Inclusão não sai de moda

Conheça a história de Caio Augusto, aluno surdo do SENAI de Jaraguá do Sul (SC), que se tornou motivação para unidade se capacitar e receber outras pessoas com deficiência

O ex-aluno do SENAI trabalha no Grupo Malwee e, no tempo livre, é ator e modelo

Entrar no mundo da moda não é fácil. Além de entender das tendências, do mercado e dos lançamentos, é necessário saber produzir catálogos, desfiles e atuar em meios de comunicação como revistas e sites do ramo. Mas se você acha que isso fez Caio Augusto Araldi, 31 anos, desistir do sonho de ser estilista está muito enganado. Pelo contrário. O catarinense começou cedo a se especializar na área de vestuário. E foi o primeiro aluno surdo do SENAI de Jaraguá do Sul (SC), em 2003. 

Há 12 anos, o ex-aluno do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) trabalha no grupo Malwee - uma das principais empresas de moda do Brasil - e, atualmente, exerce diversas funções no setor de estamparia.

O que começou como uma brincadeira de criança fez Caio ir além. “A paixão por desenhos e pela moda está no meu sangue”, afirma Caio. A mãe, Janis Solange Maba Araldi, 55 anos, concorda. “Desde muito pequeno seus companheiros inseparáveis eram o papel, o lápis e muita criatividade”, relata ela, que já ganhou vários retratos feitos pelo filho em datas comemorativas.

Ela foi uma das responsáveis pela entrada dele no SENAI. “Moramos perto da unidade e nossa intenção era colocá-lo na instituição para fazer o ensino médio, mas não foi possível. Mesmo assim, continuei atenta às vagas de cursos oferecidos lá pelos veículos de comunicação como sites locais e jornais, pois sabia que poderiam ser úteis”, conta Janis.

Caio (sentado à mesa) após fazer o desenho da mãe, colado na parede, em comemoração ao aniversário dela

E foram! Aos 15 anos, Caio entrou no primeiro curso de aprendizagem industrial em Confecção de Moldes e Roupas e, apesar de enfrentar dificuldades na adaptação, seguiu adiante. “Fui o primeiro aluno surdo e, na época, não tinha intérprete na sala de aula. Sou surdo e oralizado, faço leitura labial e me comunico muito bem com pessoas ouvintes. Fomos nos adaptando bem”, conta Caio.

A orientadora pedagógica e interlocutora do Programa de Ações Inclusivas do SENAI de Jaraguá do Sul, Fernanda Vitkoski, garante que o catarinense sempre demonstrou bastante atenção e comprometimento. Ele foi uma peça-chave para mudanças na escola.

“Não estávamos preparados quando Caio chegou. No segundo curso que ele fez, de Modelagem Industrial, já tínhamos uma intérprete para auxiliá-lo e eles até combinavam sinais para simplificar os termos técnicos. A experiência com ele nos abriu muitas portas. Depois, recebemos outros alunos com deficiência”, explica a Orientadora Pedagógica.

E ELE? – Segundo o último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, 5,1% da população brasileira têm algum tipo de dificuldade para ouvir. E apesar dessa quantidade, poucas pessoas têm acesso à educação com inclusão e ao mercado de trabalho.

Depois dos cursos no SENAI, Caio fez também faculdade de Moda no Centro Universitário Católica de Santa Catarina (SC) e reconhece a importância dos estudos na busca pelo que deseja.

“Para construir uma carreira de sucesso e um futuro, só temos um caminho: o estudo. Foi pensando nisso que tive força e garra para não desistir, apesar de, em muitos momentos, não ter sido fácil. Eu me especializei em algo que está no sangue: moda”, afirma o catarinense.

Atualmente, ele também é ator e modelo fotográfico. Mostrar para os outros as inúmeras possibilidade de socialização que uma pessoa surda tem é um dos planos dele para o futuro. Caio sonha em participar do reality show da TV Globo, Big Brother Brasil.

Desenho feito por Caio na faculdade de Moda

“Poderia ensinar Libras para os outros participantes. Eu quero mostrar inclusão. Mostrar para a comunidade surda que se tentarmos, conseguimos. Quero diminuir o preconceito”, explica o estilista, que utilizaria o prêmio para ajudar os familiares, viajar o mundo em pesquisa sobre o mercado da moda e depois abrir uma loja de roupas em Santa Catarina.

INCLUSÃO - Um levantamento realizado pelo SENAI mostra que de 2007 até os dias atuais, cerca de 209 mil pessoas com alguma deficiência foram matriculadas no SENAI, aproximadamente 14 mil por ano. Ações como desenhos na parede mostrando ao surdo o passo a passo de um processo de desmonte de motor de um carro e o rebaixamento de mesas de costura para pessoas com nanismo, ajudaram a incluir na escola e no mercado pessoas que nunca tiveram a oportunidade de estudar. 

"Trabalhamos com a ideia da construção de uma cultura inclusiva na escola e na indústria. Seguimos as orientações legais e tomamos a decisão de transformar o SENAI em uma escola para todos, sem distinção ou exceção", afirma a gestora nacional do Programa SENAI  de Ações Inclusivas (PSAI), Adriana Barufaldi.

Para promover a inclusão cada dia mais, o SENAI criou há pouco tempo um aplicativo que traduz e interpreta diversos termos da educação profissional, dando ao aluno a oportunidade de estudar mesmo sem a presença do intérprete. O SENAI Libras. Ele já está disponível para Android e até o fim de 2019, também estará para o sistema operacional iOS. Saiba mais

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