Hamilton da favela: da periferia de São Paulo para as pistas de corrida

Ex-aluno do SESI e estudante do curso técnico de mecânica automotiva no SENAI, Wallace Martins começou a competir profissionalmente com 12 anos

Wallace Martins vibra com a vitória em Interlagos pelo Campeonato Paulista de FVee.

Foi em uma corrida da Fórmula Vee em que largou na última posição e chegou em primeiro lugar que Wallace Luiz Martins ganhou dos colegas o apelido de Hamilton da Favela. A comparação com o primeiro piloto negro da história da Fórmula 1, sete vezes campeão mundial, não é um peso. Pelo contrário, o jovem leva na brincadeira, ri e desconversa, sem esconder o orgulho de ter seu nome associado a quem já é parte da história do automobilismo.

Na versão brasileira, a trajetória do menino pobre que logo cedo demonstra uma paixão pelos carros e, ao se profissionalizar, engata uma sucessão de vitórias que o colocam como “promessa”, se passa na periferia de São Paulo. Especificamente, em Brasilândia e Cachoeirinha, distritos localizados na Zona Norte da capital paulista.


“Descobri o automobilismo com 10, 11 anos. Comecei brincando em kart de shopping. Fui amador, aí me convidaram para o profissional, fiz o teste, me profissionalizei com 12 anos. Comecei a competir nos estaduais do Rio de Janeiro e São Paulo, entrei pra Fórmula Vee e hoje estou na Delta”, lembra Wallace, 18 anos.


Dedicação aos carros nas pistas e nos estudos

Wallace Martins vence a última prova em Interlagos e confirma o título na FVee Júnior.

O terceiro filho da condutora de transporte escolar Maria Helena Uva Martins e do eletricista Anderson José Martins estudou, desde o 1º ano do ensino fundamental, no SESI de Lauzane Paulista (CE 388), de onde guarda boas lembranças e agradecimentos.

“Era bem difícil conciliar, precisei viajar para competir várias vezes, mas tinha apoio dos professores, que me dispensavam e davam a prova depois. E eles tinham o trabalho dobrado, porque ainda precisavam repassar a matéria pra mim”, conta.

Assim que concluiu o ensino médio, em dezembro do ano passado, Wallace emendou o curso técnico de mecânica automotiva no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). O conhecimento teórico e prático da parte elétrica e física dos carros vai ajudar não só na profissão de piloto, mas também em uma futura graduação em engenharia mecânica.

Parar de estudar não está nos planos. Pelo contrário, é enriquecendo o currículo - incluindo o inglês, curso que ele faz com uma bolsa -, que o já vencedor das pistas pretende se destacar entre tantos competidores e conseguir o patrocínio e a carta convite para ir para fora e quem sabe um dia chegar à Fórmula 1.

Até percorrer esse longo caminho, ele prefere manter o foco nos compromissos e nas conquistas de agora. A rotina, assim como a articulação e a visão para falar da carreira, não é comum a de um adolescente de 18 anos. Questionado sobre quantas horas da semana ele se dedica à Delta, categoria pela qual começou a competir em junho, no meio da temporada, o jovem não sabe responder.

Com a pandemia, o curso técnico está no formato híbrido, sendo três dias na semana presencial. Depois do almoço, há os treinos na pista e na academia. Ele explica que é preciso um bom físico para aguentar os 40 minutos de corrida. Sem contar o trabalho de divulgação e de busca por patrocínio.

Trajetória meteórica

Wallace Martins com o troféu de campeão paulista da FVee Júnior 2020.

Em sua estreia como piloto de kart amador, em 2015, Wallace ficou em segundo lugar. Na primeira vez no kartódromo de Interlagos, foi o campeão entre 40 inscritos. No estadual do RJ, segundo lugar. Até quando competia com adultos e não conseguia participar de todas as etapas, garantia um lugar no pódio.

Uma nova fase começou em 2017, quando ele passou a treinar com a equipe MZ Racing, de um veterano do automobilismo, Nelsinho Piquet. No ano seguinte, entrou de vez na Fórmula Vee, categoria criada nos anos 1960 pelos irmãos Fittipaldi com um custo menor para quem compete e tem que bancar as despesas com macacão, combustível, aluguel do carro e outros equipamentos.

Em 2019, no seu primeiro campeonato paulista de Fórmula Vee, foi vice-campeão da categoria Júnior. Em 2020, ganhou de vez os holofotes com o título de campeão paulista Júnior e o 4º lugar Geral, em uma recuperação que surpreendeu a todos.

Para 2021, ele tem um novo desafio. “Ainda estou me aperfeiçoando na Fórmula Delta. O carro é diferente, tem asa, aerofólio, é quase um carro de Fórmula 1, mais fraco”. Apesar desse período de adaptação, a meta é uma só: ganhar sempre.

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