoas”.

CONQUISTAS - A Febrace é uma grande mostra de projetos de jovens cientistas do Brasil inteiro, que aconteceu nos dias 19, 20 e 21 na Cidade Universitária. Realizada pela Escola Politécnica da USP desde 2003, o evento tem o intuito de promover o contato com a ciência desde a juventude.

Os projetos são avaliados pelo Comitê de Pré-Avaliação do evento, que classificam os trabalhos de acordo com a criatividade e a inovação. Os finalistas têm a oportunidade de expor suas pesquisas nas dependências da USP.

Alunos costurando a fibra de coco na placa

O Acusticoco conquistou o Prêmio de Excelência em Iniciação Científica, da Associação Brasileira de Incentivo à Ciência (Abric), pela inovação que reduz poluição sonora em salas de aula.

Em seguida, os estudantes foram selecionados pelo CNPq para continuar as pesquisas e o desenvolvimento dos painéis com fibra de coco com a bolsa de Iniciação Científica Júnior (ICJ).

Oferecida em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), essa bolsa tem duração de um ano e a finalidade é despertar e incentivar talentos potenciais entre estudantes do ensino fundamental, médio e profissional.

Com ela, os jovens vão produzir e melhorar os protótipos com pesquisas e testes financiados pela instituição. A cada trimestre, eles apresentarão relatórios informando os avanços do Acusticoco e, se a implantação dos painéis for eficaz, a bolsa pode ser renovada para uma nova categoria.

Relacionadas

Leia mais

5 fatos que mostram como o SESI e o SENAI aumentam a competitividade brasileira
Ensino de robótica é revolução do aprendizado
Sem medo de Matemática! Disciplina é ensinada de maneira prática no novo ensino médio do SESI

Comentários