O pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) afirmou que sem uma indústria de transformação forte, que é a base da passagem do Brasil para a economia do conhecimento, não existe desenvolvimento. “Sem uma indústria poderosa, que lidere o centro da estratégia de desenvolvimento do país, nenhuma nação se desenvolveu”, afirmou. A premissa do seu projeto de desenvolvimento tem três passos. Primeiro, aumentar o nível de formação bruta de capital dos atuais 15% para 22%. Segundo, recriar o Ministério de Indústria e Comércio e assinar um pacto de cooperação entre governo e setor privado para hierarquizar o que precisa ser feito em tempos de escassez de dinheiro público. Por fim, ampliar o investimento em educação básica e superior e em ciência, tecnologia e inovação. O pré-candidato defendeu, ainda, o fim da reeleição.
O ex-governador participou nesta quarta-feira (29) do Diálogo da Indústria com os Pré-Candidatos à Presidência da República para as eleições de 2022, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Confira destaques das propostas de Ciro Gomes
Política industrial e de comércio exterior
Uma nova política industrial e de comércio exterior é um elemento central do projeto do governo de Ciro Gomes. Segundo ele, falta planejamento ao Brasil. “Estamos em um cenário internacional extremamente complexo, na emergência da nova ordem mundial, e o Brasil não sabe para onde ir”, afirma. Segundo ele, o Brasil vem perdendo espaço no comércio internacional de manufaturados. "O Brasil dominava 60% do mercado de calçados na Europa e hoje ocupa 25% e, corre o risco de perder esse espaço para a China", exemplificou. Ele defendeu a criação de estratégias para recuperar a participação da indústria na pauta de comércio exterior pois, segundo ele, é impossível manter a atual assimetria de que “quando as commodities vão bem ganha-se, quando a commodities vão mal, perde-se”.
Financiamento
Ciro Gomes afirma que, quando o Brasil cresce, 60% do PIB vêm do consumo das famílias, que é estimulado pelo emprego e pela renda. No entanto, quando há não emprego e a população está endividada, o crédito é capaz de estimular esse consumo. Diante disso, ele defendeu um projeto de renegociação de dívidas para reduzir radicalmente o total de brasileiros inscritos no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Atualmente, são 65 milhões de pessoas com o nome sujo. Além disso, pretende implementar um fundo de renegociação de dívida empresarial. Para isso, a sua proposta é recapitalizar o BNDES. “No meu programa de governo, indico a fonte de todos os recursos. Sou o único candidato a fazer isso”, diz.
Infraestrutura e emprego
O pré-candidato pelo PDT fez críticas à infraestrutura do país e afirmou que a construção civil é essencial para expandir o emprego. “O Brasil tem hoje 14 mil obras públicas iniciadas e paralisadas. São obras que passaram pelo processo de licitação e de licença ambiental, que temos que simplificar, e que podem gerar imediatamente emprego”, explica. Ele avalia que essas obras têm um retorno em curto prazo. “A Transnordestina, quando estávamos avançando um quilômetro por dia, ela empregava 3 mil pessoas. Quando essa ferrovia estiver pronta e conectar esse fundão da produção com o Porto de Pecém e com o Porto de Suape, vamos explodir em riqueza e potencial”, avaliou.
Macroeconomia: câmbio, juros e equilíbrio fiscal
Na avaliação do pré-candidato, o Brasil está na iminência da falta de liquidez, por estar próximo de uma relação dívida-PIB de 100%. Diante disso, Ciro afirma que o equilíbrio fiscal será prioridade em seu governo, embora defenda o fim do teto de gastos. “O Ceará, meu estado, não fala em desequilíbrio fiscal há 30 anos. Eu fui no mercado e comprei 100% da dívida imobiliária com 20 anos de antecedência, porque o Ceará comigo tinha 36% de receita líquida para investir, pela excelência do meu antecessor Tasso Jereissati, que fez o que precisava fazer”, afirma. Ciro Gomes também criticou a alta de juros. Ele lembra que, na última lista divulgada dos 10 bancos mais rentáveis do mundo, quatro eram brasileiros. “Cada 1,5% de aumento na Selic custa R$ 60 bilhões de dívida. Como é possível ter mais rentabilidade comprando dívida do governo do que em um empreendimento produtivo?”, questionou. Ele também considera o câmbio flutuante um câmbio manipulado.
Educação
"Nós não vamos a lugar nenhum com metade da escolarização da Argentina. A Colômbia dá 42 vagas para cada grupo de 100 jovens de 18 a 25 anos. O Brasil dá 18 vagas em universidades que não preparam para o mundo do trabalho”, disse Gomes, que trouxe a referência da qualidade do ensino público no Ceará como uma conquista a ser espelhada para todo o Brasil. Segundo ele, 60% dos jovens do Ensino Médio cumprem turno integral e o percentual deve subir para 100% em 2024 no estado nordestino, que tem o melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do Brasil. “Investimos na qualificação do magistério, transformamos a carreira do professor em carreira do Estado. Fizemos uma modificação pedagógica para que o jovem aprenda a perguntar, em vez de só responder. Também investimos no ensino do empreendedorismo. Os jovens do Ensino Técnico saem com estágio remunerado ou prontos para empreender, se quiserem. Se tiver um centavo para gastar, esse real será gasto com educação, para preparo do jovem para a economia do conhecimento”, declarou.
Reforma tributária
Ciro Gomes criticou o sistema tributário atual e defendeu um único imposto, o Imposto de Valor Agregado (IVA), em substituição os tributos federais e estaduais. Segundo ele, a reforma tributária é essencial para mudar a dinâmica do mercado de trabalho, que, hoje, segundo dados do pré-candidato, tem mais de 50% das pessoas atuando na informalidade. “É um tragédia o compliance do sistema tributário brasileiro”, afirma.
Reveja a fala de Ciro Gomes