Empresário cria pneus que não furam a partir de sobras de borracha

Neto Porto pretende vender 2,2 milhões de unidades em três anos e contratar 50 novos funcionários. Ele também produz piso especial e manta para isolamento acústico com produtos descartados das indústrias

Se sobrar, o empresário Neto Porto recicla. Esse é o seu lema. A partir dos restos de borrachas de indústrias em Campina Grande, na Paraíba, ele produz manta para isolamento acústico, piso especial de borracha expandido e sua mais recente invenção: pneus de carrinho de mão que não furam. Eles não furam e duram três vezes mais do que os pneus convencionais. 

Neto vulcaniza a borracha, combina com enxofre para dar mais força, elasticidade e resistência, mas o processo completo de produção está protegido pela patente. Neste ano, Neto vai vender 250 mil unidades. A meta é colocar no mercado pelo menos 2,2 milhões nos próximo três anos. “Já estamos em negociações com os dois maiores fabricantes de carro de mão do Brasil, que unidos produzem quase 2 milhões por ano”, afirma o empresário.

Para o novo produto, Neto Porto, 42 anos, vai contratar outros 50 funcionários. Eles vão se juntar aos 108 empregados que empresário mantém na RHPE Indústria de Artefatos de Borracha. A sua especialidade é logística reversa. Ele cresceu dentro da indústria, vendo seu pai Rosiélio Gomes Porto fabricar, na Cotecil, equipamentos de segurança industrial (EPIs). Dali, nasceu o gosto pela inovação. “Tenho seis patentes”, comemora. 
 

O projeto foi desenvolvido pelo empresário da RHPE Indústria de Artefatos de Borracha Eireli e Grupo Force em parceria com o SENAI Paraíba. O “Pneumacio” foi trabalhado com o apoio das equipes do Centro de Inovação e Tecnologia Industrial – CITI, Instituto SENAI de Tecnologia do Couro e Calçado e Laboratório Aberto. Um trabalho que exigiu a fabricação de equipamentos para um produto que ainda não existia.  

“Em 2016, eu descobri o Edital de Inovação para a Indústria do SENAI/SESI/Sebrae. Fui aprovado e abraçado”, lembra Neto Porto.

“Desenvolvemos do zero até produto final. Foi desde a modelagem, criação do design, validação e até a fabricação de equipamentos destinados a confecção desse produto, já que era algo que não existia no mercado. Tivemos que pensar e projetar esse produto”, revela Leonel França Bezerra, supervisor de área do SENAI-PB.
 

Pneumacio foi desenvolvido desde o início pelo SENAI Paraíba

SENAI, segunda casa – Desde 2017, Neto acompanha a evolução do produto, que agora está em fase final de acertos no design. Passou a frequentar diariamente o SENAI e viu os técnicos cuidarem de sua ideia como se fosse deles. “É impressionante. Eles criaram equipamentos específicos para testes do pneu de carga, vulcanização, rodagem, torção de eixo. Desenvolveram protótipos incríveis para o desenvolvimento em laboratório. Nos últimos dois anos, digo que o SENAIi virou a minha segunda casa”.

O pneu que Neto desenvolveu dura três vezes mais que um comum. Além disso, dá um fim ecológico a uma matéria-prima antes considerada um resíduo sólido. “A gente quer dar um acabamento melhor. Os estudos de design estão avançados. Quero fornecer tanto para fabricantes, quanto para o varejo de lojas de construção”, planeja o empresário.

Neto percebeu muito cedo que, sem pesquisa, o seu ramo industrial está fadado a ser sucumbido pela concorrência do mercado internacional, sobretudo dos chineses. “O mercado foi ocupado por eles, são mais produtivos. Precisamos vencer com a qualidade e a inovação”. A RHPE coloca no mercado um pneu de alta durabilidade, ecologicamente correto, que permite ao operador um menor esforço de manuseio e com um preço menor que o líder de mercado (o pneu de câmara de ar).

O sentimento do empresário é de orgulho e gratidão após ver seu projeto testado e pronto para seguir para o mercado. “É como montar um quebra-cabeça; no início, era um monte de peças espalhadas e se juntaram várias pessoas para encaixar tudo aquilo. Nós, de Campina Grande, temos potencial de criar, fazer e implantar tecnologia para chegar longe. O maior legado do projeto é despertar esse valor que cada um tem”, ressalta Neto Porto.

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